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“Não acredito em espíritos”, diz diretor de Sobrenatural – A Origem

Roberto Sadovski

29/07/2015 17h44

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A rotina de Lin Shaye ficou estranha quando ela estava filmando Sobrenatural – A Origem, terceiro capítulo da série de terror iniciada em 2010. Sua casa foi invadida por moscas. Ela encontrou uma ratazana morta na piscina. Sentia uma energia estranha em seu quarto. "Acredito na energia que nos cerca", disse em entrevista ao telefone. "Tomo cuidado com o que deixo entrar, procuro me manter cercada de coisas positivas."

Quando falo meu papo com a atriz para o diretor/roteirista/ator Leigh Whannell, ele deixa escapar uma risada. "A Lin é mesmo muito sensível, ela sente as coisas", conta. "Eu não tenho nem tempo de acreditar em forças sobrenaturais, estava muito ocupado com tanta coisa acontecendo aqui em nosso mundo mesmo." Fato. Sobrenatural – A Origem também marca a estreia de Whannell como diretor, depois de dois filmes como ator (ele faz o caça-fantasmas Specs) e roteirista – e depois de, ao lado do diretor James Wan, ajudar a moldar o terror do novo século com Jogos Mortais. Wan foi o diretor dos dois primeiros Sobrenatural e deixou a série para fazer 1 bilhão de dólares nas bilheterias no comando de Velozes & Furiosos 7.

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Nada como acordar com um desconhecido em seu quarto…

Apesar de trazer números mais modestos, Sobrenatural se tornou uma franquia forte no terror moderno, e Whannell sentiu o peso ao assumir o projeto. "Não posso dizer que não fiquei nervoso, a cadeira do diretor é onde vários de meus maiores ídolos estiveram", confessa. "No fim, porém, foi divertido. Achei o trabalho uma extensão do que eu já fazia escrevendo, descobri que é mesmo o que eu quero fazer para o resto da vida." Ainda assim, ele se diz surpreso com cineastas que continuamente produzem, escrevem, dirigem e também atuam em seus filmes: "Tudo é questão de foco, mas eu não sei mesmo como muitos destes sujeitos conseguem. Eu fui pai recentemente, e posso dizer que minha esposa é uma mulher muito paciente".

Sobrenatural – A Origem surgiu da ideia de ir além no mundo apresentado nos dois primeiros filmes, mas logo Whannel se viu com um dilema: ele não tinha um protagonista. "A história do casal interpretado por Patrick Wilson e Rose Byrne estava mais ou menos encerrada, e a única constante na série, a personagem de Lin, morreu no primeiro filme", continua. "A ideia de voltar no tempo e de fazer dela, a sensitiva Elise, o foco do filme, abriu espaço para a gente contar mais histórias."

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Leigh Whannell e Lin Shaye em momento meigo

"Eu sou atriz há 43 anos, sinto como se minha carreira estivesse recomeçando", analisa Lin Shaye, que ganhou notoriedade em 1998, quando fez a vizinha super bronzeada da personagem de Cameron Diaz em Quem Vai Ficar com Mary?. "Quando James (Wan) me disse que faria de Elise o rosto da série, senti o coração palpitar. Mas não sinto pressão, dou um passo por vez." Parte das filmagens ocorreram numa casa centenária em Los Angeles, que era mais confortável do que o cenário para onde a produção depois continuou: "O set era frio e úmido, muitas coisas para a gente tropeçar. O corpo não sabe que você está fingindo, era genuinamente exaustivo".

No novo filme, Elise lida com o trauma de ter sido ameaçada por espíritos malignos, e decide não usar mais sua habilidade em conversar com os mortos. Mas ela não consegue ignorar o pedido de uma adolescente que perdeu a mãe e tentou um contato com o além sozinha – trazendo de volta um demônio vingativo. "Eu meio que me encantei com Stefanie Scott, que faz a garota assombrada. Ela tinha de colocar uma maquiagem pesada para o clímax do filme, ter o rosto inteiro coberto, e nunca reclamou", lembra Lin. "Já o ator que faz o demônio, o Homem Que Não Respira, eu nunca o vi sem a maquiagem. Lembro que o diretor de efeitos visuais buscou criar o rosto do câncer, e era assustador de verdade".

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O set de Sobrenatural é só alegria!

Assustar, por sinal, é uma responsabilidade que Leigh Whannell abraça sem hesitar. Ele cresceu assistindo a filmes de terror e quis manter a tradição. "Tubarão foi um dos primeiros que assisti, mas meus favoritos mudam de acordo com a época, de acordo com minha vivência", continua. "Adorei Ringu, que foi refilmado como O Chamado. O Iluminado ainda é o melhor de todos os tempos." Ele confessa que não fazia ideia do que estava fazendo quando escrever Jogos Mortais há mais de uma década: "Eu era muito jovem, tinha 23, 24 anos, não sabia como escrever um roteiro. Mas é um tremendo elogio ver tanta gente depois inspirada por aquele mesmo estilo. Nunca, nem em meus sonhos mais intensos, imaginei que faria tanto sucesso".

Quando pergunto qual o segredo para criar um bom filme de terror, Whannell tenta articular. "Eu tento pensar em coisas que as pessoas nunca viram antes, tirar o público de sua zona de conforto", arrisca. "É importante levar o gênero a sério. Acho que é fundamental." Ele hesita e completa: "Cara, eu não faço a menor ideia sequer se existe um segredo! Se eu soubesse, acho que escreveria um livro sobre isso e ficaria rico".

Sobre o autor

Roberto Sadovski é jornalista e crítico de cinema. Por mais de uma década, comandou a revista sobre cinema "SET". Colaborou com a revista inglesa "Empire", além das nacionais "Playboy", "GQ", "Monet", "VIP", "BillBoard", "Lola" e "Contigo". Também dirigiu a redação da revista "Sexy" e escreveu o eBook "Cem Filmes Para Ver e Rever... Sempre".

Sobre o blog

Cinema, entretenimento, cultura pop e bom humor dão o tom deste blog, que traz lançamentos, entrevistas e notícias sob um ponto de vista muito particular.