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Diretor de Warcraft quer dar fim à maldição de filmes baseados em games

Roberto Sadovski

06/11/2015 17h50

O desafio de Warcraft – O Primeiro Encontro de Dois Mundos, não é construir mundos (!), dar vida a criaturas fantásticas e nem retratar, mais uma vez, o eterno embate entre o bem e o mal. A batata que o filme de Duncan Jones precisa assar é por um fim definitivo à "maldição" que recai sobre todos os filmes baseados em video games que o cinema criou desde que Super Mario Bros. meteu os pés pelas mãos lá atrás, em 1993. O primeiro trailer, lançado hoje, aponta um caminho – mas a estrada certamente é árdua.

"Eu não gosto de coisas que são muito fáceis", brinca, com um sorriso nervoso, Duncan Jones. "Warcraft foi um desafio como meus outros filmes, só demorou um pouquinho a mais para ficar pronto." Responsável por duas pérolas modernas da ficção científica, Lunar e Contra o Tempo, o diretor aponta que é impossível estar pronto para um filme deste tamanho. "Christopher Nolan abriu um precedente, fazendo Batman Begins depois de Amnésia e Insônia", dispara, sem medo da comparação. "No fim das contas, tudo se resume a uma boa história com bons personagens."

O caso de Warcraft definitivamente não é assim tão simples. O game criado pela produtora Blizzard há duas décadas se tornou o jogo online mais popular do planeta, com milhões de entusiastas ligados em rede. Embora exista essa legião ansiosa para ver como estes mundos ganham vida no cinema, este primeiro trailer faz pouco para destacar o filme de outras aventuras com sabor similar, como As Crônicas de Nárnia, A Lenda de Beowulf, Fúria de Titãs e, claro, O Senhor dos Anéis.

"Eu sei que estou caminhando no ombro de gigantes, o que Peter Jackson fez pelo gênero mudou completamente sua percepção", continua Jones. "Mas Warcraft tem duas décadas de história a seu favor, não estamos começando do zero." O diretor, que abraçou o projeto, entre outros motivos, por ser ávido jogador, explica que Warcraft é único em sua abordagem para construir mundos, com paisagens e relevos que mudam de maneira brusca. "Buscamos um visual hiper realista com as cores, o modo como cada cena é composta", explica. "O que sempre chamou minha atenção no jogo é como construímos nosso próprio ambiente. Não espelha de forma alguma o nosso mundo. Tentamos trazer esse tom e essa energia para o filme."

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Durotan e Lothar, prontos para a guerra

Filme que, no fim das contas, precisa ignorar a marca, os fãs, as engrenagens que o cercam para contar uma história – que traz elementos do jogo mas que precisa ser sólida longe dele. Neste caso, Warcraft – O Primeiro Encontro de Dois Mundos aborda a frágil aliança entre humanos e orcs, inimigos naturais, para enfrentar uma ameaça que pode aniquilar ambas as raças. Os protagonistas são Anduin Lothar (Travis Fimmel), um cavaleiro determinado a proteger o reino de Azeroth, e Durotan (Toby Kebbell, trabalhando como todos os orcs com um traje de captura de movimento), chefe do clã Frostwolf que, isolados, tem de combater o Conselho das Sombras. Em meio a isso, desfilam paisagens impressionantes, batalhas apoteóticas, magos, capa e espada – tudo, enfim, que compõe o portfólio de uma fantasia épica.

E tudo, também, desenvolvido sob o olhar atencioso da Blizzard. A produtora de games (eles também publicam StarCraft e Diablo) entra no jogo cinematográfico sem deixar sua cria muito distante. "Às vezes eu via meu trabalho como o de uma babá", brinca Jones. "Eu conhecia muito bem este universo, mas o bebê é deles. No fim, meu trabalho é como cineasta e como diplomata, para mostrar que nosso trabalho em conjunto visa o mesmo fim… mas tudo foi uma negociação, decidir que elementos funcionariam no filme, equilibrar minhas inclinações como diretor e também como fã."

Com vinte anos de história, dificilmente tudo funcionaria em um único filme, e Duncan Jones entrou no jogo consciente de que não gastaria uma única ficha. "Eu e Chris Metzen, criador de Warcraft, já desenhamos um caminho, sabemos para onde a história pode ir se o filme for bem sucedido", revela o diretor. "Eu adoraria a oportunidade de fazer todos, mas antes vou dirigir uma ficção científica modesta, para limpar o palato." Quando pergunto se ele teria tempo para espremer outro filme na agenda, Duncan Jones dá uma risada. "Meu trabalho em Warcraft terminou, o filme está prontinho, finalizado, guardado em algum cofre da Universal esperando a estreia", entrega, ressaltando que o estúdio escolheu a mesma data em que lançaram Jurassic World este ano, aventura que se tornou a terceira maior bilheteria da história. "Alguma coisa a gente fez certo."

Sobre o autor

Roberto Sadovski é jornalista e crítico de cinema. Por mais de uma década, comandou a revista sobre cinema "SET". Colaborou com a revista inglesa "Empire", além das nacionais "Playboy", "GQ", "Monet", "VIP", "BillBoard", "Lola" e "Contigo". Também dirigiu a redação da revista "Sexy" e escreveu o eBook "Cem Filmes Para Ver e Rever... Sempre".

Sobre o blog

Cinema, entretenimento, cultura pop e bom humor dão o tom deste blog, que traz lançamentos, entrevistas e notícias sob um ponto de vista muito particular.