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Do pior ao melhor, um ranking com todos os filmes de Michael Bay

Roberto Sadovski

26/07/2017 05h37

Eu não detesto Michael Bay. Pelo contrário: o diretor que se tornou sinônimo de exagero nos cinemas é um artista de estética muito particular e uma assinatura visual inimitável. Não que isso torne seus filmes mais ou menos "assistíveis", mas ao menos lhes confere personalidade. Como eu disse em um Nerdovski jurássico, Michael Bay não é o capeta. Ele é apenas um sujeito que conseguiu um cachê de liberdade invejável e que, não raro, entrega exatamente o tipo de espetáculo que a massa procura nos cinemas. É entretenimento no sentido mais destilado da palavra. A liberdade tem fio de ambos os lados, já que muitas vezes o apuro visual pode ser confundido com total confusão, e os dotes narrativos de Bay muitas vezes se perdem em tramas longas, encavaladas e de pouco sentido. Quando ele erra, é um desastre; quando acerta, porém, o cinema pipoca fica muito, mas muito divertido. Arrumei seus filmes num ranking ligeiro aí embaixo. E você, qual seu veneno quando o assunto é Michael Bay?

13. TRANSFORMERS: A ERA DA EXTINÇÃO
(Transformers: Age of Extinction, 2014)

O reboot leve da série dos robôs alienígenas é o melhor exemplo da confusão quando Bay é deixado sem amarras. A trama esquisita mistura um inventor falido (Mark Wahlberg, assumindo a ponta do elenco) e uma trama de humanos malvados em criar seus próprios transformers adestrados. É barulhento ao extremo, absolutamente tudo se move (o que não é um elogio) e nem a tentativa de criar uma iconografia bacana – Optimus Prime cavalgando um dinossauro robótico – convence. Mas faturou mais de 1 bilhão de dólares pelo mundo, então o que é que eu sei, não é?

12. TRANSFORMERS: A VINGANÇA DOS DERROTADOS
(Transformers: Revenge of the Fallen, 2009)

Ok, existe a desculpa suprema de o segundo filme da série bilionária ter sido produzido durante a greve dos roteiristas em Hollywood. Mas, sejamos honestos, faria alguma diferença? A simpatia boboca de Shia LaBeouf começava a ser tragada pelas rachaduras, e a história bizarra, que traz um Autobot que pendeu para o lado do mal chegando à Terra para nos exterminar, nunca conecta. Na verdade, não há mesmo conexões humanas, só humor grosseiro (o filme traz dois dos personagens mais racistas da história), muitas explosões (talvez mais do que nos outros filmes… mas eu não contei) e muita violência. Mas, como era robô contra robô, acho que tudo bem…

11. PEARL HARBOR
(2001)

Pearl Harbor, que Michael Bay queria transformar no Titanic do novo século, tem uma grande sequência: o ataque japonês à base americana nas ilhas do Pacífico, gatilho que levou os Estados Unidos a entrar na Segunda Guerra Mundial. São 40 minutos gloriosos de edição, narrativa, tensão e impacto emocional perfeitos. Pena que o resto do filme (que soma adicionais duas horas e trocados) seja recheado com uma história de amor que nunca convence, diálogos constrangedores em sua tentativa de profundidade e um trio de protagonistas que não tem mais expressão que uma porta. Ao menos uma porta tem função.

10. TRANSFORMERS: O ÚLTIMO CAVALEIRO
(Transformers: The Last Knight, 2017)

Confesso que aguardei ansiosamente pelo quinto filme da série dos robôs alienígenas. A mistura de batalhas nos tempos do Rei Arthur (com o próprio brandindo a excalibur), nazistas, dragões de três cabeças e Anthony Hopkins (!) parecia bizarra demais para dar errado. Bom, só deu. Com uma trama exageradamente densa e extremamente inchada, o filme salta de um ponto narrativo a outro sem a menor conexão, motivo ou sentido. Em algum lugar, dá pra identificar que a deusa dos transformers quer trazer seu planeta natal à órbita da Terra, contando com a ajuda de um Optimus Prime enfeitiçado para o mal. Ou algo assim. Se você entendeu todo o resto, escreve aí, por favor.

