O verdadeiro Capitão Philips fala sobre a urgência em contar sua história
"Eles sabiam exatamente o que estavam fazendo." O capitão Richard Phillips não mede palavras ao se recordar dos eventos de 8 de abirl de 2009, quando o navio que ele comandava, o Maersk Alabama, foi abordado por quatro piratas somali. Por cinco dias, Phillips permaneceu como refém dos piratas, liderados por Abduwali Muse, que o levaram do navio para um pequeno bote salva-vidas coberto. A ação terminou com Muse preso, seus companheiros mortos por fuzileiros navais e Phillips vivo para contar a história. E ele contou. Primeiro, no livro A Captain's Duty: Somali Pirates, Navy SEALs, and Dangerous Days at Sea; agora, no cinema, com o drama Capitão Phillips, dirigido por Paul Greengrass (Voo United 93, A Supremacia Bourne, O Ultimato Bourne) e com Tom Hanks como protagonista.
"É estranho contar essa história várias e várias vezes", diz Richard Phillips, que bateu um longo papo comigo ao telefone, enquanto estava na Cidade do México divulgando o filme. "Mas é importante que as pessoas saibam o que acontece e como elas acontecem." Phillips é incisivo quando aplaude a ação dos fuzileiros, que terminou com a morte de três piratas. "Eu estava com uma AK-47 apontada para minha cabeça o tempo todo", continua. "Quando eles perceberam que não iam lucrar com o navio, e que tudo que tinham era eu, tomaram o rumo da Somália. Eu não estaria aqui se não fosse a ação dos militares." Eu menciono que agora ele está viajando o mundo inteiro para falar sobre o filme, e Phillips é rápido: "Eu já viajei o mundo inteiro! A diferença é que, das outras vezes, eu estava no comando…".
Curioso é que, agora, um membro da tripulação do Alabama está processando a empresa (e o capitão) por achar que sua vida foi colocada em risco quando Phillips não observou o protocolo e se aproximou demais da costa somali. "É uma bobagem", dispara. "Eu sempre disse, em todas as viagens que fiz naquela região, que uma abordagem por piratas era só questão de tempo, mas aconteceria cedo ou tarde." Relatos de ataques se tornaram mais frequentes, e a falta de ação fortaleceu a ousadia dos piratas. "Eu posso dizer pelo que eu vivi, estes homens, estes garotos, não só sabem exatamente o que estão fazendo como o fazem com a total certeza de impunidade", completa. "Falar sobre o fim do meu sequestro e das consequências para os piratas é importante ao menos para coibir mais ações desse tipo." Falar sobre pirataria em pleno século 21 pode parecer anacrônico, mas não há outro nome para descrever o ataque ao Alabama e o sequestro de seu capitão. "A verdade é que este tipo de ação é mais e mais frequente, e não apenas na costa da Somália", explica. "Em todo o mundo, por todos os lugares que naveguei, as histórias se repetem."
Richard Phillips trabalhou próximo a Tom Hanks e a Paul Greengrass, mas gostou de tomar a posição de observador para ver sua história tomar corpo. "Um filme precisa ser dramatizado, e foi o que eles fizeram à perfeição", diz. "Mas o que é mostrado em cena é uma encenação muito próxima do que aconteceu naqueles dias em 2009." Eu comento com o capitão sobre a polêmica recente no Brasil sobre a proibição das biografias não autorizadas, e pergunto se ele ficaria à vontade para ver sua história contada por outra pessoa. Ele hesita por alguns segundos e dispara: "É a minha história, é o meu ponto de vista, e eu acho que ninguém mais poderia falar sobre o que aconteceu a não ser eu. Claro que as pessoas no Alabama podem contar sua versão, assim como os somali, os fuzileiros… mas o livro e, agora, o filme, são a minha visão, em primeira pessoa. Não consigo ver como alguém poderia ser mais preciso do que eu".
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