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Inferno fracassa: o público cansou de astros ou só de histórias ruins?

Roberto Sadovski

31/10/2016 18h59

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Quando conversei com Tom Hanks e Ron Howard há algumas semanas, antes do lançamento de Inferno, a dupla se mostrou consciente do fascínio que o novo blockbuster – em especial os filmes de super-heróis – desperta no público. Ainda assim, acreditavam que havia espaço para histórias mais adultas e menos fantasiosas para entretenimento de massa. Pelos números da estréia da terceira aventura do simbologista Robert Langdon, personagem de Hanks, eles não poderiam estar mais errados. O filme abriu no mercado ianque com flácidos 15 milhões de dólares, uma sombra pálida da estreia de O Código Da Vinci há uma década, que somou 77 milhões em seus três primeiros dias. Inferno terá sorte se encostar na metade disso em toda sua carreira. No mercado internacional, a filme teve um pouco mais de fôlego, mas deve estacionar abaixo de 200 milhões.

O baque só não é maior porque a Sony investiu em Inferno metade do orçamento que havia reservado para o segundo filme baseado nos livros de Dan Brown, Anjos & Demônios, de 2009. E agora, como bem apontou o Box Office Mojo, o estúdio pode vender a coisa toda no mercado de home entertainment como uma trilogia fechadinha. Mas é óbvio que algo deu errado. Dando uma espiada em 2016, agora perto do filme, não foi nem um caso isolado. O ano fecha com uma coleção de continuações e remakes que mal fizeram água. Mais ainda: nenhuma das grandes bilheterias do ano foi ancorada por astros. Estes, com raras exceções, ficaram a ver navios.

Não que a estrela de Tom Hanks, por exemplo, tenha apagado. Ele está à frente de Sully, de Clint Eastwood, que faturou 122 milhões de dólares nos Estados Unidos – ainda sequer estreou por aqui. Mas é uma pegada diferente, é Hanks mais como "ator" do que como "astro". Ele não flexiona muitos músculos como intérprete em algo como Inferno, e o público parece cada vez menos interessado em espetáculos que não sejam de fato grandiosos. Tom Cruise padece do mesmo mal: seu Jack Reacher: Sem Retorno, que está para estrear no Brasil, mal encostou nos 50 milhões nos EUA, e não bateu em nove dígitos no mercado internacional. Pouco para um astro de sua estatura, que ano passado bateu em 700 milhões com o quinto Missão: Impossível.

O que sobra, portanto, é a força das marcas. Marvel (Capitão América: Guerra Civil, Deadpool), DC (Batman vs Superman, Esquadrão Suicida), Pixar (Procurando Dory), Disney (Mogli, o Menino Lobo, Zootopia). Todos entre as grandes bilheterias do ano, todos parte integral do zeitgeist graças a um trabalho de marketing maciço e constante. O sucesso é uma combinação complexa, que soma o poder de astros, a força das marcas, a qualidade das histórias e o alcance do marketing. Você pode falhar em um dos pontos (como nos filmes da DC, que pedalam em seus roteiros) e ainda abraçar o mundo. Inferno não marcou pontos em nenhum dos quesitos, e morreu na praia sem causar nenhuma surpresa. Significa que Tom Hanks tem menos poder como astro? De forma alguma. Mas ele, e todo mundo envolvido no filme, aprenderam que não basta espremer um fenômeno que tinha força uma década atrás e esperar que o público tenha essa memória tão longa. Preguiça é o pior dos pecados. E o preço é se tornar invisível para quem abre a carteira.

Sobre o autor

Roberto Sadovski é jornalista e crítico de cinema. Por mais de uma década, comandou a revista sobre cinema "SET". Colaborou com a revista inglesa "Empire", além das nacionais "Playboy", "GQ", "Monet", "VIP", "BillBoard", "Lola" e "Contigo". Também dirigiu a redação da revista "Sexy" e escreveu o eBook "Cem Filmes Para Ver e Rever... Sempre".

Sobre o blog

Cinema, entretenimento, cultura pop e bom humor dão o tom deste blog, que traz lançamentos, entrevistas e notícias sob um ponto de vista muito particular.