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11 refilmagens que são melhores que os filmes originais

Roberto Sadovski

26/09/2016 18h27

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Eu sou completamente a favor de refilmagens. Remakes, reboots, reimaginações…. Pode chamar como for: não existe ideia imaculada que não possa ser revista e reinterpretada. Afinal, arte é um bicho em constante transformação. Sem falar que, por pior que uma refilmagem seja, o original continuará intocado. Acho engraçado quando alguma obra é refilmada e a meia dúzia de puristas começa a gritar que "destruiram filme tal", como se alguém invadisse a casa do sujeito para queimar as cópias em DVD ou destruir o HD. Falo isso porque Sete Homens e Um Destino está em cartaz.

O filme é dirigido por Antoine Fuqua (Dia de Treinamento, O Protetor), com Denzel Washington, Chris Pratt e um monte de gente bacana. É refilmagem de, claro, Sete Homens e Um Destino, que John Sturgez realizou em 1960 com Yul Brynner, Steve McQueen e um monte de gente ainda mais bacana. Filme este que, por sua vez, é refilmagem de Os Sete Samurais, clássico japonês dirigido por Akira Kurosawa em 1954. Vale registrar que eu tenho lugar especial no coração para Mercenários das Galáxias, de Roger Corman e Jimmy T. Murakami, outra revisão da mesma história, uma ficção científica B de 1980 que teve a cara de pau de escalar Robert Vaughn, que havia dividido a cena duas décadas antes com Brynner e McQueen, para fazer o mesmo personagem. O novo Sete Homens não traz nem o climão épico de Kurosawa, nem o charme macho de Sturges, muito menos a tiração de sarro de Corman. É uma aventura digna, decente e esquecível. Entendeu o ponto? Não existe filme proibido, existem acidentes de percurso.

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Os filmes a seguir são o oposto disso. Produções que pegaram uma ideia inicial e foram além, adicionando mais camadas e fazendo com que uma boa trama, às vezes capenga em seu potencial, torne-se algo realmente memorável. São filmes que provam que um remake, quando tem o coração no lugar certo, é uma ótima ideia. Concorda? Discorda? Então não seja tímido e solte o verbo! E vamos a eles.

INVASORES DE CORPOS
(Invasion of the Body Snatchers, Philip Kaufman, 1978)

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refilmagem de
VAMPIROS DE ALMAS
(Invasion of the Body Snatchers, Don Siegel, 1956)

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Rodado no auge da "caça aos comunistas" na Hollywood dos anos 50, sobre alienígenas que, aos poucos, substituem humanos por "cópias" destituidas de emoção, o filme de Siegel transborda metáforas não só sobre a "ameaça vermelha" (aspas e mais aspas), mas também sobre a idiotização da sociedade, sua transformação de seres pensantes a drones obedientes a uma mente coletiva (ou ao "estado"). Um clássico de mérito inabalável. Nas mãos de Philip Kaufman, porém, a ideia transmutou-se em um filme de terror apavorante, um estudo sobre a perda da identidade da América pós-Vietnã, sobre o pesadelo da materialização de uma sociedade sem direito ao pensamento livre. Sem falar em uma das melhores performances de Donald Sutherland e o clímax mais pessimista no pior cenário imaginável.

O ENIGMA DE OUTRO MUNDO
(The Thing, John Carpenter, 1982)

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refilmagem de
O MONSTRO DO ÁRTICO
(The Thing From Another World, Christian Nyby, 1951)

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O lendário Howard Hawks, que traz em sua invejável filmografia clássicos como À Beira do Abismo, Os Homens Preferem as Loiras e Onde Começa o Inferno, produziu este terror B (com direção creditada a Chritian Nyby, mas a gente sabe qual é….), sobre uma equipe da Força Aérea ianque que parte para o Alasca investigar a queda de um OVNI, só para descobrir que seu ocupante, uma criatura mais vegetal que animal, está acordada e furiosa. Tudo muito bom, tudo muito bem. O que John Carpenter fez em 1982, porém, é um dos melhores filmes de todos os tempos. Veja bem: não "terror" ou "ficção científica", mas um dos melhores, ponto! Partindo da premissa original (por sua vez inspirada num conto publicado em 1938), Carpenter reuniu um elenco como pesquisadores numa base no Ártico. Isolados por uma tempestade, eles percebem que abrigam uma forma de vida alienígena, capaz de se disfarçar como qualquer um deles. Paranoia, sangue, morte e destruição segue, resultando em uma obra prima absoluta – melhor filme de Carpenter, melhor filme de Kurt Russell. Ah, Enigma foi canibalizado por Quentin Tarantino de ponta a ponta em Os Oito Odiados, o que ele mesmo confessou a mim: "Os Oito Odiados sou eu tentando imitar John Carpenter e falhando miseravelmente".

