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Star Wars Celebration: Rogue One finalmente mostra a guerra nas estrelas

Roberto Sadovski

16/07/2016 07h29

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Ao fim do novo trailer de Rogue One: Uma História Star Wars, Darth Vader finalmente dá as caras em toda sua glória. Bom, ele não "apareceu" exatamente… Seu reflexo é mostrado, sua respiração pesada e mecânica é ouvida, mas Vader é mais sugerido do que revelado – o que deve ficar para o filme, claro. Não importa. As centenas de fãs que lotavam o auditório principal da Star Wars Celebration, em Londres, responderam à altura, coroando com entusiasmo (e gritos, e aplausos!) o painel dedicado ao novo filme.

Deve ter bastado para alguns executivos da Disney, dona da Lucasfilm e, por tabela, da marca Star Wars, respirarem aliviados. A estrada de Rogue One não é fácil, principalmente depois da profusão de textos espalhados pela internet que apontavam algum problema com a produção, que voltou à frente das câmeras algumas semanas atrás – procedimento absolutamente normal em um filme desse porte, interpretado por alarmistas como sinal de correção de curso. O maior desafio de seus realizadores, portanto, seria mostrar ao público qual é exatamente a história sendo contada desta vez. E não só aos fãs, já escolados na "galáxia muito distante", mas principalmente para aqueles que tiveram seu primeiro vislumbre do universo criado por George Lucas ano passado, com O Despertar da Força, e não sabem a diferença de R2-D2 para BB-8.

LONDON, ENGLAND - JULY 15: Felicity Jones on stage during the Rogue One Panel at the Star Wars Celebration 2016 at ExCel on July 15, 2016 in London, England. (Photo by Ben A. Pruchnie/Getty Images for Walt Disney Studios) *** Local Caption *** Felicity Jones

Felicity Jones toda feliz (!) com o primeiro action figure de Jyn Erso

O filme dirigido por Gareth Edwards (Godzilla), afinal, não faz parte da "saga", não é o Episódio VIII, não conta a saga da família Skywalker. "Rogue One, assim como os próximos filmes fora da trama original, são a cola que une os capítulos dessa saga", explica a produtora Kathleen Kennedy, hoje presidente da Lucasfilm. "São as histórias de pessoas que habitam o mesmo universo, dando a chance para jogar luz em eventos ouvidos, mas nunca mostrados."

A ideia original de Rogue One foi sugerida por John Knoll, gênio à frente da empresa de efeitos especiais Industrial Light + Magic, que imaginou uma história integral ao cânone de Star Wars. Não tinha como ser diferente, já que ela é narrada nos dois primeiros parágrafos do texto que abre o Guerra nas Estrelas lançado em 1977. "Já esta a tudo lá", lembra Knoll. "George escreveu que, antes de Uma Nova Esperança, o Império teve seu primeiro combate com a Aliança Rebelde, e os planos da Estrela da Estrela da morte foram roubados por espiões em meio ao conflito." Uma coisa, porém, é ler o textão que abre um filme clássico; outra é de fato bolar a história que mostra esses acontecimentos.

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O primeiro cartaz de Rogue One mostra a guerra no paraíso

É aí que Gareth Edwards entra em cena. Convocado por Kathleen Kennedy para comandar o primeiro Star Wars fora da saga principal, o diretor de Godzilla optou por um outro caminho. "Não podia ignorar tudo que já fora mostrado em sete filmes", explica Edwards. "Ao mesmo tempo, não podia também deixar que a reverência a uma série que eu adoro impedisse que explorássemos um território novo." A opção foi afastar Rogue One do tom épico de todos os filmes da saga até então, apostando em seu lugar num filme de guerra mais cru, mais pés no chão, narrado do ponto de vista de quem teve a vida afetada pela ascensão do Império, a condução da Lei e Ordem na galáxia com mãos de ferro e a união de quem decidiu rebelar-se contra o estado das coisas.

O resultado parece de fato diferente de tudo que Star Wars mostrou até hoje. O material exibido na Celebration – o mesmo que você confere no vídeo de bastidores lá embaixo; o trailer com Vader por enquanto só foi visto por quem estava no evento em Londres – podia fazer parte de qualquer longa ambientado na Segunda Guerra Mundial ou na Guerra do Vietnã, não fossem as armas que disparam raios e as máquinas de combate futuristas. No centro de tudo está Jyn Erso (Felicity Jones, que certa,ente salta daqui para o estrelato absoluto), mercenária apontada pela recém-formada Aliança Rebelde para roubar os planos da tal arma suprema desenvolvida pelo Império. "Sua busca é menos por sua identidade e mais por seu lugar no mundo", conta a atriz. "Mas ainda é uma história sobre pais e filhos, e Jyn também tem algumas contas a acertar com o passado." Essa busca é representada por seu pai, Galen Erso (papel de Mads Mikkelsen), um cientista que inventou um aparelho, nas palavras de Felicity, "capaz de redefinir o curso da galáxia". Mais mistérios a caminho.

