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Nos 40 anos de Tubarão, lembre-se de filmes que tentaram morder seu sucesso

Roberto Sadovski

21/06/2015 18h04

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Tubarão é a obra-prima de Steven Spielberg. Mas não é só isso: também é o filme que inaugurou o blockbuster moderno, que mudou as regras do jogo do marketing para o cinema e transformou a experiência de ver um filme em catarse coletiva em torno de um fenômeno – no Brasil a aventura se manteve no topo das bilheterias por quase duas décadas, empurrado para a segunda posição por Titanic. Ao faturar 260 milhões de dólares no verão americano de 1975 – corrigidos em 1 bilhão em moeda corrente –, Tubarão também despertou uma avalanche de imitadores que, com maior ou menor grau de sucesso, mergulharam no mesmo mar de Spielberg para mordiscar uma fração dos dólares e do prestígio obtidos pelo diretor.

E pensar que Tubarão foi apenas o segundo longa de Steven Spielberg, então com 29 anos, a ser lançado no cinema. Logo ali, o diretor mostrou seu total domínio da narrativa cinematográfica, criando um filme elegante com um fiapo de história: tubarão ataca banhistas em uma cidade litorânea, em plena temporada de verão. Cabe ao chefe de polícia (Roy Scheider), a um oceanógrafo (Richard Dreyfuss) e a um velho lobo do mar (Robert Shaw) a tarefa de caçar e abater a fera. A "fera", por sinal, mal dá as caras. O tubarão mecânico, apelidado Bruce, nunca funcionou como devia, obrigando Spielberg a contar sua história sem seu "protagonista". O percalço terminou jogando a favor, já que a ausência do tubarão elevou o suspense a níveis alarmantes, o que foi potencializado com a trilha icônica de John Williams.

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Robert Shaw, Roy Scheider e Richard Dreyfuss em um clássico genuíno

Lição número um para continuar a leitura: já reviu Tubarão? Então pare tudo que você estiver fazendo e se dê este prazer, agora! Eu espero.

Ok, agora, por sua conta e risco, faça uma caça ao peixão perdido e abrace a lista a seguir. São alguns bons filmes, outros não tão bons, ao menos um decididamente horroroso! No mínimo, você vai se divertir! E, não, Tubarão 19, de Max Spielberg, só existe mesmo no mundo da fantasia…

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E ainda parece falso…

MAKO, O TUBARÃO ASSASSINO
(Mako: The Jaws of Death, William Grefé, 1976)

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Um dos primeiros filmes a tentar surfar na onda de Tubarão chegou aos cinemas logo no ano seguinte. Mas Mako trilha um caminho diverso, colocando o animal como vítima da exploração humana, e não uma fera assassina – mesmo que a tagline logo no pôster avise que as filmagens "não utilizaram jaulas, tubarões mecânicos nem outras medidas de proteção". Sei. No plot bizarro, um sujeito solitário descobre ter um elo telepático com tubarões, e os usa para destruir qualquer um que os ameace – o que inclui um cientista e um dono de boate que quer usar um tubarão em um número de dança em seu clube. Pois é…

ORCA, A BALEIA ASSASSINA
(Orca: The Killer Whale!, Michael Anderson, 1977)

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O produtor-picaretão Dino De Laurentiis não tardou para criar seu próprio "tubarão", mas colocou uma orca como protagonista de seu filme para não ficar muito na cara…. Richard Harris é o capitão de um navio que mata uma baleia fêmea grávida, despertando a fúria do macho. O peixão primeiro aterroriza os moradores de um vilarejo de pescadores para depois voltar sua vingança contra a tripulação de Harris. Uma mistura bizarra de Desejo de Matar e Moby Dick, Orca é um filme bizaro, com trilha do mestre Ennio Morricone, ainda que tenha feito uma marolinha em seu lançamento. Quem diria.

TINTORERA
(Tintorera: Killer Shark, René Cardona Jr., 1977)

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Tintorera é menos um filme sobre tubarões assassinos e mais sobre dois sujeitos que, depois de uma antipatia inicial, decidem entrar no negócio de a) caçar tubarões e b) compartilhar as mesmas mulheres na cama. Entre uma coisa e outra, eles conseguem enfurecer um tubarão-tigre que passa a caçá-los, matando um dos sócios. O outro segue sua vingança até o filme, mesmo terminando mutilado. Os atores, claro, não são nem um pouco importantes. Mas Tintorera tem a distinção de não economizar nas cenas de nudez e sexo – que incluem Susan George, de Sob o Domínio do Medo.