9. A ILHA
(The Island, 2005)

Eu mal lembrava da existência de A Ilha, a não ser por ter colocado como capa de SET quando dirigi a revista – big mistake, devia ter ido com 2 Filhos de Francisco. A trama, sobre clonagem, ética científica e respeito à vida é um acessório, uma moldura para o que realmente interessa à Bay: explodir tudo que surge em cena. Nunca um casal cinematográfico teve o carisma de uma pamonha como este, formado por Ewan McGregor (que definitivamente não combina com esse tipo de blockbuster) e Scarlett Johansson (ela combina, mas nem aqui a coisa funciona), que interpretam um depósito de órgãos saudáveis para celebridades endinheiradas. Ah, se a moda pega…

8. TRANSFORMERS: O LADO OCULTO DA LUA
(Transformers: Dark of the Moon, 2011)

Depois do desastre que foi o segundo filme, este O Lado Oculto da Lua ao menos tenta colocar a coisa nos trilhos, com Bay rodando em 3D e criando uma tapeçaria visual de fato impressionante. Mas o apuro técnico ainda fica à frente da trama, que revela um segredo dos transformers escondido na Lua – verdadeiro motivo das pioneiras missões lunares americanas nos anos 60 –, o que impulsiona a trama para uma ameaça global (ou "mais uma", se pensarmos bem) envolvendo traidores humanos bem burros, se acham que o malvado Megatron inclui sacos de carne em seus planos. Se bem que, como ele cai em psicologia reversa que não enganaria uma criança de 5 anos, é bem capaz.

7. SEM DOR, SEM GANHO
(Pain & Gain, 2013)

Se existe um filme nessa lista que não merecia o estilo bombástico de Michael Bay, é esse drama (calma, vem comigo) encabeçado por Mark Wahlberg e Dwayne Johnson. A trama acompanha um trio de marombeiros (ok, personal trainers, foi mal) que, na Miami do começo dos anos 90, sequestram um milionário e o forçam a lhes transferir seus bens. O esquema, claro, termina em tortura, extorsão e morte – mas não necessariamente de quem você pode imaginar. Sem Dor, Sem Ganho é uma sátira feroz e uma comédia ácida sobre os extremos que uns cabeças de vento podem chegar para realizar o "sonho americano". Seria um filme melhor, bem melhor, se Bay fosse menos… Bay.

6. BAD BOYS II
(2003)

A segunda parceria de Will Smith e Martin Lawrence é um prazer proibido, um filme deliciosamente exagerado, bombástico e absurdo. A trama é blé – o que importa aqui é o fator diversão anabolizado ao máximo. Em duas horas e meia, Bay e cia. transformam cadáveres em obstáculos numa rodovia, abusam de câmeras giratórias para puro efeito estético, capricham em diálogos terríveis e completamente adequados e, por fim, invadem Cuba em um humvee, destruindo parte de uma favela e deixando um rastro de caos que n˜åo faz o menor sentido. Neste caso, não era mesmo pra fazer – e tá tudo certo assim!

5. 13 HORAS: OS SOLDADOS SECRETOS DE BENGHAZI
(13 Hours, 2016)

John Krasinski plays Jack Silva in 13 Hours: The Secret Soldiers of Benghazi from Paramount Pictures and 3 Arts Entertainment / Bay Films

Olha, depois de abusar da boa vontade dos militares americanos que o ajudaram em tantos filmes, até demorou para Bay fazer um filme os colocando como protagonistas. 13 Horas acompanha a história real de como uma equipe reduzidíssima de fuzileiros protegeu um complexo diplomático americano em Benghazi, na Líbia, de um ataque furtivo e pesado em 11 de setembri de 2012, aniversário dos atentados terroristas que dizimaram o World Trade Center. Mais contido do que de costume, Bay cria um recorte tenso dos acontecimentos da noite dos ataques e, embora seja incapaz de editar a trama para uma metragem menos cansativa, ainda entregou um filme tenso, mesmo que historicamente pouco preciso. Talvez Bay ainda não tenha a maturidade como cineasta para desconstruir um evento tão complexo. Neste caso, porém, não se pode acusá-lo de não tentar.

4. OS BAD BOYS
(Bad Boys, 1995)

filmz.ru

Em sua estreia como diretor de longas, Michael Bay já mostra seu estilo exagerado em toda sua glória. Este Os Bad Boys é um filme de ação imperfeito, de roteiro derivativo e soluções criativas batidas. Mas, cacetada, como ele filma com fúria! A seu favor, Martin Lawrence e Will Smith demonstrando química perfeita como a dupla de policiais que precisa proteger a única testemunha (Téa Leoni) que pode ajudá-los a rastrear e recuperar 100 milhões de dólares em heroína, roubados do porão da própria delegacia de polícia. Temperando ação com humor, Bay fez o máximo com os recursos em mãos e se deu bem para um iniciante: o filme colocou Will Smith no mapa como herói de ação e deu a Hollywood um novo diretor com gana de explodir coisas de forma espetacular.

