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Diretor Uwe Boll anuncia aposentadoria, e o mundo é mais feliz por isso!

Roberto Sadovski

28/10/2016 02h43

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Uwe Boll, o gênio por trás de clássicos do cinema moderno como Alone in the Dark, Postal e a série Rampage, anunciou sua aposentadoria depois de quase trinta filmes no currículo. Uma pena. Os críticos de cinema de todo o planeta perderam seu saco de pancadas favorito, enquanto o público será privado de seus filmes… errr… "revolucionários". Não que faça diferença: ninguém os assistia do mesmo jeito. O que é justamente uma das razões pelas quais Boll decidiu pendurar as chuteiras. "O mercado está morto", decretou, ao perceber que filmes são um negócio que precisa de retorno financeiro sólido.

Em entrevista ao Metro, Boll revelou que financia seus próprios filmes desde 2005. "Se eu não tivesse feito algumas adaptações estúpidas de video games, não teria capital para bancar meu filme sobre Darfur", explica. "Eu não preciso de uma ferrari ou de um iate. Eu investi em meus filmes e perdi dinheiro." Para o cineasta (olha que eu estou usando o termo livremente), que nasceu na Alemanha em 1965, o mercado de DVDs e blu rays despencou 80 por cento nos últimos três anos, impossibilitando qualquer lucro advindo fora dos cinemas. Nos cinemas, por outro lado, seus filmes raramente dão as caras. "Não posso voltar a fazer filmes estudantis", continua. "Em minha idade não dá para voltar a fazer filmes mais e mais baratos, financeiramente não faz mais sentido." Peninha.

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Eu assisti a Alone in the Dark… e sobrevivi para contar a história!

Eu tive algumas experiências com a obra de Uwe Boll ao longo dos anos. A mais gritante foi assistir a Alone in the Dark num cinema de Los Angeles na sexta-feira de sua estreia – mais precisamente em 28 de janeiro de 2005. Veja bem, era a estreia do filme. E lá estava eu, absolutamente sozinho para a sessão, testemunha solitária da luta de Christian Slater, Tara Reid e Stephen Dorff contra… ah, quer saber, não lembro mesmo e não importa. Tendo realizado House of the Dead dois anos antes, Boll terminou como maior culpado da péssima fama acomuladas por adaptações de games para cinema. Postal, Far Cry, Bloodrayne, In the Name of the King… todos sem a menor chance de sucesso pelas mãos impiedosas do "Raging Boll".

O apelido, por sinal, não vem da semelhança do estilo de Uwe Boll com Martin Scorsese, diretor de Raging Bull (Touro Indomável, e não há nenhuma). Mas pegou depois de o cineasta alemão desafiar alguns críticos de cinema que pulverizavam seu trabalho com palavras para uma desforra no ringue. Na ocasião, Boll nocauteou quatro de meus colegas de profissão, ganhando um fiapo de satisfação no processo. Não que fizesse diferença. Para o homem que interpretou Adolf Hitler na comédia de ação Blubberella (que ele mesmo dirigiu, claro), fazer cinema podia ser uma paixão extrema, mas lhe faltava qualquer habilidade para, de fato, conseguir contar uma história.

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É, teve isso também….

Mesmo assim, Boll permanece, até o momento em que abandona a profissão, completamente tomado pela ilusão que fez filmes memoráveis. Sobre Assault on Wall Street, ele disse: "É muito melhor que Wall Street 2 de Oliver Stone. A pesquisa é melhor, o roteiro é melhor, só não tem Michael Douglas". Ele continua, sem o menor pudor: "Meus filmes são sólidos, abordam temas reais, não é Jason Bourne ou outra besteira qualquer, onde eles inventam um monte de coisas. Meus filmes são reais!". Então tá.

Sua aposentadoria pode significar menos trabalho para uma lista de talentos classe Z, como Michael Paré, Kristanna Loken, Ralph Moeller e Dominic Purcell, figurinhas fáceis em sua filmografia. Ninguém vai lamentar mais o fim da carreira de Uwe Boll, porém, do que Brendan Fletcher, que perde a cinessérie para chamar de sua, Rampage, em que ele é protagonista. O terceiro filme, President Down (é o trailer aí embaixo), é o canto do cisne do gênio germânico. "As pessoas vão assistir Rampage 3 no Netflix, em DVD, iTunes ou vai saber onde", lamenta Boll. "Eles dirão, 'Que filme bacana, eu gostei, blablablá', e daí vão assistir a Os Vingadores. É filme demais em streaming, nenhum tem mais impacto." Ouch.

Com o fim de sua brilhante carreira no cinema, Uwe Boll vai agora se dedicar a sua empresa de distribuição de filmes (que medo….) e a seu restaurante em Vancouver, no Canadá, batizado Bauhaus. Segundo o Metro, os críticos culinários adoram o lugar! Ó, doce ironia. Enquanto eu torço por gesto igualmente nobre de outros cineastas de quinta como Lars von Trier ou Marcus Nispel, que deviam ter se aposentado no século passado, deixo vocês com uma lista dos filmes de Uwe Boll que valem uma espiada…

Sobre o autor

Roberto Sadovski é jornalista e crítico de cinema. Por mais de uma década, comandou a revista sobre cinema "SET". Colaborou com a revista inglesa "Empire", além das nacionais "Playboy", "GQ", "Monet", "VIP", "BillBoard", "Lola" e "Contigo". Também dirigiu a redação da revista "Sexy" e escreveu o eBook "Cem Filmes Para Ver e Rever... Sempre".

Sobre o blog

Cinema, entretenimento, cultura pop e bom humor dão o tom deste blog, que traz lançamentos, entrevistas e notícias sob um ponto de vista muito particular.