Ben Affleck não vai mais dirigir The Batman. É o fim do Universo DC no cinema?
Ben Affleck não vai mais dirigir The Batman. Não é nenhuma surpresa, visto que o projeto existia mais na cabeça dos fãs do que de fato num planejamento lógico para um estúdio. Mesmo com o desastre que foi Batman vs. Superman, a versão de Affleck para o Cavaleiro das Trevas foi um dos poucos elementos do filme que, apesar das balas e dos corpos empilhados, funcionou. Desde então, um filme do Morcegão com o astro no comando parecia um passo lógico. Mas os meses se arrastaram sem uma confirmação de seu trabalho atrás das câmeras, o roteiro parecia nunca estar no lugar e a Warner não tomava uma posição. Pois bem, agora ela está tomada. E isso é péssimo para o futuro do Universo DC no cinema.
Explico. os executivos da Warner DC devem ter cansado de ver a concorrência morder dinheiro e prestígio do outro lado da cerca, com filmes bem sucedidos com a crítica e com o público, e apressaram arquitetar seu próprio universno cinematográfico. O Homem de Aço deu o primeiro passo em 2013, seguido de Batman vs. Superman: A Origem da Justiça e de Esquadrão Suicida ano passado. Os três fizeram dinheiro, mas nada que os engravatados esperavam. Artisticamente, os dois últimos foram um tiro no pé, o maior exemplo de criação de blockbuster por comitê sem compromisso artístico, sem planejamento real. Mulher-Maravilha tabém enfrentou uma dose cavalar de problemas nos bastidores, com o roteiro sendo reescrito no set. Liga da Justiça, com seu trailer estranhos e a profusão de imagens nada empolgantes, não provoca um fiapo de empolgação como, só para ficar no exemplo mais óbvio, Os Vingadores.
The Batman, com Affleck no comando, parecia ser o marco zero perfeito para aprumar o navio. O ator recolocou sua carreira nos trilhos ao passar para o outro lado das câmeras com o drama Medo da Verdade (2007), e mostrou ter o equilíbrio perfeito de triunfo artístico e sucesso comercial com Atração Perigosa (2010) e Argo (2012). O novo A Lei da Noite, apesar do prejuízo de 75 milhões de dólares para os cofres da Warner, não foi o bastante para arranhar sua couraça. E Affleck parece, desde o começo, 100 por cento comprometido em faer a versão definitiva do Homem-Morcego nos cinemas, um equilíbrio bacana de realismo cinematográfico com o mundo de fantasia dos gibis. Mas estava mais e mais claro que o trabalho não seria fácil. Agora, ele oficialmente vagou a cadeira de diretor, dizendo ter mais liberdade para se dedicar à construçõ do personagem na frente das câmeras e de trabalhar com mais afinco o roteiro. Tá certo.
Não importa quem assuma The Batman no lugar de Affleck, o mal está feito. Falta de planejamento tem sido a marca registrada do Universo DC no cinema desde o primeiro momento. Mulher-Maravilha perdeu sua diretora original, Michelle MacLaren, pouco antes de as câmeras começarem a rodar (Patty Jenkins assumiu o leme). The Flash, que terá Ezra Miller como protagonista, já deixou escapar dois diretores, e seu roteiro vai voltar para a prancheta, sendo reescrito do zero. Aquaman, com Jason Momoa e James Wan na direção, parece o único projeto que anda sem percalços. Esquadrão Suicida deve render não um, mas dois spin offs: Sereias de Gotham e O Pistoleiro. Nenhum surgido por necessidade criativa, e sim para aproveitar os milhões de dólares e a atenção em cima do filme de David Ayer. The Batman, por sinal, jamais teve uma data de lançamento oficial.
Comercialmente, a Warner não tem com o que se preocupar. Batman é sua maior propriedade intelectual, e provavelmente o super-herói mais conhecido do mundo. Depois da absurdamente bem sucedida trilogia conduzida por Christopher Nolan, e do destaque do personagem em BvS, é certo que um novo filme equivale a imprimir dinheiro. Affleck, por sua vez, entendeu o tamanho da encrenca que seria colocar tanto peso em seus ombros e foi esperto em minimizar o impacto em sua própria carreira. Criar um blockbuster de tamanha magnitude é comandar dúzias de engrenagens diferentes ao mesmo tempo, e se colocar em frente às câmeras amplifica a pressão. Warren Beatty sentiu o baque quando abraçou Dick Tracy de todas as maneiras em 1990, e viu o quanto seu filme sofreu artistica e comercialmente.
É óbvio que a Warner não tem planos em colocar um autor para trabalhar com Affleck – a escolha deve ser alguém bom para trabalhar em equipe, mas sem um currículo poderoso o bastante que o faça questionar demais o estúdio ou o astro. O Deadline aponta que Matt Reeves (que fez os dois últimos Planeta dos Macacos) e Matt Ross (do incrível Capitão Fantástico, com Viggo Mortensen) são alguns nomes que começam a compor uma lista de novos diretores. Mais importante que isso é o controle de danos, é provar aos fãs que, apesar da bagunça nos bastidores, existe o compromisso em não jogar um filme qualquer para fazer tilintar a registradora (um executivo da Warner chegou a dizer que a qualidade dos filmes pouco importa, já que todos foram grandes sucessos) e criar um grande filme capaz de ancorar um universo coeso e empolgante. Confesso que meu entusiasmo por The Batman despencou vários degraus, e que será necessário um anúncio espetacular para restaurar a fé no projeto. Minha confiança, por enquanto, está na teimosia de Ben Affleck em não embarcar num projeto capenga. E na certeza de que este não será mais um "filme de Zack Snyder"…
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