A MOSCA
(The Fly, David Cronenberg, 1986)

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refilmagem de
A MOSCA DA CABEÇA BRANCA
(The Fly, Kurt Neumann, 1958)

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A essa altura você já percebeu que o cinema B dos anos 50 foi e continua sendo fonte de inspiração inesgotável para cineastas com mais recursos e ferramentas melhores em mãos. Mas poucas vezes o exemplo foi melhor do que este de David Cronenberg. A Mosca da Cabeça Branca, de 1958, é terrorzão podreira da melhor qualidade, com a paranóia científica (energia atômica como combustível para o teleporte) como desculpa para David Hedison (Viagem ao Fundo do Mar) usar uma máscara de mosca bem tosca. É tão ligado à época que tem até Vincent Price como irmão do protagonista trágico! Mas Cronenberg não quer saber de sustos fáceis, ele quer entrar por baixo da pele do público e cutucar onde mais incomoda. A Mosca é body horror da melhor qualidade, com o cientista defendido por Jeff Goldblum testemunhando, em iguais partes apavorado e fascinado, sua humanidade dar tchauzinho quando suas moléculas e as de uma mosca aos poucos vão se fundindo, com resultados devastadores. Isso já foi há trinta anos? Uau…

CABO DO MEDO
(Cape Fear, Martin Scorsese, 1991)

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refilmagem de
CÍRCULO DO MEDO
(Cape Fear, J. Lee Thompson, 1962)

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Gregory Peck é o advogado cuja família é atormentada pelo criminoso que ele ajudou a colocar atrás das grades, interpretado por Robert Mitchum. O filme de J. Lee Thompson, veteraníssimo de Os Canhões de Navarone que terminou dirigindo Charles Bronson em um par de filmes policiais ultrafascistas nos anos 80, criou uma história perfeita sobre vingança, assassinato e o poder do medo. O bastante para chamar a atenção de Scorsese no começo da década de 90. Seu remake, porém, tem um ponto fora da curva que o eleva para acima da média: a interpretação exagerada, grotesca, sexy e sensacional de Robert De Niro, aqui assumindo o papel de avatar da vingança, destruindo o núcleo familiar de Nick Nolte – e sua sanidade no processo. Peck e Mitchum surgem em pontas dignas, Jessica Lange é a mulher de Nolte, tragada para o mesmo círculo de violência, e Scorsese ainda conseguiu apresentar Juliette Lewis ao mundo, no que ainda é, de longe, seu melhor papel.

TRUE LIES
(James Cameron, 1994)

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refilmagem de
LA TOTALE!
(Claude Zidi, 1991)

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Na comédia francesa que Claude Zidi (Golpe de Tiras, O Incorrigível) fez em 1991, um funcionário público é, secretamente, um espião que desbarata o esquema de um traficante de armas. Fim. James Cameron pegou o conceito de Zidi lhe deu um banho de blockbuster, colocando Arnold Schwarzenegger (ná época, ainda o maior astro de cinema do planeta) vivendo uma vida dupla. Não só isso, o diretor anabolizou o papel de sua mulher, interpretada por Jamie Lee Curtis e colocou o drama familiar (Arnold nunca contou a Jamie que era um superespião) em meio a uma trama de terroristas, armas nucleares, traição e, bom, traição. True Lies é um dos melhores filmes de ação dos anos 90, e também um dos mais divertidos e visualmente impressionantes: foi o primeiro, depois de Jurassic Park, a realmente levantar sobrancelhas com seu trabalho visual (o clímax na ponte ;e para aplaudir de pé). Fato bizarro: impossível de ser achado em DVD, ainda é inédito em blu ray. Acelera, James!

