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Brandon Lee, morto em 1993 nas filmagens de O Corvo, faria 50 anos hoje

Roberto Sadovski

01/02/2015 06h42

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Aos 50 anos, completados neste 1 de fevereiro de 2015, Brandon Lee é o reforço de Sylvester Stallone no quarto episódio da série Os Mercenários, emprestando músculos e carisma à equipe contra o vilão da vez, papel de Steven Seagal. Longe de mostrar qualquer sinal de decadência, a parceria com Sly sela a união de duas gerações de astros de ação do cinema. Não que Lee precise: depois de transformar a trilogia O Corvo em uma das mais bem sucedidas adaptações de quadrinhos para o cinema, ele viu sua estrela subir em papéis dramáticos (sob o comando de diretores como Mike Figgis e Stephen Frears), comédias e seu trabalho elogiadíssimo no último filme de Quentin Tarantino. "Gostaria que meu pai pudesse compartilhas essas conquistas", disse em entrevista recente. "Eu adoraria ter mostrado Rajada de Fogo a ele."

Ok, essa última frase é a única de verdade no parágrafo acima. Ao concluir o filme de ação que protagonizou em 1992, Brandon sabia que carregava a tocha de um legado imortal: a do seu pai, Bruce Lee, ainda o maior astro de artes marciais da história. No ano anterior ele havia estreado no cinema hollywoodiano em Massacre no Bairro Japonês, ao lado de Dolph Lundgren. Seu charme natural, além da habilidade física e do talento nato como ator, apontavam para uma carreira sólida. Ao lado de Jean Claude Van Damme, Brandon surgia como um respiro para o cinema de gênero – com a vantagem do sobrenome poderoso que seu colega belga não tinha. O Corvo, rodado em 1993, seria seu grande papel, o filme que o colocaria no caminho dos grandes. Caminho que foi interrompido por uma bala.

Na madrugada de 31 de março de 1993, com oito dias para finalizar a fotografia principal de O Corvo, Brandon Lee se preparava para filmar a morte de seu personagem, Eric Draven. Na cena a ser rodada pelo diretor Alex Proyas, Draven entraria em seu apartamento e se deparava com sua noiva, espancada e violentada por uma quadrilha de sádicos. Surpreendido, um dos criminosos, Fun Boy, interpretado por Michael Massee, dispararia sua pistola Magnum 44 em Eric. O problema é que a arma anteriormente havia sido carregada com cartuchos falsos, balas sem pólvora, para um insert na ação. Ao disparar estes cartulhos e "limpar" a arma, uma bala ficou presa no cano. Quando Massee apontou e disparou a pistola então carregada com festim (que tem pólvora, mas não o projétil), a bala foi empurrada com uma força semelhante à de uma 44 normal, atingindo o ator no estômago. A equipe percebeu que algo estava errado quando Lee não levantou depois de Proyas cortar a cena. Levado imediatamente ao hospital, Brandon passou seis horas em cirurgia, mas não resistiu. Aos 28 anos, o herdeiro de uma tradição poderosa, um astro com  um futuro brilhante, um jovem com casamento marcado para menos de vinte dias, estava morto. Ele tinha 28 anos.

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A produção foi interrompida. A cena, registrada em filme, foi usada na investigação policial e, posteriormente, destruída. Imediatamente após sua morte, as teorias mais estapafúrdias começaram a circular. Que era uma vingança da máfia chinesa pela recusa de Lee em filmar na pátria de seu pai. Que era a continuação da "maldição" da família, que havia levado Bruce Lee décadas antes. O motivo, no fim, foi vergonhosamente simples: desatenção, a falta de cuidado da equipe, o que levou a noiva de Brandon, Eliza Hutton, a liderar uma campanha para uma maior rigidez nas regras sobre armas de fogo em sets de filmagem. Michael Masse, que puxou o gatilho, afastou-se da indústria e ficou um ano sem trabalhar como ator – até hoje ele diz ter pesadelos sobre o dia fatídico.

O Corvo foi finalizado, com o roteiro rescrito para acomodar a ausência de Brandon, que só tinha mais três dias de filmagem. Efeitos digitais colocaram seu rosto no corpo de dublês para finalizar algumas cenas chave. Quando o filme, uma adaptação da série em quadrinhos independente de James O'Barr, chegou aos cinemas em maio de 1994, carregou consigo uma aura maldita e trágica. Ainda assim, tornou-se um sucesso inesperado, faturando 50 milhões de dólares só nos Estados Unidos, dobrando o orçamento inchado para 23 milhões após a morte de seu protagonista. Com muita personalidade, O Corvo é uma aventura gótica, violenta e romântica, que deve muito de seu sucesso ao enorme carisma de Brandon – nenhuma de suas continuações conseguiu uma fração de seu sucesso e reconhecimento. Um remake atualmente está no limbo do desenvolvimento, já que perdeu seu protagonista, Luke Evans.

Quando assisti a O Corvo, o cinema ainda não sabia exatamente o que fazer com a vontade do público em ver adaptações de histórias em quadrinhos. Ao lado de Rocketeer, O Máskara e O Sombra, o filme de Alex Proyas é uma cápsula do tempo de estilo e substância, carisma e narrativa. O mundo ainda não via o "filme baseado em gibi" como um gênero. Mas a aventura que lançaria o jovem astro, e que terminou sendo seu epitáfio, apontou um caminho. Imortalizado em seus 28 anos, com o rosto pintado de branco e o sorriso de quem sabe que está saltando para o estrelato, Brandon Lee deixou a vida por acaso, uma tragédia que cravou seu nome na história.

Sobre o autor

Roberto Sadovski é jornalista e crítico de cinema. Por mais de uma década, comandou a revista sobre cinema "SET". Colaborou com a revista inglesa "Empire", além das nacionais "Playboy", "GQ", "Monet", "VIP", "BillBoard", "Lola" e "Contigo". Também dirigiu a redação da revista "Sexy" e escreveu o eBook "Cem Filmes Para Ver e Rever... Sempre".

Sobre o blog

Cinema, entretenimento, cultura pop e bom humor dão o tom deste blog, que traz lançamentos, entrevistas e notícias sob um ponto de vista muito particular.