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Guillermo Del Toro guia uma nova geração de cineastas com Mama

Roberto Sadovski

08/04/2013 06h19

Guillermo Del Toro gosta de monstros. E não só as criaturas "lovecraftianas" que infestam seus dois Hellboy: manifestações mais humanas, ainda que não menos assustadoras, enfeitam seus trabalhos – como diretor e, principalmente, como produtor. Para Del Toro, ao que parece, o mundo fica mais bacana quando criaturas arrancadas de algum pesadelo materializam-se para aterrorizar os vivos. É como mestre de cerimônias e mentor orgulhoso que o cineasta emprestou seu nome e prestígio para Mama, terrorzão classudo em cartaz no Brasil. O filme, que traz os irmãos Andrés e Barbara Muschietti no comando, surgiu em 2008 como um curta extremamente engenhoso que chamou a atenção de Del Toro. Ao ampliar o fiapo de história para uma trama de vingança, culpa e maldição, os Muschietti adicionaram o pedigree de Jessica Chastain no elenco e capricharam nos efeitos de novíssima geração. Se o terceiro ato carece de um texto melhor elaborado, os sustos e, principalmente, a adição de uma nova criatura à longa galeria de aparições imortalizadas pelo cinema, fazem de Mama um terror acima da média. Ponto para Del Toro.

Mama

Mama tem um jeito curioso para demonstrar seu amor pelas criancinhas

Curiosamente, o diretor mexicano, responsável por O Labirinto do Fauno, uma das mais belas fábulas do cinema moderno, não dá seu ok apenas a aparições monstruosas. Como produtor executivo das mais recentes animações da DreamWorks, Del Toro ajudou a lapidar o visual de criaturas fantásticas de Kung Fu Panda 2, Gato de Botas e A Origem dos Guardiões. Pode parecer que seu trabalho é só sacar os gordos cheques que pingam em sua conta, mas o que move o cineasta é paixão. Em 2006 eu estava em San Diego jantando com Guillermo, mais Frank Darabont, Gale Ann Hurd e Mike Mignola, e toda conversa girou em torno da paixão de Del Toro pelas criaturas concebidas por Mignola (criador de Hellboy) e como esse trabalho havia alavancado o filme que se tornou O Labirinto do Fauno. Darabont e Hurd prestavam muita atenção – alguns anos depois se uniriam ao quadrinista Robert Kirkman para transformar seu The Walking Dead em uma série de TV.

Geralmente, o cinema de gênero tem paixão como principal combustível. Sam Raimi começou sua carreira de forma absolutamente tosca e original com The Evil Dead, ao lado dos parceiros no crime Robert Tapert e Bruce Campbell. É Raimi, ao lado dos amigos, quem assina a produção da refilmagem de seu clássico que chega aos cinemas dia 19 de abril, batizado mais uma vez A Morte do Demônio, pelas mãos do estreante Fede Alvarez. Foi Raimi quem bancou a versão ianque do terrorzaço japonês O Grito em 2004, e a adaptação dos quadrinhos 30 Dias de Noite para o cinema em 2007. Wes Craven, que também começou no esquema faça-você-mesmo, não se furtou em ver seus clássicos refeitos por novatos: Alejandre Aja, que fez Viagem Maldita (ou Quadrilha de Sádicos no original dos anos 70) em 2006; e Dennis Iliadis, responsável pela versão de A Última Casa de 2009. Del Toro e Raimi se tornaram diretores de primeiríssima linha em Hollywood (o primeiro tem Círculo de Fogo estreando em agosto; o segundo é responsável por Oz: Mágico e Poderoso, maior bilheteria de 2013 até agora). Mas continuam com um pé no cinema artesanal do qual são cria – talvez lidar com cinema em estado bruto deixe suas mentes arejadas antes de lidar com a pressão de comandar produções de centenas de milhões de dólares.

pacific rim monstro

Os monstros de Pacific Rim, ou Círculo de Fogo, são 100 por cento Del Toro

Há quem diga que o Brasil não tenha filmes de terror. Ou que as produções "que valem" estão atreladas aos caciques de sempre. Bobagem. Talvez ainda não tenha surgido um Guillermo Del Toro ou um Sam Raimi para dar segurança a novos cineastas que abraçam o gênero, mas nossa produção está longe de ser estagnada. Que o diga Rodrigo Aragão, mestre do cinema de guerrilha por aqui, que traz dois filmes do gênero no currículo – Mangue Negro e A Noite do Chupacabras – e finaliza por estes dias seu "épico", Mar Negro. Assim que o primeiro trailer estiver em mãos, coloco aqui para você dar uma espiada. Enquanto isso, Mama é programão para quem gosta de sustos no escuro, e A Morte do Demônio, que estreou nos cinemas ianques com excelentes 27 milhões de dólares em caixa, chega já já.

 

Sobre o autor

Roberto Sadovski é jornalista e crítico de cinema. Por mais de uma década, comandou a revista sobre cinema "SET". Colaborou com a revista inglesa "Empire", além das nacionais "Playboy", "GQ", "Monet", "VIP", "BillBoard", "Lola" e "Contigo". Também dirigiu a redação da revista "Sexy" e escreveu o eBook "Cem Filmes Para Ver e Rever... Sempre".

Sobre o blog

Cinema, entretenimento, cultura pop e bom humor dão o tom deste blog, que traz lançamentos, entrevistas e notícias sob um ponto de vista muito particular.