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Morre o desenhista de quadrinhos Steve Dillon, co-criador de Preacher

Roberto Sadovski

22/10/2016 16h31

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Steve Dillon, co-criador de Preacher e artista definitivo do Justiceiro, morreu hoje, 22 de outubro. Ele tinha 54 anos e continuava mais ativo, influente e impressionante do que nunca. A causa de sua morte ainda não foi divulgada, mas sua perda joga uma sombra irremovível sobre toda a indústria dos quadrinhos mundiais. Até por que, em um mundo de artistas que muitas vezes se adaptam à novas tendências e estilos, Dillon permaneceu imutável e absolutramente original. Sua arte trazia uma mistura de realismo com ultraviolência cartunesca impossível de ser copiada. um estilo verdadeiramente único e especial. Impossível imaginar Preacher, sua obra-prima, ao lado do roteirista Garth Ennis, com outro traço.

Econômico e bem humorado na ponta do lápis, Dillon também era um prodígio. Ele começou aos 16 anos, iustrando uma história do título Hulk Weekly para a Marvel britânica. Nos anos 80, lapidou seu talento em títulos seminais como Warrior, Dr. Who e, principalmente, 2000 A.D., na qual desenhou, entre outros, o icônico Judge Dreed. Foi nessa época que a DC Comics atravessou o oceano para buscar, no Reino Unido, novos talentos para revitalizar seu catálogo. Dillon chegou ao Novo Mundo acompanhado de artistas do quilate de Neil Gaiman, Alan Moore, Grant Morrisson e Garth Ennis. E foi no título Hellblazer, que acompanhava a saga soturna do mago moderno John Constantine, que ele se tornou conhecido pelos fãs das HQs mainstream.

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O Justiceiro no traço de Steve Dillon

Meu primeiro contato com o traço de Dillon, porém, não foi em Hellblazer. Foi em Skreemer, uma minissérie publicada por aqui pela Abril, quando gibis colocavam a cabeça para fora do gueto nerd por conta do Batman de Tim Burton e quadrinhos "adultos" achavam mais e mais espaço nas bancas. A trama, um neo-noir distópico escrito por Peter Milligan (outro autor britânico), tinha arte de Brett Ewins, mas a finalização de Dillon lhe dava personalidade, com algumas sequências claramente executadas em seu estilo. Preacher veio em 1995 e fez história. A saga do pastor Jesse Custer mostra sua cruzada para encontrar Deus na Terra e tirar satisfações do Criador após ele ter abandonado o paraíso. Em cinco anos, Dillon e Garth Ennis fizeram um título doentio, banhado em humor negro e em ultraviolência, em que nenhum tema era tabu, nenhuma ideia era ousada demais, a criatividade não tinha limite. Preacher inspirou a série de TV do mesmo nome atualmente no ar pela AMC.

Quando o editor e artista Joe Quesada começou uma revolução na Marvel no novo século, ele colocou Justiceiro nas mãos de Ennis e Dillon. Quem esperava que a dupla de Preacher fosse aliviar ao assumir um personagem do universo de super-heróis da editora, logo ficou surpreso quando as doze edições da minissérie "Bem-Vindo de Volta, Frank" surgiu com o mesmo humor e a mesma violência nervosa que a dupla fez popular. O estilo de Dillon não só se encaixou perfeitamente nas histórias do vigilante Frank Castle como ele terminou emprestando seu traço para títulos insuspeitos como Os Supremos, Wolverine e Thunderbolts. Não importa a editora, não importa o personagem, Steve Dillon sempre manteve-se fiel a seu estilo, emprestando humanidade e uma dose de realismo a tramas fantásticas e absurdas, que sempre encontraram em seu traço canal perfeito para chegar ao leitor.

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Capa de Preacher usando o visual dos atores da série da AMC

Sobre o autor

Roberto Sadovski é jornalista e crítico de cinema. Por mais de uma década, comandou a revista sobre cinema "SET". Colaborou com a revista inglesa "Empire", além das nacionais "Playboy", "GQ", "Monet", "VIP", "BillBoard", "Lola" e "Contigo". Também dirigiu a redação da revista "Sexy" e escreveu o eBook "Cem Filmes Para Ver e Rever... Sempre".

Sobre o blog

Cinema, entretenimento, cultura pop e bom humor dão o tom deste blog, que traz lançamentos, entrevistas e notícias sob um ponto de vista muito particular.