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Elenco de A Travessia conta como foi construir uma história real fantástica

Roberto Sadovski

07/10/2015 06h42

A Travessia é a história extraordinária de um homem comum. De como ele superou seus limites para alcançar seu sonho. De certa forma a filmografia de Robert Zemeckis é pontuada por gente como a gente saindo de situações impossíveis. O encontro inesperado de fãs com os maiores ídolos pop de mundo em Febre de Juventude. A viagem no tempo em De Volta Para o Futuro. Os bastidores da história em Forrest Gump. A conquista do espaço em Contato. O desastre aéreo em O Voo. Pessoas comuns. Situações extraordinárias. Tudo criado com habilidade de artesão, por um cineasta que entende o equilíbrio perfeito entre história e espetáculo.

Eu conversei com o elenco de A Travessia, nas entrevistas que você confere aí no alto, e a empolgação em trabalhar com Zemeckis é palpável. O ponto em comum é a admiração de Joseph Gordon-Levitt, Charlotte Le Bon e Ben Kingsley em como o diretor transformou a história de Phelippe Petit, que em 1974 atravessou o vão entre as torres gêmeas do World Trade Center em uma corda bamba, em um filme com tanto coração. É raro um diretor dominar a técnica cinematográfica de forma tão natural, ao mesmo tempo em que abre espaço para que emoção genuína conduza a trama. Nublar essa linha entre real e imaginário é algo que Zemeckis faz desde que saltou para trás das câmeras e contou uma história.

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O pedaço perfeito de pop que é De Volta Para o Futuro

Ao contrário de muitos cineastas, entretanto, ele não teme a tecnologia, mas a abraça. Quando rodou Febre de Juventude, em 1978, Zemeckis criou a ilusão perfeita que os Beatles dividiam a cena com o elenco, encabeçado por Nancy Allen e Marc McClure. Isso séculos antes da tecnologia digital entrar em cena! Essa habilidade vou aperfeiçoada com De Volta Para o Futuro que agora, três décadas depois de chegar aos cinemas, continua um pedaço importante da cultura pop contemporânea. E não que seja uma aventura conduzida por artimanhas visuais: seu roteiro, escrito por Zemeckis a quatro mãos com Bob Gale, é um dos mais perfeitos do cinema moderno. Uma Cilada Para Roger Rabbit, de 1987, deu mais um salto para o casamento de tecnologia com a arte de contar uma história, fazendo com que um personagem de desenho animado interagisse à perfeição com o detetive interpretado por Bob Hoskins.

Para o mundo, porém, Robert Zemeckis se tornou um cineasta "sério" com Forrest Gump, de 1994, que colocou o protagonista, um trabalho perfeito de Tom Hanks, como parte vital de eventos chave da história americana. Essa alquimia visual, de narativa e efeitos especiais, garantiu ao drama, entre outros, o Oscar de melhor filme, direção e efeitos especiais. Contato, que é por muitos subestimado, foi um passo além, com o diretor usando a tecnologia cinematográfica cada vez mais avançada para colocar Jodie Foster em uma viagem interestelar de tirar o fôlego – como sempre, emoção e espetáculo combinados. Depois de brincar de Alfred Hitchcock em Revelação, e de isolar Tom Hanks do mundo em Náufrago, o diretor arregaçou as mangas e tratou de mudar o cinema mais uma vez.

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A revolução visual de A Lenda de Beowulf

Entre 2004 e 2009, Robert Zemeckis abraçou a tarefa de avançar a tecnologia de cinema, combinando animação e captura de movimentos em filmes que foram, acima de tudo, um investimento pesado nas ferramentas para criar cinema. O diretor disse à época que percebia o momento de uma mudança no modo de encarar os efeitos especiais, e decidiu abrir espaço para jovens cineastas tomando para si a responsabilidade em criar filmes que usassem essas ferramentas. Como ele tem capital criativo e financeiro em Hollywood, as portas estariam abertas. Foi assim com O Expresso Polar (2004), A Lenda de Beowulf (2007) e Os Fantasmas de Scrooge (2009). Embora muitos tenham apontado um certo incômodo causado pelos filmes – não é exatamente animação, mas definitivamente não são aventuras live action –, é inegável seu salto tecnológico.

Sua volta ao cinema "tradicional" – com aspas gigantes! – foi em 2012, com o drama O Voo, em que Denzel Washington encara a responsabilidade de, apesar de ter salvo centenas de passageiros ao arriscar uma manobra aérea aparentemente impossível, precisa lidar com seus próprios vícios. Mas A Travessia surge como a culminação de suas melhores habilidades como diretor. Zemeckis chegou a pensar em executar a história de Phelippe Petit como animação, usando tecnologia de captura de movimento. Mas optou por filmar seus atores, e o resultado mostra que foi a melhor opção. Recriar as torres do World Trade Center foi um desafio técnico executado de maneira brilhante – como eu escrevi aqui. É a emoção impressa em sua realização, porém, que faz do filme tão especial. Não acredita? Então volte às entrevistas no alto da página. É esse momento mágico, quando o cinema acontece, que transparece nas palavras de quem, conduzidos por Robert Zemeckis, construiu uma história real tão fantástica.

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Charlotte Le Bon e Joseph Gordon-Levitt planejam A Travessia

Sobre o autor

Roberto Sadovski é jornalista e crítico de cinema. Por mais de uma década, comandou a revista sobre cinema "SET". Colaborou com a revista inglesa "Empire", além das nacionais "Playboy", "GQ", "Monet", "VIP", "BillBoard", "Lola" e "Contigo". Também dirigiu a redação da revista "Sexy" e escreveu o eBook "Cem Filmes Para Ver e Rever... Sempre".

Sobre o blog

Cinema, entretenimento, cultura pop e bom humor dão o tom deste blog, que traz lançamentos, entrevistas e notícias sob um ponto de vista muito particular.