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De astro do rock a Blade Runner 2049: as aventuras de Jared Leto no Rio!

Roberto Sadovski

26/09/2017 03h21

Jared Leto é um guerreiro – e eu digo isso sem um pingo de ironia. Se no domingo ele está no palco do Rock in Rio, exercendo a profissão de astro de rock à frente de seu 30 Seconds to Mars, na manhã da segunda-feira Leto já está enfrentando uma maratona de entrevistas para falar sobre seu trabalho em Blade Runner 2049, continuação quase herética do clássico absoluto que Ridley Scott dirigiu em 1982, praticamente redesenhando o panorama da ficção científica moderna. O "quase" entra na frase porque o novo filme, dirigido por Denis Villeneuve (de Sicario e A Chegada), carrega tanto talento, na frente e atrás das câmeras, que entra em jogo como uma força que não pode ser ignorada. Um dos vértices da trama é justamente o personagem de Leto, um visionário responsável por salvar a humanidade, ao mesmo tempo em que ele se afasta de sua própria conexão com o resto da raça humana.

Como boa parte de sua geração, Jared Leto assistiu a Blade Runner quando era garoto, gastando sua cópia do filme em VHS não só para apreciar cada fotograma do filme, mas também para apresentá-lo a dúzias de amigos. "Eu amo o filme, então entrei no projeto com humildade e respeito", conta, sobre o dia em que ele entrou no projeto. "Você trata com respeito o que você ama, e quando esse é o caso  eu me sinto inspirado a cavar mais fundo e trabalhar mais duro – o que é ótimo!" Uma vez no set, o ator, que ganhou o Oscar por seu trabalho em Clube de Compras Dallas, sentiu que todos os envolvidos sabiam que era a oportunidade de criar algo especial. "A ficção científica é fascinante porque ela é baseada em fatos", continua. "São mundos criados em sonhos que, de certa forma, tornam-se reais. Muito do Blade Runner original é, hoje, parte de nossa vida."

Jared Leto assume o papel de criador em Blade Runner 2049

O ator respira fundo e luta para manter a atenção, o cansaço aos poucos dominando a adrenalina acumulada nas últimas 24 horas. Do lado de fora do hotel, dezenas de fãs esperam para ver seu ídolo: Jared Leto, afinal, está em seu "modo roqueiro", focado na divulgação de Blade Runner mas com a mente no palco e nos milhares de fãs que ele comandou na noite anterior. Não é nenhuma surpresa, portanto, quando nossa entrevista termina e ele decide dar uma caminhada no calçadão de Ipanema – acompanhado de seguranças e seguido por um séquito que mal consegue conter a euforia. Esse tipo de impulso alimenta todos os seus lados como artista, já que ele é conhecido por improvisar quando chega ao set de um filme, criando um personagem além do que está no roteiro. Curiosamente, não foi exatamente o caso com Blade Runner.

"O texto já era belíssimo no papel", derrete-se. "Os diálogos, o trabalho com os personagens, tudo estava bem amarrado e com pouco espaço para improviso." O que não significa que seu personagem, o bilionário Niander Wallace, não precisasse de um toque pessoal. "Não é que eu alterei muita coisa, basicamente fiz meu trabalho como ator", continua. "Precisava entender quem era Niander para dar um certo sabor, e cabe ao diretor decidir se quer esse extra." Como referência, Leto aponta Homero, livros de filosofia, mesmo a Bíblia. Seu personagem, afinal, tem um que de divino: ao assumir a tecnologia da Corporação Tyrell do filme original, ele refina, aperfeiçoa e cria uma nova geração de replicantes, a força de trabalho artificial que ajuda a humanidade no futuro – ao menos em teoria. "Mas não posso ir além, acho que a história tem de ser descoberta no cinema", ressalta. "Posso dizer, porém, que as filmagens exigiram muito de todos, e foi um trabalho belíssimo, um papel que exigiu foco, nada saiu dos trilhos."

Pausa para checar a agenda….

O gás de Jared Leto, porém, acabou. Eu explico que minha entrevista é a última, e ele respira aliviado: daqui é aeroporto, casa e mais trabalho, desta vez focando no novo álbum do 30 Seconds to Mars. Antes disso, porém, serão mais duas semanas falando sobre Blade Runner 2049 sem poder falar tanto. Segredos precisam ser preservados, plateias precisam ser surpreendidas. Eu comento que ele devia dirigir um filme, já que esse foco cirúrgico e a capacidade de executar várias tarefas simultaneamente são qualidades de um bom diretor. "Valeu, cara, eu estou mesmo pensando nisso", encerra, já levantando, deixando para trás a enésima tigela de açaí, responsável por injetar o restinho de energia para se despedir. Pergunto se ele não vai levar um estoque de volta a Nova York. Jared Leto olha para trás, os olhos já distantes, e deixa escapar um "Quem me dera…". Jared Leto e açaí, um caso de amor.

Sobre o autor

Roberto Sadovski é jornalista e crítico de cinema. Por mais de uma década, comandou a revista sobre cinema "SET". Colaborou com a revista inglesa "Empire", além das nacionais "Playboy", "GQ", "Monet", "VIP", "BillBoard", "Lola" e "Contigo". Também dirigiu a redação da revista "Sexy" e escreveu o eBook "Cem Filmes Para Ver e Rever... Sempre".

Sobre o blog

Cinema, entretenimento, cultura pop e bom humor dão o tom deste blog, que traz lançamentos, entrevistas e notícias sob um ponto de vista muito particular.