Topo

Assisti a 15 minutos de Dr. Estranho e confirmo: o bagulho é louco!

Roberto Sadovski

12/10/2016 04h10

Marvel's DOCTOR STRANGE..Doctor Stephen Strange (Benedict Cumberbatch)..Photo Credit: Film Frame ..©2016 Marvel. All Rights Reserved.

Quando a gente acha que não há mais territórios a ser explorados no panorama dos filmes de super-heróis, vem a Marvel e mostra que o buraco do coelho pode descer ainda mais fundo. Caso em questão: Dr. Estranho, adaptação em celulóide para o Mestre das Artes Místicas, que ganha a versão mais lisérgica que uma aventura baseada em gibis pode querer. Assisti a 15 minutos do filme dirigido por Scott Derrickson e digo, sem exagero, que nunca vi nada parecido antes. Ao menos não em um produto mainstream atrelado à marca mais poderosa da cultura pop atual.

Vale desfraldar um pouco de história. O Dr. Estranho foi criado por Stan Lee e Steve Ditko nos anos 60, em meio ao boom que deu origem ao universo Marvel. Como os outros personagens, o mago abordava um aspecto do zeigeist – no caso, o fascíonio pelo sobrenatural e pelo Oriente "misterioso" -, traduzido em gibis de visual absolutamente fora da caixinha. Embora Ditko estivesse solidificante sua carreira com as paisagens urbanas de Nova York à frente da série do Homem-Aranha, era nas viagens visuais de Dr. Estranhpo que o artista parecia fincar os dentes com gosto. Longe de abordar mundos mágicos com os "abracadabras" habituais, Lee criou todo um vocabulário de tomos ancestrais, criaturas interdimensionais, poderes misteriosos e universos paralelos que, no traço de Ditko (e depois no de Gene Colan, de Frank Brunner), deixaram as aventuras do cirurgião Stephen Strange, escolhido para ser o Mago Supremo de nosso universo, bem esquisitas.

Agora, todo este universo ganha tradução em filme. O resultado, pelo que foi mostrado, acerta em cheio – o featurette que eu mostro aí em cima traz uma fagulha do que assisti no preview. Derrickson não se furta em pintar as cenas com um toque de psicodelia que não faria feio em um filme sobre viciados em psicotrópicos. É um universo que flutua entre Pink Floyd The Wall e 2001: Uma Odisséia no Espaço, com pitadas de A Origem, somadas a doses de Buñuel e Jodorowsky. O resultado é uma explosão de cores e sensações que usa o 3D de maneira brilhante (você precisa assistir numa tela de Imax), uma experiência imersiva com total função narrativa: nos transportar, ao lado de Stephen Strange (Benedict Cumberbatch), a dimensões que existem paralelas à nossa. Projeções astrais, realidade dobrada e a negação das leis da física completam o quadro. Conseguir isso num filme para consumo de massa é um feito e tanto.

Tudo isso chega num pacote desenhado para mostrar a origem do Dr. Estranho e assinalar sua missão: num mundo em que ameaças físicas são combatidas pelos Vingadores (o que é citado em parte do preview), o Mago Supremo é necessário para defender a humanidade de forças malignas que sequer desconfiamos da existência. Claro que é o ponto de partida para explorar um lado do universo Marvel no cinema, assim como foi Thor (os mundos épicos e mitológicos), Guardiões da Galáxia (as aventuras cósmicas) e Homem-Formiga (as dimensões paralelas). Com os filmes de super-heróis já parte integral da experiência do público consumidor de cinema,  ampliar os horizontes e apresentar personagens pouco conhecidos da massa, ainda não impressos em nosso DNA pop, é uma tarefa menos complexa. Uma década atrás, um filme como Dr. Estranho seria uma impossibilidade; hoje, é a evolução natural.

strange

O filme traduz com louvor os quadrinhos de Steve Ditko

Claro que, entre o visual lisérgico e a tradução perfeita das páginas que deram origem ao Dr. Estranho, existe um filme de múltiplas funções, sendo a mais urgente colocar mais peças no intrincado quebra-cabeças que é o Universo Cinematográfico Marvel. A essa altura, a aventura comandada por Scott Derrickson pode até funcionar isoladamente. Mas a graça de acompanhar a Marvel no cinema é justamente ver como um novo filme soma-se ao oceano de informações servido desde Homem de Ferro, de 2008, e como ele ajuda a alavancar essa narrativa. Mas isso é papo para o futuro. Agora, o bacana é esperar Dr. Estranho de ponta a ponta. O preview (mostrado simultaneamente em diversas cidades pelo mundo) prova que a Marvel continua firme em sua missão de inovar usando o mesmo tabuleiro com novas peças. Algo me diz que eles tem um novo vencedor em mãos.

Sobre o autor

Roberto Sadovski é jornalista e crítico de cinema. Por mais de uma década, comandou a revista sobre cinema "SET". Colaborou com a revista inglesa "Empire", além das nacionais "Playboy", "GQ", "Monet", "VIP", "BillBoard", "Lola" e "Contigo". Também dirigiu a redação da revista "Sexy" e escreveu o eBook "Cem Filmes Para Ver e Rever... Sempre".

Sobre o blog

Cinema, entretenimento, cultura pop e bom humor dão o tom deste blog, que traz lançamentos, entrevistas e notícias sob um ponto de vista muito particular.