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"Star Wars não é ficção científica, é drama histórico", diz Doug Chiang, designer de Rogue One

Roberto Sadovski

06/04/2017 04h44

Rogue One: Uma História Star Wars foi a primeira experiência para expandir o mundo apresentado por George Lucas em 1977 em uma aventura paralela à saga da família Skywalker. Lançado em dezembro do ano passado, o filme de Gareth Edwards (Godzilla) fez uma ponte entre duas geração da fantasia espacial e faturou mais de 1 bilhão de dólares em todo o mundo. Eu diria que foi uma jogada de risco que deu muito certo. Parte do mérito é, sem dúvida, o visual que remete ao Guerra nas Estrelas clássico, conseguindo ainda assim parecer novo e intrigante.

"O maior desafio em criar o design de Rogue One foi apresentar um mundo que terminaria em Uma Nova Esperança", conta o desenhista de produção da aventura, Doug Chiang. "Assim como quase todos envolvidos no filme, eu cresci como fã de Star Wars, e criar robôs, veículos e espaçonaves que não entrassem em choque com uma estética tão fortemente estabelecida foi o mais difícil. Mas eu abracei o desafio." Nascido na China e criado na Califórnia, Chiang entrou na Industrial Light & Magic no final dos anos 80, trabalhando na direção de arte dos efeitos visuais de filmes revolucionários como O Exterminador do Futuro 2, Forrest Gump e O Máskara. Nessa época, a tecnologia digital começava a dar o rumo para as grandes produções, e o artista acompanhou de perto o avanço dos novos brinquedos.

TIE Strikers, armas imperiais que surgem em Rogue One

"Tive muita sorte em estar na IL&M em uma época de mudanças", lembra Chiang. "No fim das contas, porém, são apenas novas ferramentas, e o tempo nos ensinou a usá-las com parcimônia." O designer aponta que hoje não há nada que não possa ser criado para o cinema, e essa abrangência contribuiu para que os artistas usassem apenas o que é bom para o filme. "A experiência hoje é mais real", ressalta. "Temos ferramentas que deixam invisível a costura entre os cenários reais e as extensões digitais, o que nos dá liberdade para contar histórias melhores, porque a platéia acredita nestes mundos."

Sua introdução ao mundo de Star Wars como parte de sua criação aconteceu no alvorecer do novo século, quando George Lucas o chamou para ser o artista conceitual de A Ameaça Fantasma, trabalho que o levou a criar a bíblia visual para Ataque dos Clones e A Vingança dos Sith. "George sempre comparou seus filmes a documenários", lembra. "Como artista conceitual, tudo precisa parecer prático. O trabalho não era desenhar uma ficção científica, e sim um drama histórico." Ele ressalta que o mais importante não é criar algo "real", e sim algo em que a platéia acredite: "A única coisa que importa é dar apoio à história".

Os caças U-Wing não fariam feio se estivessem no Star Wars original

Doug Chiang acreditou que a Nova Trilogia seria o fim de Star Wars no cinema, e ficou surpreso quando foi chamado para criar o visual de O Despertar da Força, sétimo episódio da saga, que foi dirigido por J.J. Abrams em 2015. "Não tinha responsabilidade com os efeitos visuais", aponta. "Terminou sendo meu trabalho mais divertido, já que foi uma chance de desenhar, de retomar minhas raízes como artista." Rogue One, por outro lado, surgiu como um equilíbrio entre o mundo clássico e familiar da série e a oportunidade de criar algo novo.

"Como desenhista de produção, minha função era fazer com que todo o visual de Rogue One fosse crível, que os desenhos dos artistas conceituais pudessem ser executados no mundo real", explica. "Mesmo com o tom mais sério e o aspecto mais sombrio, que é o estilo de Gareth, tive mais liberdade para experimentar." Como a trama do filme termina exatamente onde começa a ação de Uma Nova Esperança, o filme que deu origem a todo o universo Star Wars, Chiang explica que o visual tinha de refletir de certa forma a tecnologia da época: mais luz natural, menos iluminação artificial, cenários de fundo reais, e não digitais, para aumentar a sensação de realismo.

Darth Vader apresenta sua humilde morada no planeta vulcânico Mustafar

Ainda assim, ele achou espaço para exercitar a criatividade e expandir cenários no filme de 1977. "Fizemos os U-Wings, os TIE Strikers e o castelo de Darth Vader, mas o mais divertido foi recriar a base rebelde na lua Yavin 4", lembra, empolgado. "Ao contrário do cenário mostrado em Guerra nas Estrelas, conseguimos agora mostrar a base sob diversos pontos de vista, criando veículos que não parecessem deslocados se também existissem no filme de George." Trabalhar com um legado que também é uma das criações mais icônicas da culura pop foi um privilégio e uma honra para Chiang. "Star Wars é diferente de tudo que o cinema produziu, e ter feito parte do time da Nova Trilogia me ensinou como criar este mundo", conclui. "O segredo é um só: a galáxia pode estar distante, mas ela ainda precisa ser real."

Rogue One: Uma História Star Wars está sendo lançado agora em blu-ray e DVD

Sobre o autor

Roberto Sadovski é jornalista e crítico de cinema. Por mais de uma década, comandou a revista sobre cinema "SET". Colaborou com a revista inglesa "Empire", além das nacionais "Playboy", "GQ", "Monet", "VIP", "BillBoard", "Lola" e "Contigo". Também dirigiu a redação da revista "Sexy" e escreveu o eBook "Cem Filmes Para Ver e Rever... Sempre".

Sobre o blog

Cinema, entretenimento, cultura pop e bom humor dão o tom deste blog, que traz lançamentos, entrevistas e notícias sob um ponto de vista muito particular.