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Cinco coisas essenciais que ainda precisamos ver em Liga da Justiça!

Roberto Sadovski

30/10/2017 06h25

Liga da Justiça chega aos cinemas em pouco mais de duas semanas. A campanha mundial está a pleno vapor, com trailers e spots de TV surgindo a cada minuto, e o departamento de marketing do estúdio trabalhando dobrado para que o público se sinto na obrigação de testemunhar, no cinema, a criação de uma das maiores equipes de super-heróis da cultura pop. O sucesso é praticamente garantido, já que o filme traz na mistura o Batman (um dos personagens de ficção mais conhecidos do planeta) e a Mulher-Maravilha que, em 2017, transcendeu as páginas dos gibis e as telas dos cinemas para tomar seu lugar de direito como um símbolo de poder, igualdade e justiça. Ainda assim, a aventura que amarra o Universo Estendido DC, dirigida por Zack Snyder e finalizada por Joss Whedon, ainda é uma incógnita, um quebra-cabeças que pode resultar num quadro belíssimo – ou numa imagem tosca. Com isso em mente, listei cinco coisas que Liga da Justiça precisa trazer para alcançar o equilíbrio criativo, qualitativo e artístico que seus protagonistas merecem.

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SENSO DE HUMOR….

…. mas nada exagerado. Um dos maiores problemas do Universo Estendido DC é levar muito a sério o que é, basicamente, uma trama sobre superseres fantasiados que combatem o mal. Por natureza, as histórias de super-heróis são leves, são diversão – exatamente o motivo do enorme sucesso criativo quando um outro lado é explorado. É a exceção, não a regra. O Homem de Aço, que seguiu a direção criativa de Christopher Nolan, chegou aos cinemas desprovido de leveza; Batman vs Superman afundou no peso de sua auto-importância. O estúdio percebeu o erro e tentou fazer de Esquadrão Suicida uma aventura mais leve, mas corrigir o rumo quando um filme já está pronto, alterando sua montagem de última hora, foi uma decisão tacanha. O memo pedindo "mais humor, gente!" finalmente foi compreendido em Mulher-Maravilha, que terminou sendo o primeiro filme do UED a equilibrar drama e leveza, sem sacrificar o desenvolvimento de sua protagonista. Liga da Justiça já entrega, nos trailers, que vai seguir esse equilíbrio. Com a substituição de Zack Snyder por Joss Whedon para concluir a produção, surge também a esperança de mais foco na interação de personagens do que no papel de parede – e Whedon, de Buffy a Vingadores, já mostrou que é bom para humanizar seus jogadores com humor. E é Liga da Justiça! É, basicamente, uma versão sofisticada de Superamigos! Precisa sem divertido!

PERSONAGENS BEM RESOLVIDOS

Ok, já estamos carecas de saber quem é o Batman. A Mulher-Maravilha foi catapultada para o topo com seu filme, que continua fresquinho na memória. Nenhum deles precisa ser explicado em Liga da Justiça – basta colocá-los na narrativa de maneira orgânica. O resto do time precisa ser apresentado ao público, sem que isso se torne o coração do filme. Como Liga não teve o luxo de Os Vingadores, que contou com filmes-solos de seus heróis antes que eles dividissem a cena, a solução é definir a personalidade de cada um, usando para isso sua interação com os outros. Aquaman ganha seu próprio filme ano que vem, então basta estabelecer que procedência e personalidade. O mesmo vale para o Flash, que conta com a memória dos fãs em outras mídias, embora muita gente deva achar confuso que o Barry Allen do cinema não seja o mesmo que ele acompanha na TV há alguns anos. O grande problema é o Cyborg, e algo me diz que boa parte da trama vai girar em torno de sua origem, sua relação com a tecnologia alienígena das "caixas-maternas" e a invasão da Terra pelos conquistadores do planeta Apokolips.

A SUGESTÃO DE UM UNIVERSO MAIOR…

… sem que isso seja o centro do filme. Afinal, Liga da Justiça faz parte de um universo compartilhado, e o grande barato de trabalhar com esse conceito é salpicar o filme com cameos e easter eggs que vão intrigar o público "leigo" e satisfazer a sede dos fãs. Só que esse dispositivo narrativo precisa ser usado com cuidado, para que Liga da Justiça não se torne Homem de Ferro 2 – basicamente um filme que existe para mostrar a existência de um universo interligado. Ou um multiverso. A DC nos quadrinhos é uma tapeçaria gigante, composta por realidades paralelas e versões diferentes dos mesmos heróis, e seria bobagem não usar Liga da Justiça para sugerir essa pluralidade – que, de cara, o destacaria da concorrência. Colocar em algum lugar a presença da Tropa dos Lanternas Verdes seria inteligente; sugerir a existência de personagens místicos e sombrios da editora (John Constantine, o Monstro do Pântano, Desafiador, Etrigan) seria ainda mais bacana, com metahumanos combatendo as forças invasoras pelo mundo. Mas isso tem de ser um tempero, e não o motor narrativo. Dito isso, eu aplaudiria de pé se os Novos Deuses desses as caras: Liga da Justiça lida, afinal, com personagens do Quarto Mundo criados por Jack Kirby. E a gente viu, com Thor Ragnarok, que usar o Rei como inspiração faz maravilhas…

