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Os 10 filmes essenciais de Robert Downey Jr., em nova fase com O Juiz

Roberto Sadovski

19/10/2014 20h14

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Se Hollywood adora uma história de superação, principalmente quando a volta por cima é de uma de suas crias, então não é ao acaso que este é o momento de Robert Downey Jr. Com O Juiz ele começa uma fulgurante quarta (!) fase em sua carreira, agora em definitivo com as rédeas de seu destino em mãos. O drama, que o coloca como o filho distante do juiz de uma cidadezinha, obrigado a defender o pai de uma acusação de assassinato enquanto, também, revisita seu próprio passado, é um filme redondinho, pouco memorável, com boas performances e vale um sabadão preguiçoso. O principal não é a estampa, e sim as engrenagens: O Juiz é o primeiro filme produzido pelo astro e pela mulher, Susan Downey, sob a bandeira da produtora Team Downey (sutil…). O objetivo claro é desenvolver projetos em que eles acreditem, gastando a fortuna amealhada entre um e outro filme da Marvel. Se o resultado da primeira fornada não é 100 por cento, a intenção vale: criar filmes adultos, para adultos, sem colocar números ou pesquisas ou as observações de um batalhão de executivos à frente das mentes criativas.

Less Than Zero

Chapado, provavelmente pra valer, em Abaixo de Zero

Downey pode segurar este rojão. Apontado como o astro mais bem pago do cinema atual (a Forbes arrisca um faturamento de 75 milhões de dólares ano passado), ele tem voz para escolher diretores, mudar roteiros e decidir em paz o futuro de sua carreira. Isso sem virar as costas para a mão que o alimenta. Depois de O Juiz, o astro não deu uma banana para o cinemão. Pelo contrário. Seu próximo filme é Os Vingadores: A Era de Ultron, que continua a dominação mundial empreendida pela Marvel. Com contrato assinado para voltar ao papel de Tony Stark numa terceira aventura da equipe de super-heróis, Robert causou surpresa quando a Variety apontou que ele não havia terminado sua parceria com a Marvel, e estaria de volta em outro filme – não Homem de Ferro 4, e sim o terceiro Capitão América. E mais: ele não seria exatamente o mocinho, já que a nova aventura supostamente vai adaptar a série dos quadrinhos Guerra Civil. Na história, escrita por Mark Millar (Wanted, Kick-Ass), uma tragédia envolvendo um personagem de segunda linha faz o governo aprovar uma lei que obriga cada super-herói a revelar sua identidade e registrar seus poderes em um banco de dados federal. Vendo que uma negativa pode acarretar um futuro ainda mais sombrio, Tony Stark aceita a resolução; Steve Rogers, o Capitão América, não. A Marvel, claro, não confirma nada: a essa altura, números estão sendo discutidos, assim como o papel de Downey no futuro do Universo Cinematográfico Marvel.

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Chaplin lhe rendeu sua primeira indicação ao Oscar

Nada mal para um sujeito que, há cerca de dez anos, não tinha como pagar a conta de luz. Filho do diretor Robert Downey, nascido e crescido em meio ao excesso de Hollywood – no sentido literal da coisa –, o astro começou a carreira em pontas em filmes do pai, graduando-se para um vácuo de filmes pouco memoráveis nos anos 80. Dá para espremer os olhos e enxergar Downey Jr. aprendendo seu ofício em dramecos (Quando Se Perde a Ilusão, 1984; Tuff Turf – O Rebelde, 1985) e em comédias (Mulher Nota 1000, 1985, De Volta Às Aulas, 1986). Ainda arriscou a TV em uma temporada no lendário Saturday Night Live, entre 1985 e 1986. No ano seguinte, o ator protagonizou o drama ABAIXO DE ZERO (1997), baseado no livro de Bret Easton Ellis, sobre três amigos que abraçam a vida adulta, mesmo que um deles – papel de Robert Downey Jr. – perca-se cada vez mais fundo numa espiral de drogas e descontrole emocional. Os personagens ingênuos e os filmes de menor expressão da primeira fase de sua carreira ficavam para trás, já que Abaixo de Zero lhe abriu espaço para trabalhar com gente de mais peso como Ryan O'Neal e Cybill Shepherd (O Céu Se Enganou, 1989), Mel Gibson (Air America, 1990) e Sally Field, Kevin Kline e Whoopy Goldberg (Segredos de Uma Novela, 1991).