3. ARMAGEDDON
(1998)

Em minha lista de "bons filmes ruins", Armageddon ganha um lugar especial. É brega, se leva a sério um tantinho demais e mergulha numa espiral de emoções forçadas em seu clímax que termina mirando em lágrimas e acertando em gargalhadas. Mas é um produto pra lá de divertido, com sua ciência tosca e seu exagero em tom e execução. A trama é uma delícia: um meteoro gigante se dirige à Terra ("É o que chamamos de assassino global", diz um Billy Bob Thornton sem um pingo de ironia) e a NASA convoca um time de perfuradores de poços de petróleo (os "melhores do mundo", claro) para treiná-los como astronautas e mandá-los para o gigantesco pedregulho cósmico, recheá-lo com uma bomba nuclear e salvar o planeta. Sério, não tem como ser mais Michael Bay do que isso (o roteiro, por sinal, é assinado por J.J. Abrams). Armageddon, sem exagero, inaugurou a fórmula do blockbuster do novo século, com um conceito absurdo atrelado a um astro de cinema (no caso, Bruce Willis) e produção milionária. Sério. "Assassino global".

2. TRANSFORMERS
(2007)

Com Steve Spielberg como produtor executivo (e dono da parada toda), Bay assumiu o comando da adaptação da série animada/linha de brinquedos dos anos 80 e fez um filme que tem o toque das produções do chefe nos anos 80. É uma fábula fantástica, mas vivenciada por um moleque comum. No caso, o adolescente Sam Witwicky (Shia LaBeouf, puro charme), que inadvertidamente se vê no meio de uma guerra entre duas raças de robôs mutantes alienígenas: os bonzinhos Autobots e os malvadões Decepticons. Com efeitos acima da média (que inacreditavelmente perderam o Oscar para A Bússola Dourada), Bay conduz uma trama simples e se concentra em sequências de ação plasticamente perfeitas e emocionalmente impactantes. Shia e sua parceira em cena, Megan Fox, vendem a trama com facilidade, humanizando uma história com a qual todo mundo pode se identificar: o adolescente que ganha seu primeiro carro… no caso, o carro se transforma num robô gigante: "Deve ser japonˆ´s", brinca Shia. A máquina hollywoodiana surge aqui em pleno vapor, com Michael Bay entregando um produto bonito, bem realizado e que não tem o menor problema em injetar modernidade em sua nostalgia.

1. A ROCHA
(The Rock, 1996)

Em seu segundo longa, Michael Bay atingiu um padrão de excelência que não chegou a arranhar na década seguinte. A Rocha ainda traz todas as suas marcas registradas: edição frenética, diálogos que não cabem a seres humanos, colaboração total dos militares e atores de gabarito saindo da caixinha. Pense bem: já houve uma época em que Nicolas Cage era a) um ator de gabarito e b) um estranho a filmes de ação. A Rocha o coloca no papel de Stanley Goodspeed (nome maravilhoso), especialista em armas químicas do FBI convocado quando um militar maluco ameaça explodir uma arma química casca grossa em São Francisco, matando todo mundo. O tal milico escolhe a prisão desativada de Alcatraz como base para lançamento de seus mísseis, forçando o governo ianque a pedir ajuda ao único sujeito que já escapou de lá: um espião britânico que está preso há décadas. Sean Connery devora o cenário, Cage pratica seu já manjado estilo maníaco e Bay cria um thriller tenso, bonitão que, até segunda ordem, não sairá do topo de sua cadeia alimentar.

 

 

 

Sobre o autor

Roberto Sadovski é jornalista e crítico de cinema. Por mais de uma década, comandou a revista sobre cinema "SET". Colaborou com a revista inglesa "Empire", além das nacionais "Playboy", "GQ", "Monet", "VIP", "BillBoard", "Lola" e "Contigo". Também dirigiu a redação da revista "Sexy" e escreveu o eBook "Cem Filmes Para Ver e Rever... Sempre".

Sobre o blog

Cinema, entretenimento, cultura pop e bom humor dão o tom deste blog, que traz lançamentos, entrevistas e notícias sob um ponto de vista muito particular.