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Como o novo Blade Runner se tornou meu filme mais aguardado para 2017

Roberto Sadovski

19/12/2016 18h06

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Foi aqui mesmo no blog, há alguns meses, que eu disse não ter problema com nenhum remake, reboot ou continuação, desde que deixassem Blade Runner em paz. Não deixaram. Mas aí escolhem um diretor incrível para conduzir a coisa. Resgatam Harrison Ford. Envolvem Ridley Scott. E coroam o bolo com este teaser, que traz Ford, arma em punho, apontando para Ryan Gosling: "Eu já tive o seu emprego. Eu era bom nisso. Mas na época as coisas eram mais simples". Vara, linha, anzol…

Certo, ainda não há nada neste teaser que sugira a trama, que aponte o que aconteceu a Deckard (Ford) no hiato de três décadas desde que o Caçador de Andróides fechou as portas de sua antiga vida para experimentar o desconhecido ao lado de Rachel (Sean Young, que não está no novo filme), uma replicante – nome chique para andróide – aparentemente sem data de validade. Mas se Blade Runner, o original, apresentava um mundo novo, uma visão distópica e bastante plausível de o futuro, o novo filme parece evocar a mesmíssima atmosfera, ao mesmo tempo que surge como algo que nunca vimos antes. É uma mistura fascinante que seus artesãos parecem não ter o menor problema em abraçar.

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Harrison Ford como Rick Deckard, mais de três décadas depois de Blade Runner

O principal é seu diretor, Denis Villeneuve, um dos cineastas mais interessantes a ser acolhido pelo cinemão nos últimos anos. Depois que foi indicado ao Oscar por Incêndios, o canadense de 49 anos criou uma pérola atrás da outra, de Os Suspeitos, O Homem Duplicado e Sicario, até o excepcional A Chegada no final de 2016. Fosse qualquer outro, eu estaria apreensivo com um novo Blade Runner. Em suas mãos, porém, temor se transforma em expectativa. Para lhe dar apoio, Ridley Scott surge como produtor executivo e comandante criativo da empreitada, que reúne Harrison Ford e Ryan Gosling, este como um novo caçador de androides, num roteiro assinado por Scott, Michael Green (que parece dominar 2017, já que também escreveu Logan e Alien: Covenant) e Hampton Fancher, responsável pela concepção do roteiro do Blade Runner de 1982.

Em uma época em que o passado é constantemente revisitado pelo cinema, Blade Runner 2049 surge como uma anomalia, um filme que parece de fato ter o que dizer. Não é Independence Day ou Zoolander ou Bridget Jones. O sentimento evocado por imagens de uma nova ficção científica em seu mundo (e pontuada pelos acordes de Vangelis, só para cutucar mais a ferida da ansiedade) é o mesmo de quando George Miller liberou imagens de seu Mad Max: Estrada da Fúria em 2015. É uma viagem ao passado que não foge da nostalgia, mas aponta um caminho novo e intrigante, e isso é empolgante! Eu quero saber o que houve com Deckard. E com Rachel. E com o mundo à beira do abismo três décadas depois. Villeneuve parece cercado dos melhores talentos possíveis, tanto em seu elenco (Jared Leto, Robin Wright, Dave Bautista e Mackenzie Davis também estão no elenco), quanto atrás das câmeras, com o gênio Roger Deakins, seu diretor de fotografia, garantindo um visual à altura do clássico que o antecedeu. A mistura parece no ponto. Outubro de 2017 nunca pareceu tão distante.

Sobre o autor

Roberto Sadovski é jornalista e crítico de cinema. Por mais de uma década, comandou a revista sobre cinema "SET". Colaborou com a revista inglesa "Empire", além das nacionais "Playboy", "GQ", "Monet", "VIP", "BillBoard", "Lola" e "Contigo". Também dirigiu a redação da revista "Sexy" e escreveu o eBook "Cem Filmes Para Ver e Rever... Sempre".

Sobre o blog

Cinema, entretenimento, cultura pop e bom humor dão o tom deste blog, que traz lançamentos, entrevistas e notícias sob um ponto de vista muito particular.