UMA TRAMA COESA

Chega a ser absurdo esperar que Liga da Justiça traga o básico: uma história bem amarrada. Mas suas credenciais não são exatamente impecáveis…. De qualquer forma, filmes de fantasia não são exatamente um oceano de verossimilhança, mas um pouquinho de conexão narrativa faz bem. Não que a coisa precise ser um filme cirurgicamente preciso do Aaron Sorkin, só que não dá pra encarar outra bagunça tonal como Batman vs. Superman e Esquadrão Suicida. Em outras palavras: mesmo com uma trama sobre invasões alienígenas, caixas-maternas e super-heróis salvando o planeta, as coisas precisam fazer sentido! A gente até aceita um ou outro retcon, como Gal Gadot afirmando que a Mulher-Maravilha jamais diria que "desistiu da humanidade", palavras que ela disse claramente em Batman vs. Superman. Não custa um filme consertar a caca feita em outro, passar uma camada de verniz é aceitável quando a coisa não é ciência de foguetes (boa sorte para quem se dispor a analisar a linha do tempo do Universo Cinematográfico Marvel). A boa notícia é que, apesar da boataria apontando quase 3 horas de filme, é provável que Liga da Justiça termine em duas horinhas. O que sugere que, na pós-produção, Joss Whedon deve ter limado, sem dó, ao menos 40 minutos de linguiça colocados ali por Zack Snyder. Tá de bom tamanho para contar uma história redondinha.

SUPERMAN SENDO… SUPER!

A coisa no Universo Estendido DC entortou quando o estúdio entregou a concepção de O Homem de Aço, ponto de partida de seu universo compartilhado, a Christopher Nolan, que faturou bilhões com sua trilogia O Cavaleiro das Trevas. Se as aventuras do Batman versão Cristian Bale cabiam no contexto "realista" imposto por Nolan, o Superman pertence a outra linha criativa, mais fantasiosa e épica, que não orna com sombras e desesperança. Embora tenha seus predicados, O Homem de Aço tenta empacotar o herói nessa aura solene e sombria, que é tudo que o Último Filho de Krypton NÃO é. Como resultado, tivemos de aturar por dois filmes um Superman quase pedindo desculpas por ser o Superman. Snyder, que não é um diretor ruim (veja Madrugada dos Mortos, 300 e até mesmo Watchmen!), não entende o que move o herói. Ele chega a fazer com que seus pais tentem, constantemente, fazê-lo desistir de ser o Superman – e não como sugestão, mas como linhas de diálogo reais, textuais!

"Talvez você devesse deixá-los morrer", diz Jonathan Kent (Kevin Costner) em O Homem de Aço, depois de o pequeno Clark salvar seus colegas, que estavam se afogando num ônibus que despencou num lago. "Você não deve nada à humanidade", dispara Martha (Diane Lane) em Batman vs Superman, praticamente dizendo que grandes poderes NÃO TRAZEM grandes responsabilidades. Nem tudo, porém, está perdido. A morte do Superman tem de ser encarada como um momento de transição. Todo o material promocional de Liga da Justiça sugere que a humanidade perdeu a esperança depois de ele ser assassinado pelo monstro Apocalypse, e Liga da Justiça é a chance de fazer com que seu (óbvio) retorno seja a faísca que reacenderá essa esperança. O Superman precisa, no fim das contas, ser altruista, ser uma fonte de inspiração, ser um ícone para que a humanidade queira melhorar. "Eles podem se tornar grandes, Kal", disse seu pai biológico, Jor-El, nas páginas da série Grandes Astros Superman. "Eles só precisam de uma luz que lhes aponte o caminho." Ou seja, Henry Cavill tem de estar liberado para sorrir!

Sobre o autor

Roberto Sadovski é jornalista e crítico de cinema. Por mais de uma década, comandou a revista sobre cinema "SET". Colaborou com a revista inglesa "Empire", além das nacionais "Playboy", "GQ", "Monet", "VIP", "BillBoard", "Lola" e "Contigo". Também dirigiu a redação da revista "Sexy" e escreveu o eBook "Cem Filmes Para Ver e Rever... Sempre".

Sobre o blog

Cinema, entretenimento, cultura pop e bom humor dão o tom deste blog, que traz lançamentos, entrevistas e notícias sob um ponto de vista muito particular.