LONDON, ENGLAND - JULY 15: (L-R) Kiri Hart, Mads Mikkelsen, Kathleen Kennedy, Forest Whitaker, Alan Tudyk, Donnie Yen, Felicity Jones, Riz Ahmed, Diego Luna and Ben Mendelsohn on stage during the Rogue One Panel at the Star Wars Celebration 2016 at ExCel on July 15, 2016 in London, England. (Photo by Ben A. Pruchnie/Getty Images for Walt Disney Studios) *** Local Caption *** Kiri Hart; Gareth Edwards; Kathleen Kennedy; Forest Whitaker; Mads Mikkelsen; Alan Tudyk; Donnie Yen; Felicity Jones; Riz Ahmed; Diego Luna; Ben Mendelsohn

O elenco de Rogue One toma o palco da Star Wars Celebration

Rogue One segue, então, a trilha de filmes como Os Canhões de Navarone e Os Doze Condenados. Jyn começa a trabalhar com o rebelde Cassian Andor (Diego Luna), e logo os dois juntam mais almas a seu bando de desajustados. Alan Tudyk é K-2SO, dróide imperial reprogramado por Andor, mas pouco propenso a seguir ordens e de personalidade geniosa. Chirrut (Donnie Yen) é um lutador cego que acredita nos caminhos dos Jedi, que há muito foram banidos da galáxia; seu parceiro, Baze (Wen Jiang), prefere acreditar no poder de seu armamento pesado. Bohdi (Riz Ahmed) obedecia ao Império, até perceber que sua lealdade estava no lugar errado. E Forest Whitaker dá vida. Saw Gerrera, único personagem de Rogue One que já fazia parte do universo Star Wars: ele foi introduzido na série animada Clone Wars, e surge como um guerreiro que logo ergueu-se contra o jugo do Império, aos poucos unindo células rebeldes na Aliança que, eventualmente (mais precisamente em O Retorno de Jedi), derrubaria as forças do mal.

Ao contrário dos filmes da saga, Rogue One mergulha fundo no campo de batalha, trazendo um clima mais cru e menos fantasioso para a saga. "Eu tinha algumas ideias, todas vindas de filmes com os quais cresci, e queria aplicar no universo de Star Wars", explica o diretor. "E filmes de guerra muitas vezes levam o caos ao paraíso." Edwards refere-se principalmente à batalha travada entre rebeldes e forças imperiais em uma praia, entre palmeiras, mar aberto e o céu azul. Para rodar a sequência a produção deslocou-se para as Ilhas Maldivas e, na melhor tradição Star Wars, rodou em locação. Vale lembrar que O Império Contra-Ataca, que traz a já clássica Batalha de Hoth, levou elenco e equipe para a gelada Islândia. Por falar em locações, uma das cenas de Rogue One foi filmada, de todos os lugares, e uma estação de metrô londrina. "Foi divertido ver todos aqueles executivos que pegam o último trem deixar a estação, arrumar todo o cenário, rodar a madrugada e, quatro horas depois, ver o movimento retornar", diverte-se Edwards. "Minha vontade era olhar para cada um entra do no metrô e gritar, 'a gente estava filmando Star Wars bem aqui!'."

Bastidores de "Rogue One: Uma História Star Wars"

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Claro que, para qualquer cineasta com seus 30-e-poucos anos, abraçar um trabalho com a grife Star Wars é também voltar a ser criança. "Mark Hamill visitou o set e estava usando uma camiseta do Godzilla, a gente papeava e tudo que eu pensava era que alguém tinha de tirar uma foto", lembra Edwards, que guardou um clique daquele momento. "E eu estive na posição surreal de mostrar a George Lucas os bastidores de um Star Wars que ele não teve a menor participação." Mas o momento mais especial para o diretor aconteceu longe do set, das criaturas, das locações e da manufatura da magia. Foi em um estúdio de gravação em Londres, quando ele recebeu James Earl Jones para colocar a voz em Darth Vader. "James é um cavalheiro, mas ouví-lo interpretar Vader mais de uma década depois de sua última vez, que foi para uma ou duas frases em A Vingança dos Sith, me transformou em um moleque tendo orgasmos nerd", brinca o diretor. "Eu até tentei manter a postura, mas quando James, ao final de uma frase, e com aquele vozeirão, soltou um 'power', dando a Vader toda sua personalidade, eu não contive o grito." Claro que o ator olhou para o diretor e jogou um "Assim está bom, Gareth?", como se fosse apenas mais um dia de trabalho. Para o resto do mundo, Rogue One será o reencontro com o vilão que aprendemos a admirar.

Sobre o autor

Roberto Sadovski é jornalista e crítico de cinema. Por mais de uma década, comandou a revista sobre cinema "SET". Colaborou com a revista inglesa "Empire", além das nacionais "Playboy", "GQ", "Monet", "VIP", "BillBoard", "Lola" e "Contigo". Também dirigiu a redação da revista "Sexy" e escreveu o eBook "Cem Filmes Para Ver e Rever... Sempre".

Sobre o blog

Cinema, entretenimento, cultura pop e bom humor dão o tom deste blog, que traz lançamentos, entrevistas e notícias sob um ponto de vista muito particular.