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O cinema de terror precisa se renovar. Qual será o próximo ciclo?

Roberto Sadovski

31/10/2014 18h56

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Filmes de terror são baratos para produzir. Filmes de terror circulam por todo o planeta. Foi assim que Sam Raimi justificou, ainda à época do lançamento do primeiro Homem-Aranha, porque iniciou sua carreira justamente com um filme de gênero: A Morte do Demônio. Mal sabia ele que sua experiência na mata iniciaria todo um ciclo de filmes baratos e extremos, com um pé no humor mordaz, outro no gore sem limites. Ou melhor, reiniciaria. O cinema de terror existe assim, movido à paixão, abraçado por entusiastas, formando uma nova geração de realizadores e de público. Com a semana do Halloween, é sempre bom olhar para trás e tentar vislumbrar o futuro.

Terror, afinal, é um prazer quase proibido entre os fãs de cinema. Como bem apontou o Guardian, esse prazer sobrevive se renovando, com o dinheiro sempre comandando a próxima geração de filmes do gênero. No momento, estamos em um limbo. A última produção do gênero a se destacar estreou há mais de um ano. Foi Invocação do Mal, em que o diretor James Wan mistura casa mal assombrada,  possessão demoníaca e o infalível "baseado em fatos reais". O resultado por explosivo: 318 milhões de dólares arrecadados no mundo inteiro, cobrindo com folga o orçamento de 20 milhões (o que seria hoje o tal "filme barato" de Sam Raimi). Invocação do Mal já rendeu o prequel Annabelle (outro sucesso global, porém menos inspirado) e tem a série Insidious correndo em paralelo, com o terceiro capítulo chegando aos cinemas ano que vem.

Ter uma natureza episódica também é traço do gênero. Com a honrosa exceção de O Bebê de Rosemary (que também iniciou uma febre de filmes com o mundano flertando com o sobrenatural, lá nos anos 60) e O Iluminado (de 1980), filmes de terror de sucesso tem sua trama esticada de tal forma que as continuações se confundem com os filmes que o original inspirou. Foi assim com O Exorcista (de 1973, possessão demoníaca), O Massacre da Serra Elétrica (1974, slasher), Poltergeist (1982, casa mal assombrada), Pânico (1996, terror auto referente), Ringu (1998, a invasão do terror nipônico), A Bruxa de Blair (1999, found footage) e Atividade Paranormal (2007, faça-você-mesmo). Todos determinantes para um ciclo, todos imitados, continuados, parodiados, refilmados e revisitados à exaustão. Isso sem contar as séries que se tornam verdadeiras instituições, como Halloween (1978, sete continuações, uma refilmagem que já teve sua própria sequência), Sexta-Feira 13 (1980, dez continuacões, uma refilmagem), A Hora do Pesadelo (1984, sete continuações, uma refilmagem) e o recente Jogos Mortais (2004, seis continuações, nenhum remake….. ainda).

Ainda assim, o ciclo parece estar em pausa. No último ano, nenhum filme de terror significante ganhou o apreço do grande público. Não significa, claro, que eles não tenham surgido. Sob a Pele, com Scarlett Johansson no papel de uma alienígena tentando entender o que move a raça humana (e eliminando alguns em armadinhas psíquicas no processo) é um ótimo exemplo. O mesmo vale para o incômodo e fascinante O Homem Duplicado, com Jake Gyllenhaal. O terror aí é mais cerebral e menos primitivo – por isso mesmo, longe de se tornar fenômeno de massa. O fato é que, neste exato momento, cineastas de todo o mundo experimentam maneiras de paralisar platéias de medo – seja por paixão pelo gênero, seja pela facilidade de criar e divulgar seu trabalho. Que o digam os responsáveis pelo curta Mama que, visto e abraçado por Guillermo Del Toro, foi expandido por seus próprios criadores em um longa de sucesso. "Terror corre o mundo", repetia Sam Raimi. A experiência coletiva de sentir medo numa sala escura não tem paralelo. E o futuro, como diria Yoda, "nublado pelo Lado Sombrio está". A próxima revolução? Uma página em branco com milhões de mãos querendo escrever.

Eu ia fazer uma lista de filmes essenciais para você assistir neste fim de semana de Halloween, apontar quais os melhores do gênero. Mas já fiz, ano passado, em um Nerdovski que parece pertencer a outro tempo. Assista e… bons sustos!

Sobre o autor

Roberto Sadovski é jornalista e crítico de cinema. Por mais de uma década, comandou a revista sobre cinema "SET". Colaborou com a revista inglesa "Empire", além das nacionais "Playboy", "GQ", "Monet", "VIP", "BillBoard", "Lola" e "Contigo". Também dirigiu a redação da revista "Sexy" e escreveu o eBook "Cem Filmes Para Ver e Rever... Sempre".

Sobre o blog

Cinema, entretenimento, cultura pop e bom humor dão o tom deste blog, que traz lançamentos, entrevistas e notícias sob um ponto de vista muito particular.