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“Pais e Filhos”, da Legião Urbana, vira curta filmado por brasileiro em Los Angeles

Roberto Sadovski

31/05/2013 07h12

A letra é familiar. "Por que o céu é azul?"  "Explica a grande fúria do mundo." "Ela se jogou da janela do quinto andar, nada é fácil de entender." É de "Pais e Filhos", canção que a Legião Urbana incluiu no álbum As Quatro Estações, de 1989. Thales Corrêa era muito mais novo de uma geração que cresceu ao som da banda de Renato Russo, e por isso o grupo de Brasília não teve impacto em sua adolescência. Mas música é uma coisa engraçada, e ano passado, de férias em sua cidade natal, a mineira Campo Belo, ele estava num bar quando a banda cover que se apresentava foi de "Pais e Filhos". E a coisa clicou.

"Parece mentira, mas foi absoluta coincidência", conta Thales, que estuda cinema em Los Angeles. "Eu queria filmar meu primeiro curta, queria que fosse um drama e queria que o visual fosse muito estilizado. Ouvir 'Pais e Filhos' e bolar uma história em cima da letra foi acidental." Mais coincidência ainda foi seu trabalho ganhar destaque justamente quando a Legião Urbana passa por uma expécie de renascimento nos cinemas. Há pouco mais de um mês, a biografia de Renato Russo, Somos Tão Jovens, reintroduziu a "mitologia" da banda para uma novíssima geração – o filme já soma mais de 1 milhão e meio de público, um sucesso mesmo colado na estréia de Homem de Ferro 3. Hoje é a vez de Faroeste Caboclo, western tupiniquim inspirado na ode de quase 10 minutos que a Legião colocou em seu terceiro disco, Que País É Este?, de 1987.

"Eu sabia de Faroeste Caboclo", explica o jovem cineasta. "Somos Tão Jovens eu descobri quando li as notícias sobre sua estréia no Brasil." Enquanto os cinemas brasileiros experimenta uma overdose de Legião, Thales foi mostrar seu trabalho do outro lado do Atlântico, colocando Pais e Filhos à disposição no Short Film Corner do Festival de Cannes. Foi quando parte da imprensa cinematográfica brasileira apontou a coincidência e o curta ganhou um bem vindo destaque. O que pode causar estranheza a decisão do diretor em disponibilizar seu trabalho na Internet com um link pago.

Ludmila Dayer e Coco Joelle Williams no set de Pais e Filhos

"É como ver a capa de um livro e depois comprar", compara a atriz Ludmila Dayer, também radicada em Los Angeles, que é a única brasileira no elenco de Pais e Filhos. "O valor é simbólico", explica Thales. "Menos de 4 reais, mas é uma forma de valorizar o trabalho. Eu quero que muita gente veja o filme, mas quero que o procurem por paixão e vontade, não por Legião Urbana estar de novo na moda. Com o tempo eu posso disponibilizar de graça na internet. Mas não agora." O curta, filmado em Los Angeles e falado em inglês, custou cerca de 30 mil dólares (entre aluguel de equipamento, locação e equipe) e transforma a letra da canção em um roteiro melancólico sobre uma pré-adolescente que sofre bullying e não consegue expressar sua solidão em casa, com seus pais em meio a uma separação dolorosa.

"Eu sou fã de filmes com visual super estilizado, como 300 e Sin City", explica o diretor. "Mas queria ver aquele estilo em um drama, em uma história menos fantasiosa." Pais e Filhos é falado em inglês por um motivo muito simples: seu alvo é o mercado americano. "Depois de Cannes estou correndo o circuito de festivais de curtas aqui nos Estados Unidos", continua Thales. "Minha formação é aqui em Los Angeles, minha vida é aqui. Então a intenção não é fazer algo com jeito brasileiro. Pais e Filhos é como um cartão de visitas, dar uma referência do meu trabalho."

O diretor Thales Corrêa em Cannes

"O Thales é um dos poucos amigos brasileiro que eu tenho em Los Angeles", diz Ludmila Dayer, que começou sua carreira aos 10 anos de idade justamente no filme que marcou a retomada da produção nacional após o fim da Embrafilme: Carlota Joakina – Princesa do Brasil, de Carla Camurati. "Trabalhar com um amigo é engraçado", continua. "A gente discutia algumas cenas em inglês e logo depois percebíamos que o natural seria a gente falar português." Trocar o Brasil por Los Angeles foi uma decisão radical da atriz, que na época experimentava o sucesso na TV com seu trabalho na novela Senhora do Destino, da Globo.

"Eu queria sair de minha zona de conforto, queria aprender mais e me desenvolver como atriz", continua. "Quando cheguei em Los Angeles cinco anos atrás eu não conhecia ninguém, não dominava a língua. Mas trabalhava desde os 10 anos e o público só conhecia o que eu fazia quando estava em novela. Para um ator que se preocupa com coisas além de imagem e beleza isso é frustrante." Quando eu pergunto se ela sabe que seu colega de Senhora do Destino, José Wilker, transformou um dos personagens em filme, a resposta vem rápido: "Nem estava sabendo que Giovanni Improtta tinha sido filmado, só descobri quando recebi emails de fãs dizendo que sentiram minha falta no filme".

Para assistir a Pais e Filhos, basta seguir este link aqui. O trailer você confere aí embaixo.

Sobre o autor

Roberto Sadovski é jornalista e crítico de cinema. Por mais de uma década, comandou a revista sobre cinema "SET". Colaborou com a revista inglesa "Empire", além das nacionais "Playboy", "GQ", "Monet", "VIP", "BillBoard", "Lola" e "Contigo". Também dirigiu a redação da revista "Sexy" e escreveu o eBook "Cem Filmes Para Ver e Rever... Sempre".

Sobre o blog

Cinema, entretenimento, cultura pop e bom humor dão o tom deste blog, que traz lançamentos, entrevistas e notícias sob um ponto de vista muito particular.