PIRANHA
(Joe Dante, 1978)

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O próprio Spielberg diz que, de todas as cópias carbono de Tubarão, Piranha é decididamente a melhor. E é mesmo. Saindo da fábrica do produtor Roger Corman, com roteiro de John Sayles e direção de Joe Dante, o filme não tenta se levar a sério em nenhum momento, amplificando o gore e caprichando no humor negro. O plot é uma delícia: um casal de adolescentes invade uma base militar abandonada, mergulha numa piscina e desaparece. Quando a piscina é esvaziada num rio local, um imenso cardume de piranhas, modificada geneticamente para operações de guerra, ataca os banhistas. O filme ainda gerou uma continuação em 1981 dirigida por James Cameron (!) e dois remakes (!!), um em 1995 e outro em 2010 – este em 3D, com muito sangue e nudez, que gerou sua própria continuação em 2012.

TUBARÃO 2
(Jaws 2, Jeannot Szwarc, 1978)

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Três anos depois de se tornar a maior bilheteria da história (e um após Guerra nas Estrelas lhe roubar a coroa), o Tubarão principal voltou à tona. Sem algumas de suas peças-chave, porém, a ideia de ter uma franquia começou a afundar, mesmo com a bilheteria além do razoável do longa. Roy Scheider retornou por conta de seu contrato com a Universal – que por sua vez demintiu o diretor original, John D. Hancock, substituido às pressas por Szwarc. Na trama, o filho mais velho do chefe Brody parte num passeio de barco com outros adolescentes e é atacado (claro) por um tubarão branco, teoricamente um que respondeu ao "grito de socorro" do animal morto no filme original. Não é à toa que Spielberg não quis chegar perto dessa beleza….

TUBARÃO 3D
(Jaws 3-D, Joe Alves, 1981)

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Tubarão invade o SeaWorld – literalmente. E não um genérico, mas o próprio parque aquático, que liberou sua marca e instalações para abrigar um filme sobre um tubarão assassino que mata treinadores e visitantes em um show para a família. Vai entender… De qualquer forma, a idéia deste terceiro filme da franquia foi levar a ação para longe da cidade de Amity e dar um reboot na coisa toda. Em 3-D! Com Dennis Quaid (um moleque) e Lea Thompson (que deve agradecer até hoje a De Volta Para o Futuro)! Quanto menos for dito dos efeitos especiais, melhor. Sente o drama na fotinha que eu escolhi acima para ilustrar o ilustre….

TUBARÃO IV
(L'ultimo Squalo/The Last Shark/Great White, Enzo G. Castellari, 1981)

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A picaretagem atingiu nível Jedi nesta produção italiana que foi processada pela Universal por plágio e teve seu lançamento barrado nos Estados Unidos. Sente: uma cidade costeira é atacada por um tubarão branco; um caçador de tubarões profissional alia-se a um escritor para procurar a fera, mesmo que um político local ignore a ameaça para não perder os dólares da alta temporada. O clímax leva a dupla para alto mar, na tentativa de explodir o peixão. A cereja no topo do bolo? O personagem de James Franciscus, o tal do escritor, foi batizado Peter Benton – qualquer coincidência com Peter Benchley, autor do livro que foi adaptado em Tubarão, é pura falta de vergonha na cara. E você não leu errado: o título nacional é aquele lá em cima mesmo….

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Esse merece mais uma foto: o tubarão parece uma rolha!

TUBARÃO: A VINGANÇA
(Jaws: The Revenge, Joseph Sargent, 1987)

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O tubarão agora caça o que restou da família Brody – porque, sabe-se lá, vingança é algo nutrido por um predador marinho. Na real, este A Vingança só existe porque a atriz Lorraine Gary, a única remanescente do filme original, era casada com o chefão do estúdio à época. O final original, rejeitado pelas platéias ianques, teve de ser refilmado, interferindo na agenda de Michael Caine (em sua época "tudo por dinheiro") e impedindo que ele fosse receber seu Oscar de melhor ator coadjuvante por Hannah e Suas Irmãs. "Não tenho nenhuma lembrança de Tubarão: A Vingança", disse Caine. "Mas a casa que ele me comprou é uma maravilha."

DO FUNDO DO MAR
(Deep Blue Sea, Renny Harlin, 1999)

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O fracasso de Tubarão: A Vingança foi tão retumbante que os grandes estúdios deixaram os predadores do mar quietinhos por mais de uma década. Poderiam manter a Caixa de Pandora fechada mais um tantinho… Ok, não é para tanto, essa aventura entra fácil na categoria "bom filme ruim". A começar pelo plot, que traz um grupo de cientistas de um laboratório submarino em busca da cura do Mal de Alzheimer, usando no processo tecido do cérebro de tubarões mako. O que a equipe não sabe que é uma de suas companheiras (Saffron Borrows, canastra) modificou geneticamente o cérebro dos tubarões, deixando-os mais inteligentes e letais. Daí, resta ao resto do elenco (canastra) tirar no palitinho para ver quem morre e quem vive. Uma morte-por-tubarão dá para entregar, fácil: Samuel Jackson, sendo mastigado em meio a um discurso de "precisamos ficar juntos" por um tubarão maroto. Quando vi o filme em sua estreia Nova York, a cena arrancou não só aplausos, mas urros!