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E Assassinos por Natureza, provavelmente se sentindo em casa…

O auge do reconhecimento foi quando Downey foi indicado ao Oscar por seu trabalho em CHAPLIN (1997), de Richard Attenborough, que o colocou na pele de talvez o maior ícone do cinema hollywoodiano. Com uma mistura de urgência, doçura, insanidade e talento, ele deixou para trás em definitivo o moleque que entrou neste mundo à sombra do pai e passava a seguir seu próprio caminho. Em teoria, é uma bela história. Na prática, Downey afundava cada vez mais na dependência de drogas. Quando conversamos, em 2008, Downey contou que o fim das filmagens de Chaplin foram seguidos por semanas em um hotel na Europa, do qual ele não retém nenhuma lembrança, tal seu estado de torpor. Em entrevista à Vanity Fair, ele disse que não tinha nem 10 anos de idade quando começou a fumar maconha – com seu próprio pai. O circuito de festas sem limite que comprovam todos os clichês hedonistas de Hollywood tiveram com Downey uma testemunha próxima e um participante ativo. Sua carreira seguia em paralelo, com performances brilhantes em filmes tão diversos como Short Cuts (1993), ASSASSINOS POR NATUREZA (1994), Richard III (1995) e O Outro Lado da Nobreza (1995). Mas não ia tardar para que os dois caminhos entrassem em choque.

Wonder

Homem de Ferro, Homem-Formiga e Homem-Aranha em Garotos Incríveis

Entre 1996 e 2001, o vício de Downey em cocaína, maconha e heroína estava no auge. Errático, ele foi preso inúmeras vezes, algumas em situações bizarras – como na ocasião em que ele invadiu a casa de um vizinho e apagou em sua cama. Em 1999, depois de fracassar em várias tentativas de rehab, ele foi condenado a três anos de prisão, completando seu trabalho no suspense A Premonição. Solto depois de quase um ano preso, ele assumiu um papel na série de TV Ally McBeal e mais uma vez foi agraciado com louros por sua performance. Nos bastidores, porém, seu vício estava completamente fora de controle: ele completou GAROTOS INCRÍVEIS (2000), mas perdeua oportunidade de estar em Queridinhos da América, ao lado de Julia Roberts (o papel terminou com John Cusack) e perdeu o que lhe restava de respeito e auto estima: "Estou com uma espingarda na boca, o dedo no gatilho, e o gosto do metal me agrada", chegou a dizer a um juiz.

Gothika

Com Halle Berry em Na Companhia do Medo, o filme que lhe salvou a vida

Uma segunda prisão em 2001, e a possibilidade de dar adeus ao que restava de sua vida e sua liberdade, lhe abriu os olhos. Dedicado ao rehab, ele disse adeus aos anos de abuso intenso, mesmo que ninguém na indústria lhe desse crédito. Foi seu amigo Mel Gibson quem lhe abriu as portas e pagou do próprio bolso o seguro exigido pelos produtores de Crimes de Um Detetive (2003), que recolocou Downey no cinema. No mesmo ano, ele trabalhou com o produtor Joel Silver em NA COMPANHIA DO MEDO (2003), que segurou 40 por cento de seu salário como garantia até o fim do trabalho – e sua vida mudou por completo. Nas filmagens do thriller ele conheceu Susan Levin, por quem se apaixonou perdidamente. Ela, por outro lado, não tinha o menor interesse em se envolver com um ator com uma bagagem de problemas: seus relacionamentos com Sarah Jessica Parker e com Deborah Falconer terminaram justamente por causa de seus problemas com as drogas. Balançada pelo cortejo de Downey, Susan foi clara em relação a suas reservas, e Downey garantiu que era um homem mudado. "Ela salvou minha vida", ele me disse em 2010.

