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Zoolander 2 é uma piada ruim que já saiu de moda

Roberto Sadovski

03/03/2016 15h37

zoolander

Zoolander chegou aos cinemas ianques dezessete dias depois do ataque às torres do World Trade Center, em 11 de setembro de 2001. O país estava de luto, e talvez uma comédia boboca e inofensiva sobre um modelo com QI de ameba enfrentando um gênio do mal fosse o que o público precisava para desligar a mente do horror da vida real. Com o tempo, Zoolander se tornou cult, com suas referências à cultura pop, suas piadas politicamente incorretas e uma descarada tiração de sarro à indústria da moda e a seus ícones que se levam a sério demais.

Corta para quinze anos depois. Os Estados Unidos já estão (mais ou menos) recuperados do 11/9. O prognóstico que filmes como Zoolander seriam tudo que o povo ia querer assistir, deixando de lado filmes de ação com tiros e explosões, não se confirmou. Ben Stiller continuou dirigindo filmes e amadurecendo seus temas, de Trovão Tropical (que é jóia) a A Vida Secreta de Walter Mitty (que não é tão jóia assim, mas, né…). Mas como nostalgia é uma das forças que move as engrenagens do cinema, ele achou uma boa ideia ressuscitar seu Derek Zoolander. Convocou os amigos, aumentou o escopo, retomou o personagem. Só esqueceu que precisava de uma boa história para amarrar a coisa toda.

Zoolander 2 é um engavetamento em descida de serra. Curioso o bastante para diminuir a velocidade e dar uma espiada, mas nada tão grave que valha a pena encostar e dar uma força. É uma comédia sem graça, que parece até seus similares brasileiros quando tenta fazer rir na base do grito e da histeria. A trama é tão preguiçosa que tenta refazer os beats do original, porém sem encaixar nem uma ideia nova. Fora de sintonia com o próprio assunto que tenta satirizar, o filme termina como uma salada de gags que, se ora funcionam para arrancar um sorriso, nunca funcionam quando amarradas num contexto – se é que dá para chamar a trama assim.

Quinze anos depois do filme original, Zoolander (Stiller) vive como um eremita, isolado do mundo após causar a morte da mulher e de perder a custódia de seu filho. Um convite para voltar às passarelas o faz deixar seu isolamento e reencontrar seu amigo e ex-rival, Hansen (Owen Wilson), que nutre rancor pelo modelo por ter ficado com o rosto desfigurado no mesmo acidente provocado por Zoolander…. Lendo assim, a trama parece um drama de superação, mas na verdade é desculpa para Stiller e seu exército de roteiristas entulhar o filme com personagens bizarros e celebridades que toparam uma ponta.

O problema é que nada surge como algo além de escada para Stiller. Benedict Cumberbatch dá as caras como o modelo andrógino Tudo, mas sai de cena em menos de dez minutos. Kristen Wiig entra no jogo como a empresária da moda Alexanya Atoz, de figurino esdrúxullo e um sotaque tão bizarro que as legendas em português sequer tentam acompanhar – mesmo assim, ela também não tem função além de decorativa. Pior sorte tem Penélope Cruz, alçada à condição de co-protagonista no papel da ex-modelo/agente da Interpol Valentina Valência, que basicamente serve como "atriz gostosa" no filme e nada mais.

A história é uma bobagem sobre a morte de astros pop, como Justin Bibier, que esconde uma conspiração para encontrar a fonte da juventude – a piada óbvia, que Penélope Cruz já foi atrás do mesmo mcguffin no último Piratas do Caribe, passa batida. A volta de Zoolander e Hensel esconde um plano para encontrar o "escolhido", único capaz de revelar o mito, e termina num plot de vingança de Jacobim Mugatu, vilão interpretado por Will Ferrell. Não é exagero dizer que Ferrell é a melhor coisa do filme: é certo dizer que ele é a única coisa que vale a pena em todo o filme!

Zoolander 2 é o típico caso de egotrip hollywoodiana, do astro que conta com a boa vontade da indústria para bancar uma bobagem que, basicamente, funcionou em um momento específico. Não havia "demanda" para um segundo filme ou para a volta dos personagens. Os amigos, claro, compareceram em peso – Sting, Billy Zane, Katy Perry, Kiefer Sutherland (no papel mais bizarro do longa), Naomi Campbell, TODO MUNDO que é alguém no mundo da moda, Cumberbatch, Bibier. O público, por sua vez, deu de ombros: Zoolander 2 encontrou os cinemas vazios porque, pelo visto, ninguém quer ouvir a mesma piada duas vezes. E nem quinze anos depois.

Sobre o autor

Roberto Sadovski é jornalista e crítico de cinema. Por mais de uma década, comandou a revista sobre cinema "SET". Colaborou com a revista inglesa "Empire", além das nacionais "Playboy", "GQ", "Monet", "VIP", "BillBoard", "Lola" e "Contigo". Também dirigiu a redação da revista "Sexy" e escreveu o eBook "Cem Filmes Para Ver e Rever... Sempre".

Sobre o blog

Cinema, entretenimento, cultura pop e bom humor dão o tom deste blog, que traz lançamentos, entrevistas e notícias sob um ponto de vista muito particular.