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Novo Homem-Aranha corrige defeitos do anterior num verdadeiro filme-gibi

Roberto Sadovski

30/04/2014 04h53

906429 - The Amazing Spider-Man 2

"Eu queria mostrar o lado divertido de ser o Homem-Aranha." Andrew Garfield abusou da frase ao divulgar sua segunda aventura como o herói aracnídeo, e ele pode considerar sua missão cumprida. Em O Espetacular Homem-Aranha 2: A Ameaça de Electro, apesar da trama sustentada em tragédias – carregadas do filme anterior, potencializadas neste –, o herói devora seu papel como símbolo/protetor de Nova York com prazer. O diretor Marc Webb, pela segunda vez comandando uma aventura do Aranha, parece mais à vontade com a mecânica de criar um espetáculo de ação, e a cena que apresenta o herói no filme, uma perseguição a ladrões de plutônio (liderados por Paul Giamatti, aqui o russo Aleksei Sytsevich, que praticamente emoldura o filme) em meio ao trânsito frenético da Grande Maçã, é a mais pura tradução de caos e cores de uma página de gibis na tela do cinema.

Ainda assim, o que move a trama deste segundo Espetacular é o relacionamento de Peter Parker com Gwen Stacy (Emma Stone, luminosa). Afastados por um ano devido ao peso da promessa que Peter fez ao pai de Gwen, o Capitão Stacy (Denis Leary), morto em combate com o Lagarto no filme anterior, eles se reencontram em um momento chave da vida dos dois: a reunião não significa a volta do romance, e sim uma despedida para que cada um siga com sua vida. A cena é tão doce e tão espontânea, interpretada à perfeição pelo casal de verdades Garfield e Emma, que o senso de perigo com o que desenlaça depois ganha mais peso. Mas se houvesse um filme, uma comédia romântica, chamada As Aventuras de Peter e Gwen, garanto que os fãs da dupla começariam a fila hoje.

Electro (Jamie Foxx) não está nada contente com o turismo em Times Square

Electro (Jamie Foxx) não está nada contente com o turismo em Times Square

Mas O Espetacular Homem-Aranha 2 também lida com as ramificações da origem do herói, da pesquisa que seu pai, Richard Parker (Campbell Scott), desenvolvia com a Oscorp, e na tal "história nunca contada" tão alardeada na aventura de 2012, que terminou ignorada. Aqui os roteiristas Alex Kurtzman, Roberto Orci e Jeff Pinkner felizmente não transformam Peter em um "escolhido" que estava destinado a se tornar o Aranha, mas abusam das coincidências para justificar seus poderes. Ainda assim, o plot resiste quando Harry Osborn (Dane DeHaan) entra em cena. Herdeiro da Oscorp, amigo de infância de Peter Parker, ele vê seu pai à beira da morte (Chris Cooper, em uma ponta como Norman Osborn), descobre sofrer do mesmo mal degenerativo e percebe que a fonte de uma cura reside no Homem-Aranha. A última peça no tabuleiro é Max Dillon (Jamie Foxx), técnico da empresa dos Osborn ignorado por todos ao redor: ele idolatra o Cabeça de Teia, mas a linha tênue entre devoção e ódio é apagada após uma cena espetacular em Times Square, em que toda a raiva suprimida por Dillon dá espaço a uma explosão de fúria e poder – poder que o transforma em Electro.

Marc Webb equilibra bem os personagens, mas falta em O Espetacular Homem-Aranha 2 um polimento para deixar claro o papel de cada um na trama. Entende-se que o filme é o ponto de partida para ramificações no universo cinematográfico do herói (como tudo hoje parece ser….), com a criação da reunião de vilões Sexteto Sinistro e o simbionte alienígena Venom… Mas às vezes um longa precisa ser só isso: uma história fechada. Por outro lado, a ideia de reproduzir no cinema a mesma pegada que os heróis da Marvel experimentam há décadas nos quadrinhos não é  ruim – como a Disney provou com seu quinhão dos heróis da editora, reunidos em Os Vingadores e extremamente bem sucedidos em seus filmes-solo. Espetacular 2 por vezes parece que vai ruir ante o peso de tanta informação, de tanta coisa para processar, para acontecer… Mas Andrew Garfield não tarda para salvar o dia.

Duende Verde + Gwen Stacy = péssima combinação...

Duende Verde + Gwen Stacy = péssima combinação…

A verdade é que, por mais que Tobey Maguire tenha criado o template perfeito para fazer Peter Parker/Homem-Aranha no cinema, Garfield ganha mais pontos por somar paixão à mistura: ele adora o personagem, ele tem prazer genuíno em fazer parte do projeto, e tudo isso está em cena. A troca do diretor de fotografia John Schwartzman por Dan Mindel (que vai trabalhar com J.J. Abrams em Star Wars – Episódio VII) contribui para essa mudança mais, digamos ensolarada: tirando o Hulk de Ang Lee, que literalmente colocou quadrinhos em cena no filme de 2003, A Ameaça de Electro é a mais perfeita adaptação da energia cinética e das cenas impossíveis de um gibi para o cinema. E Marc Webb é esperto ao usar isso em seu favor, já que quando a trama avança para seu clímax trágico (que vai causar um excesso de uso de lenços de papel nos cinemas), a paulada é ainda maior.

O Espetacular Homem-Aranha 2: A Ameaça de Electro não é o melhor filme do herói no cinema (a honra ainda é de Homem-Aranha 2, de 2004). Mas sua mistura bombástica de ação e emoção, mais o desenrolar de tramas, universos, causas e consequências – e dezenas de jogadores importantes no mundo do Aranha, como J. Jonah Jameson, ainda não deram as caras –, faz dele uma aventura de super-heróis redondinha, que abraça a fantasia e, ao contrário de seu antecessor, que tentava a muito custo ser "sombrio e realista", não tem vergonha de honrar suas origens no mundo da ficção fantástica dos gibis. Este universo ainda não está inserido num mundo vasto como o de seus colegas em Os Vingadores, e nem é tão sombria quando o cantinho dos mutantes no universo dos X-Men. Mas este é o Homem-Aranha, que mesmo quando está no mais profundo buraco, vence a depressão e salta mais uma vez em direção ao Sol.

O Diego Assis, do UOL, tem uma opinião um pouco diferente. Dá uma olhada!

As Aventuras de Peter e Gwen: O Filme

As Aventuras de Peter e Gwen: O Filme

Trailer de "O Espetacular Homem-Aranha 2 – A Ameaça de Electro"

Sobre o autor

Roberto Sadovski é jornalista e crítico de cinema. Por mais de uma década, comandou a revista sobre cinema "SET". Colaborou com a revista inglesa "Empire", além das nacionais "Playboy", "GQ", "Monet", "VIP", "BillBoard", "Lola" e "Contigo". Também dirigiu a redação da revista "Sexy" e escreveu o eBook "Cem Filmes Para Ver e Rever... Sempre".

Sobre o blog

Cinema, entretenimento, cultura pop e bom humor dão o tom deste blog, que traz lançamentos, entrevistas e notícias sob um ponto de vista muito particular.