Zodiac

Em Zodíaco, de David Fincher, recuperando sua carreira

Em paz em sua vida pessoal, sua vida profissional foi entrando nos eixos, e a segunda fase tão atribulada de sua carreira terminou com grandes performances em Boa Noite e Boa Sorte (2005), de George Clooney, O Homem Duplo (2006), de Richard Linklater, e ZODÍACO (2007), de David Fincher. Com Silver ele protagonizou ao menos uma pequena obra-prima: BEIJOS E TIROS (2005), de Shane Black, no papel de um detetive em uma Los Angeles reconhecidamente noir em um filme que não se furtava em quebrar a barreira entre ficção e realidade, entre o lado de lá e o platéia.

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Se você não viu a pequena obra-prima Beijos e Tiros… tá esperando o que???

 

Mas nada o preparou para a fulgurante terceira fase de sua carreira, que começou quando o diretor Jon Favreau e o produtor Kevin Feige enxergaram em Downey o ator perfeito para dar vida ao playboy bilionário Tony Stark, que se tornaria um super-herói. Ea uma jogada de riscos por todas as direções. A Marvel entrava no jogo dos adultos produzindo seu primeiro longa; Favreau tentava se firmar como um diretor de peso, longe das comédias que fizeram sua fama; e Downey segurava, pela primeira vez em sua carreira, o que podia ser um blockbuster. A pressão era grande, mas HOMEM DE FERRO (2008) se mostrou um triunfo artístico e comercial – e o pontapé de uma terceira (e inusitada) fase na carreira do astro.

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Homem de Ferro, agora jogando no clube dos blockbusters

Assim como Johnny Depp em Piratas do Caribe, o sucesso veio para Downey na hora certa, para um artista amadurecido pela vida sob os holofotes, machucado por seus próprios demônios e renascido sem perder de vista quem ele é e sem esconder as marcas de seu passado. Hollywood aplaudiu e lhe conferiu uma segunda indicação ao Oscar, desta vez por seu papel em TROVÃO TROPICAL (2008), de Ben Stiller. Na comédia, em que atores são confundidos com soldados reais em uma zona de guerra, Downey devora o show e entrega uma performance espetacular. Sherlock Holmes (2009) o colocou em uma segunda série cinematográfica, desta vez com sua mulher nos bastidores como produtora.

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O cara interpretando o cara que finge ser outro cara em Trovão Tropical

 

Homem de Ferro 2 (2010), OS VINGADORES (2012) e Homem de Ferro 3 (2013) – os dois últimos, sucessos que quebraram a barreira de 1 bilhão de dólares nas bilheterias e consolidaram a Marvel como maior força do cinema ianque do novo século – mostraram que, apesar dos louros e dos dólares, Robert Downey Jr. não tem problema em fazer parte de um time, reconhecendo o poder do estúdio e também seu papel em seu sucesso. Sua ponta em Chef (2014), de Jon Favreau, mostra que ele não é o tipo de sujeito que vira as costas para os amigos. E O Juiz, agora sua cria, aponta que o futuro ainda é uma longa jornada. Uma que Downey não parece nem um pouco temeroso em trilhar.

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Milionário, playboy, filantropo e gênio em Os Vingadores

 

Sobre o autor

Roberto Sadovski é jornalista e crítico de cinema. Por mais de uma década, comandou a revista sobre cinema "SET". Colaborou com a revista inglesa "Empire", além das nacionais "Playboy", "GQ", "Monet", "VIP", "BillBoard", "Lola" e "Contigo". Também dirigiu a redação da revista "Sexy" e escreveu o eBook "Cem Filmes Para Ver e Rever... Sempre".

Sobre o blog

Cinema, entretenimento, cultura pop e bom humor dão o tom deste blog, que traz lançamentos, entrevistas e notícias sob um ponto de vista muito particular.