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Bling Ring e a farsa chamada Sofia Coppola

Roberto Sadovski

20/08/2013 23h33

 

Bling Ring – A Gangue de Hollywood é um filme interminável. Pior: um filme interminável onde absolutamente nada acontece. A boa premissa abre espaço para uma discussão pontual e relevante sobre a influência da cultura das celebridades em uma geração que carece de, na falta de uma expressão melhor, "bons exemplos". O ponto de partido é o artigo que Nancy Jo Sales escreveu para a Vanity Fair em 2010 sobre adolescentes que, entediados/fascinados/problemáticos, invadiram casas de várias celebridades – entre elas Paris Hilton e Lindsay Lohan. Entre agorto de 2008 e outubro de 2009, o grupo roubou cerca de 3 milhões de dólares em roupas, jóias e outras traquitanas. A vida de cada um é um emaranhado fascinante de futilidade com a cultura do "eu posso, eu faço", inconsequente e arrogante. Suas aspirações e vontades são uma mistura de síndrome de Robin Hood com reality show. Em Los Angeles, mais do que nenhum outro lugar do planeta, deve ser dureza crescer cercado de holofotes – e nunca estar sob eles.

O que nos leva a Sofia Coppola. Filha de um dos maiores cineastas da história, ela seguiu a carreira do pai, mas a cada novo filme mostra que o talento não é de sangue. Sob sua direção, Bling Ring deixa de lado toda e qualquer discussão sobre motivos e consequências da ação daquele grupo de jovens – que roubavam, vangloriavam-se e, por um momento, sentiam-se eles próprios como celebridades. Como filme, não passa de um fetiche. O elenco, que inclui Emma Watson e Taissa Farmiga, é uniformemente péssimo. Sofia está mais preocupada em mostrar a molecada invadindo casas alheias do que em entender o que está acontecendo. E tome mais um assalto, seguido de mais comentários entediados dos pequenos meliantes, fotos no facebook, outro assalto, noitadas em clubes movimentados, roupas, sapatos e um imenso vazio de idéias. É a vida em Los Angeles, é algo que a diretora conhece com a palma da mão. E parece também ser o único universo sobre o qual ela parece querer dizer alguma coisa.

Sofia Coppola, diretora e gata.

Sua estreia como diretora, As Virgens Suicidas, de 1999, apontava um outro caminho. Com delicadeza ao tratar de um filme tão denso, Sofia Coppola ganhou simpatia imediata e acertou em cheio com seu segundo filme, o emblemático Encontros e Desencontros, de 2003. Uma fantasia autobiográfica, o filme retrata a amizade de um ator no entardecer de sua carreira, no Japão para gravar um comercial. Lá ele se torna amigo e confidente da jovem esposa de um fotógrafo que não lhe dá a menor atenção. A dupla inusitada, mais e mais próxima ante o impacto de enfrentar uma cultura tão diferente e tão peculiar quanto a japonesa, tornou-se o retrato do choque de gerações do novo milênio – nunca antes Bill Murray foi tão cool, nunca antes Scarlet Johannson surgiu tão bela, frágil e sedutora.

Encontros e Desencontros ainda é seu melhor filme, e também o prelúdio de uma carreira obcecada pela auto referência e pela mesma cultura de celebridades em que ela cresceu. Maria Antonieta, de 2006, trocou a tragédia da rainha da França perante a revolução francesa por um clima histérico e "moderno" que servia para camuflar as deficiências narrativas e as péssimas escolhas em tom e em estilo. Em Algum Lugar, lançado em 2010, basicamente é o mimimi dos endinheirados, com o ator interpretado por Stephen Dorff atravessando uma crise existencial enquanto se hospeda em um dos hotéias mais luxuosos de Los Angeles. Sua "humanização" começa quando ele é obrigado a cuidar da filha de 11 anos (Elle Fanning, a melhor coisa do filme) e, como reza o clichê, amadurece e acorda para a vida. A execução, em ambos os filmes, é monocórdica, pouco atraente. Em todos os casos, é Sofia olhando para o próprio umbigo.

Hermione aproveita a night em Bling Ring…

Nesse prisma, Bling Ring é uma progressão natural. Abordar o mesmo tema, por sinal, não é pecado. Woody Allen, salvo exceções, faz o mesmo filme há anos, e ainda consegue criar algo delicado e divertido como Meia-Noite em Paris. Ora, os Ramones fizeram a mesma música por décadas e sempre foram uma das melhores bandas de rock do mundo! O problema é a repetição sem visão, é insistir num tema sem ter o que acrescentar. E Bling Ring, no fim das contas, vai para a história como o filme que Hermione ganhou um irritante sotaque californiano.

Sobre o autor

Roberto Sadovski é jornalista e crítico de cinema. Por mais de uma década, comandou a revista sobre cinema "SET". Colaborou com a revista inglesa "Empire", além das nacionais "Playboy", "GQ", "Monet", "VIP", "BillBoard", "Lola" e "Contigo". Também dirigiu a redação da revista "Sexy" e escreveu o eBook "Cem Filmes Para Ver e Rever... Sempre".

Sobre o blog

Cinema, entretenimento, cultura pop e bom humor dão o tom deste blog, que traz lançamentos, entrevistas e notícias sob um ponto de vista muito particular.