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Morre Darwyn Cooke, artista de quadrinhos que modernizou o passado

Roberto Sadovski

14/05/2016 16h43

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Darwyn Cooke, roteirista e desenhista de histórias em quadrinhos, morreu na madrugada deste sábado, 14 de maio, aos 53 anos. Foi vítima de um câncer agressivo. Vai deixar saudades. Mas um artista genial como Cooke é imortal em sua obra, e seu legado continuará a encantar gerações e gerações de entusiastas por um motivo simples: ele era único. De traço sofisticado e cheio de personalidade, ele parecia pertencer a outra época, em que o mundo e as HQs pareciam mais inocentes, mas carregavam imensa densidade emocional quando vistos além da superfície.

Embora tenha começado sua carreira nos quadrinhos em 1985, Cooke pisou no freio e trabalhou principalmente como diretor de arte no mercado editorial, além de designer gráfico e de produtos por quinze anos. Os anos 90, com influência pesada do estilo exagerado dos quadrinhos da Image Comics como Spawn e Youngblood, não achava espaço para seu traço ligeiramente cartunesco. Ele foi então trabalhar na Warner Bros. Animation ao lado do produtor Bruce Timm, emprestando seu lápis para os storyboards das séries de animação do Batman e do Superman, posteriormente dirigindo o desenho animado baseado em Homens de Preto.

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The Spirit

O novo século trouxe uma apreciação renovada por seu estilo, e o artista desenhou a graphic novel Batman: Ego em 2000, além de trabalhos também para a Marvel. Uma renovação narrativa e visual da Mulher-Gato o colocou definitivamente no mapa, selando sua associação com a DC Comics. E foi na editora que Cooke executou sua maior obra prima. Em 2004, ele escreveu e desenhou a minissérie DC: A Nova Fronteira, uma trama ambientada nos anos 50, com forte influência não só do design gráfico da época, mas também das conquistas tecnológicas e sociais dos Estados Unidos pós Segunda Guerra Mundial, retratadas por Tom Wolfe em seu romance Os Eleitos (transformado em filme em 1983).

A Nova Fronteira trazia os heróis da Era de Ouro dos quadrinhos – Superman, Batman e Mulher-Maravilha – fazendo o salto para a Era de Prata, quando a fantasia épica deu espaço à ficção científica em uma revisão de personagens clássicos como Lanterna Verde e o Flash. A série reintroduziu personagens da DC na mesma ordem em que eles foram originalmente publicados, integrados corretamente em meses e anos (entre 1953 e 1960) dentro da linha cronológica da história, e renovou o interesse em um período pouco revisitado nas histórias em quadrinhos. Com sua mistura de nostalgia e reverência, e influência pesada do traço do mestre Jack Kirby, A Nova Fronteira ganhou os principais prêmios das histórias em quadrinhos nos Estados Unidos e foi adaptada em um longa de animação em 2008.

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A Nova Fronteira

Depois de A Nova Fronteira, Cooke tornou-se o primeiro artista na lista dos editores de quadrinhos quando o assunto era dar um sabor moderno a personagens clássicos. Ele e o roteirista Jeph Loeb produziram um inusitado encontro entre Batman e o Spirit, criação imortal de Will Eisner, o que levou Cooke a assumir texto e lápis de um novo título do personagem por um ano. Sua paixão pelo pós Segunda Guerra, porém, o afastou das grandes editoras e o levou para a independente IDW, onde ele adaptou as histórias do assaltante profissional Parker, criação do escritor pulp Richard Stark (pseudônimo de Donald Westlake) que havia inspirado o clássico À Queima-Roupa, filme protagonizado por Lee Marvin em 1967. O resultado foi um casamento perfeito.

Em quatro graphic novels, Darwyn Cooke entrou no mundo sórdido de Parker com paixão arrebatadora – eu fui mais à fundo neste casamento em um texto que você pode ler aqui. Em total sintonia com a narrativa tecida por Richard Stark, o artista criou seu trabalho definitivo, uma obra de traço enxuto e economia narrativa, sem espaço para gordura e sempre direto ao ponto. As graphic novels – The Hunter, The Outfit, The Score e Slayground – surgiram com a promessa de continuidade para adaptar todas as aventuras de Parker. Promessa agora interrompida com a morte de Cooke. Seu último trabalho de peso foi a excelente série Antes de Watchmen: Minutemen, um prólogo da obra de Alan Moore recebido com nariz torcido por muitos fãs. Bobagem. A melhor forma de lembrar a vida de um artista que se vai é conhecendo seu legado. E nunca é tarde ou tempo perdido mergulhar nos mundos criados por Darwyn Cooke.

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Darwyn Cooke, 16 de novembro de 1962 – 14 de maio de 2016

Sobre o autor

Roberto Sadovski é jornalista e crítico de cinema. Por mais de uma década, comandou a revista sobre cinema "SET". Colaborou com a revista inglesa "Empire", além das nacionais "Playboy", "GQ", "Monet", "VIP", "BillBoard", "Lola" e "Contigo". Também dirigiu a redação da revista "Sexy" e escreveu o eBook "Cem Filmes Para Ver e Rever... Sempre".

Sobre o blog

Cinema, entretenimento, cultura pop e bom humor dão o tom deste blog, que traz lançamentos, entrevistas e notícias sob um ponto de vista muito particular.