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Brad Pitt enfrenta zumbis em uma produção complicada

Roberto Sadovski

06/05/2013 16h20

brad pitt em guerra mundial z

Brad Pitt em meio ao caos de Guerra Mundial Z

O mundo de Brad Pitt está um caos. E não só nas telas, onde ele enfrenta zumbis hiperativos na ficção científica Guerra Mundial Z, que estréia por aqui em 28 de junho. Nos bastidores, Pitt, que também é produtor do filme, teve de lidar com uma produção caótica, de orçamento disparado, filmagens interrompidas e um gigantismo épico com o qual o diretor Marc Forster (007 – Quantum of Solace) talvez não estivesse preparado para lidar.

O blog assistiu a quinze minutos do filme apresentados por Forster (que ressaltou que o som e alguns efeitos eram temporários) e resume Guerra Mundial Z em uma palavra: tensão. A verdade é que problemas nos bastidores podem influenciar para os dois lados em um filme. A Ilha da Garganta Cortada, por exemplo, teve uma produção coalhada de dificuldades, com roteiro sendo reescrito no set e o protagonista saindo fora poucas semanas antes de o filme começar a ser rodado (Michael Douglas saiu fora; Matthew Modine tomou seu lugar). O resultado foi tão catastrófico que o estúdio que o produziu, Carolco, faliu. Já Titanic também sofreu com intempéries, atrasos no lançamento, a conta dividida entre dois estúdios quando o orçamento estourou, e os trombeteiros do apocalipse duvidando que James Cameron, que só fazia filme de macho, pudesse contar uma história de amor. Titanic ainda é a segunda maior bilheteria de todos os tempos.

zumbis atacam

Os zumbis fazem sua muralha humana em Guerra Mundial Z

Guerra Mundial Z teve um começo ainda mais complicado, a começar por sua fonte, o livro escrito por Max Brooks. Fugindo de uma narrativa tradicional, o livro junta diversas crônicas dos sobreviventes de um apocalipse zumbi que dizimou parte da humanidade. São relatos que traçam o panorama de um conflito de uma década, do ponto de vista de várias pessoas em vários países. Ou seja, um desastre narrativo para ser traduzido para o cinema. Pitt adquiriu os direitos em 2007, já com Forster em mente para comandar o filme. Orçamento no lugar, roteiro escrito: a versão de Matthew Michael Carnahan manteve a premissa do livro mas concentrou a narrativa em Gerry Lane (Pitt), funcionário das Nações Unidas que, em meio ao caos do ataque dos zumbis, deixa sua família em (suposta) segurança e corre o mundo atrás de uma cura para a pandemia.

A produção, já na casa dos 150 milhões de dólares, bateu numa barreira depois de a equipe passar semanas filmando o terceiro ato do filme em Budapeste. Quando Pitt, Forster e o estúdio viram o material, eles decidiram que simplesmente Guerra Mundial Z não tinha um final. Todo o material foi descartado; equipes que trabalhavam nos efeitos especiais, dispensadas – e o lançamento foi adiado em mais de seis meses. Damon Lindelof (roteirista de Lost) reescreveu todo o clímax, que depois teve mais um polimento por Drew Goddard (Cloverfield). Pitt recentemente foi a público para jogar panos quentes na situação, explicando que às vezes, em um filme deste tamanho, ajustes são necessários. E reiterou o respeito por Forster e sua habilidade em manter a produção unida até o fim.

Embora seja difícil julgar como Guerra Mundial Z será quando completo, as imagens apresentadas impressionam. Basicamente foram mostradas três cenas para dar idéia da escala épica do filme, da tensão constante em que o mundo é jogado e, principalmente, a natureza dos zumbis. A primeira começa com Pitt e sua família no carro, em meio a um engarrafamento na Filadélfia. Explosões logo transformam a paz em caos, e centenas de pessoas são mostradas correndo pelas ruas – um olhar atento revela que elas são perseguidas por outras, estas quase em torpor animal. A segunda cena já dá um salto para o outro lado do globo, com refugiados em Jerusalém, protegidos por uma muralha imensa que mantém os zumbis em frenesi do outro lado. Mas, como um enxame, as criaturas conseguem escalar o muro e atacar os refugiados do outro lado – tudo muito frenético e muito violento. A terceira cena é a mais improvável e apavorante: o que fazer quando zumbis tomam o avião em que você está viajando com outros fugitivos. Uma dica: não é nada bonito.

marc e brad

O diretor Marc Forster bate papo com Brad Pitt nas filmagens de Guerra Mundial Z

A demora para Guerra Mundial Z se concretizar também se deu pela indecisão em como retratar os zumbis. Na literatura e no cinema fantástico, já vimos desde os mortos-vivos que caminham lentamente, como se o rigor mortis tivesse instaurado em seus corpos (A Noite dos Mortos-Vivos, a série The Walking Dead), até os acelerados, alimentados por um desejo assassino que os transforma em feras aceleradas (Extermínio, de Danny Boyle, começou essa tendência, seguida por Madrugada dos Mortos). Em Guerra Mundial Z os desmortos (ou quase isso, já que sua transformação parece resultado de um vírus, não exatamente de eles estarem mortos) parecem mesmo um enxame, uma massa amorfa de gente que toma as ruas como se um rio gelatinoso transbordasse e cobrisse tudo no caminho.

Apesar de todos os problemas nos bastidores, é o que transparece em frente às câmeras que importa. Brad Pitt já provou ser um produtor inteligente (eclético, ele assina filmes tão diversos como Os Infiltrados, Kick Ass, Comer Beber Viver e O Homem Que Mudou o Jogo) e apostou alto em Guerra Mundial Z. Como é um dos poucos astros de cinema de apelo mundial, seguiu os colegas Tom Cruise, George Clooney e Will Smith que abraçaram a ficção científica este ano e apostou alto no gênero, com uma pitada de terror. E, acima de tudo, traz potencial para novas histórias ambientadas neste mundo, já que a ameaça é constante. Ante o fim do mundo, Pitt não é a pior companhia.

Sobre o autor

Roberto Sadovski é jornalista e crítico de cinema. Por mais de uma década, comandou a revista sobre cinema "SET". Colaborou com a revista inglesa "Empire", além das nacionais "Playboy", "GQ", "Monet", "VIP", "BillBoard", "Lola" e "Contigo". Também dirigiu a redação da revista "Sexy" e escreveu o eBook "Cem Filmes Para Ver e Rever... Sempre".

Sobre o blog

Cinema, entretenimento, cultura pop e bom humor dão o tom deste blog, que traz lançamentos, entrevistas e notícias sob um ponto de vista muito particular.