MAR ABERTO
(Open Water, Chris Kentis, 2003)

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Demorou pouco mais de três décadas para outro "filme com tubarões" ir além da carnificina descerebrada e, de fato, ter algo a dizer. Não por coincidência, a trama é de uma simplicidade enorme: um casal de mergulhadores em férias é esquecido pelo barco que transporta os turistas e emerge em mar aberto, sem resgate e à mercê dos tubarões que aos poucos se aproximam. Baseado em fatos reais, o diretor e roteirista Kentis abriu mão de feras mecânicas das décadas anteriores e também dos avanços digitais que poderiam recriar os animais em computador. Em vez disso, ele usou tubarões reais que tem reações reais, e não o frenesi assassino imortalizado pelo cinema. O resultado é um filme sufocante, em que o terror é real.

MONSTROS MARINHOS
(Mega Shark vs. Giant Octopus, Jack Perez, 2009)

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A produtora picareta The Asylum, responsável pelos filmes trash mais absurdos do cinema moderno, chutou o balde de vez ao colocar um tubarão e um polvo pré-históricos quebrando o pau não só no mar, mas em qualquer lugar que seus corpos gigantescos puder alcançar – como um avião comercial, um pontinho no céu, que é abocanhado por fúria pelo mega tubarão. Depois disso veio uma avalanche de filmes mais e mais absurdos (Mega Shark Vs. Crocossaurus/Mecha Shark/Kolossus) e um belo quintal para astros do Natal passado descontarem aquele cheque esperto. Pode arriscar sem medo.

PERIGO EM ALTO MAR
(The Reef, Andrew Traucki, 2010)

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Seguindo a cartilha de Mar Aberto, esta produção australiana, também baseada em fatos reais, mostra um grupo de amigos tentando chegar à costa após o iate que eles navegavam colidir com uma barreira de corais e afundar. Ao enfrentar as correntes e o oceano, lees são atacados por um tubarão que, aos poucos, também mina a lucidez do grupo e instaura o pânico. O diretor Traucki usou tubarões de verdade e transmitiu parte das filmagens (e a reação dos atores) ao vivo pela internet. Ninguém, ao menos não oficialmente, foi devorado em cena…

TERROR NA ÁGUA 3D
(Shark Night 3D, David R. Ellis, 2011)

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Não dá para esperar um filme super sério do diretor de Serpentes à Bordo, mas o finado Ellis se superou. Terror na Água é um horror bobalhão em 3D, que consegue misturar pitadas de Tubarão, Piranha e, acredite, do filme de crocodilo gigante Pânico no Lago num mesmo balaio. Para resumir, um grupo de universitários é atacado por um tubarão em um lago – os bichos foram colocados lá como vingança pelo ex-namorado de uma das moças do grupo. Sério. Se você espera ao menos uma nudez esperta ou sangue em profusão, esqueça: o filme recebeu classificação PG-13 na gringa. Ou seja, é só diversão boboca para adolescentes espinhudos.

ISCA
(Bait, Kimble Rendall, 2012)

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Já dizia Confúcio: "Para a zoeira, não há limites". O que dizer de um "filme de tubarão" que se passa… dentro de um supermercado? "Nada é impossível", retrucaria Confúcio, o sábio sapeca. Isca mostra uma cidade tragada por um tsunami, que não só deixa um grupo preso em um supermercado submerso como também traz um grande tubarão branco para dentro da loja. Julian McMahon despencou dos Quarteto Fantástico de Tim Story para isso. "Um dia é da caça…" Cala a boca, Confúcio!

SHARKNADO
(Anthony C. Ferrante, 2013)

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Um furacão passa a vassoura no oceano e traz para Los Angeles um verdadeiro enxame de tubarões, que atacam do céu e causam terror total. No sétimo dia, já diziam as escrituras, a The Asylum criou Sharknado. Arrependei-vos, pecadores. As trombetas agora anunciam o apocalipse.

Sobre o autor

Roberto Sadovski é jornalista e crítico de cinema. Por mais de uma década, comandou a revista sobre cinema "SET". Colaborou com a revista inglesa "Empire", além das nacionais "Playboy", "GQ", "Monet", "VIP", "BillBoard", "Lola" e "Contigo". Também dirigiu a redação da revista "Sexy" e escreveu o eBook "Cem Filmes Para Ver e Rever... Sempre".

Sobre o blog

Cinema, entretenimento, cultura pop e bom humor dão o tom deste blog, que traz lançamentos, entrevistas e notícias sob um ponto de vista muito particular.