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Preview: Scorsese volta a falar sobre religião em Silence, com Liam Neeson

Roberto Sadovski

16/11/2015 16h38

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Martin Scorsese não é estranho a assuntos polêmicos – principalmente quando a pauta é religião. Em 1988 ele enfureceu uma corrente católica ao adaptar o livro A Última Tentação de Cristo, que trazia Willem Dafoe como um Jesus que ousa questionar seu papel como "salvador" enquanto agoniza na cruz. Uma década depois, em 1997, o diretor abraçou um outro espectro da fé ao retratar a vida do Dalai Lama, líder espiritual tibetano, em Kundun. Os dois filmes trazem uma carga política fortíssima, e não deve ser diferente com Silence, novo trabalho de Scorsese, que ganha pela Variety a primeira imagem de Liam Neeson como um padre que rejeitou a religião – lá atrás, em maio, a EW havia publicado uma foto de Andrew Garfield (O Espetacular Homem-Aranha) como um padre jesuíta português. O filme também traz Adam Driver (Star Wars: O Despertar da Força) no elenco.

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Silence talvez seja o filme mais pessoal da carreira de Scorsese, que chegou a frequentar o seminário quando jovem, antes de escolher trabalhar como cineasta. "Há duas décadas eu tento fazer Silence, e agora finalmente é uma realidade", disse o diretor em uma apresentação em vídeo no festival de cinema de Los Cabos. "Fé é um assunto que sempre me interessou, e o livro de Shusako Endo traz uma reflexão sobre o que significa levar uma vida seguindo a fé cristã." Liam Neeson, que é irlandês e foi criado como católico, vai mais fundo nas questões levantadas pelo livro e, agora, pelo filme. "A pergunta no filme é, existe um deus? Qual o propósito da fé? O que nos faz sair da cama todos os dias pela manhã? São perguntas simples que o filme dramatiza de maneira espetacular", disse em Los Cabos. "E quem vai recusar um trabalho com Scorsese?" Nesson, claro, teve um papel pequeno porém crucial no drama Gangues de Nova York, de 2002.

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Mas o relógio volta ainda mais no tempo em Silence. A trama gira em torno da jornada do jesuíta Sebastião Rodrigues (Garfield), que chega ao Japão em 1638 ao lado de outro padre, Francisco Garupe (Driver) para encontrar seu mentor, o padre Cristóvão Ferreira (Neeson), que pode ter renunciado a religião católica – ele é uma figura histórica, um missionário que cometeu apostasia (a renúncia da fé) após ser torturado por cinco horas durante os expurgos anti-cristãos no Japão. É neste cenário, de perseguição e violência, que a fé dos jovens missionários será testada. No Brasil, a amostra de parte dos storyboards do filme serviu como base do cartaz da última Mostra de Cinema de São Paulo. Silence ainda não tem data para estrear (a longa pós-produção impediu que ele entrasse em cartaz ainda em 2015 como concorrente ao Oscar do ano que vem), mas deve ter sua primeira exibição no próximo Festival de Cannes.

Sobre o autor

Roberto Sadovski é jornalista e crítico de cinema. Por mais de uma década, comandou a revista sobre cinema "SET". Colaborou com a revista inglesa "Empire", além das nacionais "Playboy", "GQ", "Monet", "VIP", "BillBoard", "Lola" e "Contigo". Também dirigiu a redação da revista "Sexy" e escreveu o eBook "Cem Filmes Para Ver e Rever... Sempre".

Sobre o blog

Cinema, entretenimento, cultura pop e bom humor dão o tom deste blog, que traz lançamentos, entrevistas e notícias sob um ponto de vista muito particular.