FOGO CONTRA FOGO
(Heat, Michael Mann, 1995)

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refilmagem de
OS TIRAS DE LOS ANGELES
(LA Takedown, Michael Mann, 1989)

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O caso aqui é curioso, mas longe de ser inédito. O mestre do suspense, Alfred Hitchcock, refez vários filmes de seu começo de carreira quando aportou em Hollywood. O que Michael Mann fez aqui foi anabolizar a escala e recontar uma história com, digamos, ferramentas melhores. Os Tiras de Los Angeles é um longa feito para televisão e conta o embate de um policial e um criminoso na cidade da Costa Oeste americana. Fogo Contra Fogo é um animal mais ambicioso de cara, já que o diretor conseguiu colocar, pela primeira vez, Al Pacino (o policial) e Robert DeNiro (o criminoso) para contracenar, olho no olho. A cena com os dois é eletrizante e foi rodada quase de improviso em um restaurante na cidade. LA, por sinal, torna-se personagem, já que sua geografia é parte integral da narrativa. Não existe a menor comparação entre estes dois momentos de Michael Mann, separados por apenas seis anos. Ainda na dúvida? Então veja Fogo Contra Fogo, nem que seja para conferir um dos tiroteiros mais bem orquestrados da história do cinema.

SEXTA-FEIRA MUITO LOUCA
(Freaky Friday, Mark Waters, 2003)

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refilmagem de
SE EU FOSSE A MINHA MÃE
(Freaky Friday, Gary Nelson, 1976)

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Houve uma época em que comédias bobocas em que pais trocam de lugar com filhos eram figura fácil no cinemão. A tradição é antiga, e Jodie Foster, prestes a deixar queixos coletivos no chão com seu papel em Taxi Driver, encarou um filme assim pela Disney: ela não se bica com sua mãe (papel de Barbara Harris), mas uma troca de corpos via magia conematográfica fax com que uma entenda melhor a outra. Tudo muito meigo, tudo muito blé. A versão para o novo século, Sexta-Feira Muito Louca, é uma delícia de comédia, pegando Jamie Lee Curtis no auge de seu charme e Lindsay Lohan fazendo com maestria a transição de estrela mirim para atriz adolescente. As duas, por sinal, dão show quando encaram o papel da mulher madura (Lindsay, com a mente da mãe) e da adolescente rebelde (Jamie, com a mente da filha). O filme de Mark Waters (Garotas Malvadas) é um recorte até triste. Jodie Foster partir de seu Freaky Friday para se tornar uma das mulheres mais poderosas do cinema. Lindsay Lohan, por sua vez, engrossou a lista dos artistas infantis que conseguiram conduzir a carreira para o esquecimento.

ONZE HOMENS E UM SEGREDO
(Ocean's Eleven, Steven Soderbergh, 2001)

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refilmagem de
ONZE HOMENS E UM SEGREDO
(Ocean's 11, Lewis Milestone, 1960)

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Verdade seja dita: o Onze Homens e Um Segredo original é um thriller sem o menor charme, que existe unicamente para que o Rat Pack sessentista (Frank Sinatra, Dean Martin, Sammy Davis Jr. e Peter Lawford) pareça cool em cena. Um tédio só. Nas mãos de Steven Soderbergh, porém, a ideia dos criminosos unidos para roubar uma série de cassinos em Las Vegas tornou-se um dos filmes mais divertidos do cinema recente. "Diversão" é mesmo a palavra de ordem, já que o elenco reunido por George Clooney (que inclui Brad Pitt, Matt Damon, Don Cheadle, Andy Garcia e Julia Roberts) parece entrar tanto no clima quanto a gente do lado de cá da câmera. Leve, ligeiro e com um texto brilhante (e bastante improvisado), o Onze Homens e Um Segredo do novo século resume tudo de bom que o cinema como entretenimento pode oferecer.

OS INDOMÁVEIS
(3:10 to Yuma, James Mangold, 2007)

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refilmagem de
GALANTE E SANGUINÁRIO
(3:10 to Yuma, Delmer Daves, 1957)

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Galante e Sanguinário, baseado num conto de Elmore Leonard, é um western clássico que, apesar de seus méritos (a bela fotografia em preto e branco, Glenn Ford num raro papel de vilão), foi "engolido" por clássicos contemporâneos como Matar ou Morrer, Rastros de Ódio e Os Brutos Também Amam. Corta para 2007, quando o diretor James Mangold (Copland) continuou sua busca eclética em trafegar por todos os gêneros do cinema e escolheu 3:10 to Yuma para dar nova roupagem. Acertou em todos os quesitos. Desde o elenco, encabeçado por Russell Crowe, bandido que é conduzido para um encontro com a lei pelo rancheiro interpretado por Christian Bale, até o subtexto de corrupção, cobiça e brutalidade, melhor explorado do que no original. O western é um dos gêneros mais completos do cinema, e encontra neste Os Indomáveis um de seus melhores exemplares contemporâneos.

