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George Miller e a Liga da Justiça que poderia ter sido...

Roberto Sadovski

02/06/2015 17h05

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Engraçado como as coisas funcionam. Uma eternidade atrás, mais precisamente em 2007, George Miller reuniu elenco e equipe na Austrália para rodar Justice League: Mortal, uma adaptação para cinema do supergrupo dos quadrinhos da DC, que caminharia longe do que Christopher Nolan já estabelecia com sua vindoura trilogia O Cavaleiro das Trevas. Batman, afinal, não seria Christian Bale, e sim Armie Hammer, em um elenco preenchido por D.J. Cotrona (Superman), Adrian Brody (Flash), Common (Lanterna Verde), Jay Baruchel (Maxwell Lord) e Teresa Palmer (Talia al Ghul). Dois elementos chave, Megan Gale e Hugh Keays-Byrne, escalados para ser a Mulher Maravilha e o Caçador de Marte, não sairiam da mira de Miller. Mas a greve de roteiristas em Hollywood atrasou a produção, a Austrália se recusou a dar um desconto em impostos à Warner e os custos, um orçamento de 220 milhões de dólares, tornaram-se proibitivos. O sucesso de Batman – O Cavaleiro das Trevas no ano seguinte foi o último prego no caixão, e a Liga da Justiça de George Miller foi para o buraco negro dos filmes-que-não-eram-para-ser.

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A Mulher Maravilha plana sobre Themyscira, sua terra natal, em uma arte conceitual de JLM

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Um combate aéreo em mais uma arte conceitual de JLM

Os fãs, à época, deram de ombros. Afinal, o diretor era o sujeito conhecido por fazer um porco falar nos dois Babe (produzindo e escrevendo o primeiro, também dirigindo o segundo) e se preparava para fazer um pinguim sapatear em Happy Feet – que tomou o lugar de Justice League Mortal na linha de produção montada por Miller na Austrália. Agora, com Mad Max: Estrada da Fúria em cartaz, tudo mudou. Ainda o melhor filme de 2015 (e já chegamos na metade do ano!), a aventura que reintroduziu o anti-herói materializado em Mel Gibson nos anos 80, agora na pele de Tom Hardy, provou que Miller, aos 70 anos, ainda tem muito fôlego, criatividade, habilidade, apuro estético, firmeza narrativa e uma visão cinemática muito clara, equilibrando temas relevantes, iconografia e ação em um pacote inacreditável. Claro que a sombra de Justice League: Mortal não ia demorar a surgir, e a proposta de um documentário pode revelar o que o cineasta australiano tinha em mente.

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Um estudo visual do Aquaman, feito em cima de ilustrações de Alex Ross

Miller's Justice League Mortal é um documentário que está tomando forma pelas mãos do australiano Ryan Unicomb. As poucos, o twitter oficial do projeto vai revelando imagens de bastidores, arte conceitual e tudo que George Miller havia planejado para reunir os maiores heróis da DC – Superman, Batman, Mulher Maravilha encabeçando a aventura – contra um inimigo em comum. Longe do mundo sombrio aos poucos tecido por Zack Snyder e seu Batman Vs. Superman: A Origem da Justiça, que segue a linha aberta por O Homem de Aço, a Liga da Justiça de Miller parecia habitar um lugar mais colorido e dinâmico – e com muita personalidade.

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O roteiro ainda é um mistério, mas o pouco que pode ser montado com o material já revelado – como a sequência de storyboards criada pelo artista Steve Skroce (acima), que trabalhou em Matrix –, sugere que o bilionário Maxwell Lord, essencial para a criação da equipe, em algum momento revela sua natureza vilanesca, controla a mente do Superman e o que segue é um combate épico entre o Homem de Aço e a Mulher Maravilha. Em uma palavra: uau! Curiosamente, o anúncio de Miller's Justice League Mortal chega não muito depois do trailer de The Death of "Superman Lives": What Happened? (que você confere aí embaixo), em que o diretor e fã Jon Schnepp fez um brilhante trabalho de arqueologia cinematográfica ao explorar a queda do reboot do último filho de Krypton imaginado em 1997 por Tim Burton, que colocaria Nicolas Cage como o herói. Mundo estranho esse nosso, em que temos nostalgia por projetos que sequer existem.

Sobre o autor

Roberto Sadovski é jornalista e crítico de cinema. Por mais de uma década, comandou a revista sobre cinema "SET". Colaborou com a revista inglesa "Empire", além das nacionais "Playboy", "GQ", "Monet", "VIP", "BillBoard", "Lola" e "Contigo". Também dirigiu a redação da revista "Sexy" e escreveu o eBook "Cem Filmes Para Ver e Rever... Sempre".

Sobre o blog

Cinema, entretenimento, cultura pop e bom humor dão o tom deste blog, que traz lançamentos, entrevistas e notícias sob um ponto de vista muito particular.