MILLENNIUM: OS HOMENS QUE NÃO AMAVAM AS MULHERES
(The Girl With the Dragon Tattoo, David Fincher, 2011)

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refilmagem de
OS HOMENS QUE NÃO AMAVAM AS MULHERES
(Män Som Hatar Kvinnor, Neils Arden Oplev, 2009)

Miehet jotka vihaavat naisia (K15) MTV3-kanavalla sunnuntaina 5.12.2010 klo 21.00. Stieg Larssonin supersuosittuun trilogiaan perustuvan elokuvasarjan ensimm‰isess‰ osassa Millenium-lehden toimittaja Mikael Blomkvist (Michael Nyqvist) tuomitaan vankilaan kunnianloukkauksesta h‰nen kirjoitettuaan teollisuuspohatan h‰m‰r‰bisneksist‰. Sitten sukufirman entinen johtaja Henrik Vanger haluaa h‰nen selvitt‰v‰n 40 vuotta sitten kadonneen veljentytt‰rens‰ kohtalon. Kuvassa: Noomi Rapace (Lisbeth Salander) ja Peter Andersson (Nils Bjurman).

O romance de Stieg Larson ganhou uma adaptação em sua terra natal, a Suécia, que deu origem a mais dois filmes e, em seguida, a uma minissérie de TV, compilando o material do cinema com cenas extra. O primeiro thriller é tenso, competente, dando forma ao texto de Larson de maneira brilhante, e rendeu mais de 100 milhões de dólares em todo o mundo – além de ter revelado a atriz Noomi Rapace, em sintonia perfeita com Michael Nyqvist. O que diabos Hollywood estava pensando ao encomendar uma refilmagem apenas dois anos depois? A resposta é uma só: David Fincher. Ao assumir o comando da versão ianque, Fincher foi meticuloso como sempre, estiloso como nunca e entregou um filme mais redondo, melhor produzido e igualmente hipnotizante. Apesar de o texto diferir levemente da primeira adaptação de Larson, em especial a resolução da trama, o diretor de Seven e Clube da Luta não aliviou nas passagens mais brutais e encontrou em Daniel Craig e Rooney Mara intérpretes à altura da dupla original. Uma continuação ainda não saiu do papel. Mas, honestamente, nem precisa: o final ambíguo desta "garota com o dragão tatuado" é perfeito.

BRAVURA INDÔMITA
(True Grit, Joel e Ethan Coen, 2010)

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refilmagem de
BRAVURA INDÔMITA
(True Grit, Henry Hathaway, 1969)

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O livro no qual ambos os filmes são baseados, publicado por Charler Portis em 1968, é considerado um dos grandes romances americanos. Merecia uma adaptação à altura, o que Henry Hathaway fez o possível para entregar. Não que o western que rendeu um Oscar a John Wayne seja desprovido de mérito. Mas ele é justamente isso: um western de John Wayne, com o astro dominando a cena com sua personalidade maior que a vida. É nele o foco de uma história de vingança, quando uma adolescente, Mattie Ross (Kim Darby), parte em busca do Zé Ninguém que assassinou seu pai com o ajuda do texas ranger Rooster Cogburn (Wayne). O filme dos Coen diminuo o clima gung-ho, recoloca o foco em Mattie (agora vivida por Hailee Steinfeld) e faz de Cogburn menos uma figura heróica e mais um retrato do fim de uma era, um sujeito vergado por fracassos, decepção e toda morte e violência impregnada em sua retina. Papel que Jeff Bridges assumiu com louvor, em um filme melancólico, de beleza escancarada e força narrativa sem igual.

Sobre o autor

Roberto Sadovski é jornalista e crítico de cinema. Por mais de uma década, comandou a revista sobre cinema "SET". Colaborou com a revista inglesa "Empire", além das nacionais "Playboy", "GQ", "Monet", "VIP", "BillBoard", "Lola" e "Contigo". Também dirigiu a redação da revista "Sexy" e escreveu o eBook "Cem Filmes Para Ver e Rever... Sempre".

Sobre o blog

Cinema, entretenimento, cultura pop e bom humor dão o tom deste blog, que traz lançamentos, entrevistas e notícias sob um ponto de vista muito particular.