Melhor que o original, novo Jumanji é programa perfeito para as férias
Memória afetiva é um negócio ardiloso. Às vezes a gente tem certeza absoluta que um filme/série/música eram geniais. Basta revisitar a mesma obra alguns anos depois e o que era uma pérola logo se reduz a cinzas. Ok, posso estar exagerando, mas é mais ou menos o que acontece com Jumanji, filme de 1995 em que Robin Williams enfrenta uma manada digital que surge por meio de um jogo de tabuleiro mágico. Para muitos, é o "filme da infância". Para os mais sensatos, é só uma aventura boboca que chamou mais atenção pelos efeitos digitais inovadores do que pela própria trama. Arrisco que sua "continuação" informal, Zathura, era mais bem resolvida – e igualmente chatinha. Por isso o espanto da comoção coletiva de fãs online quando um novo Jumanji foi anunciado. Pior ainda: a figura doce e levemente insana de Williams daria lugar ao herói de ação Dwayne Johnson. Pânico e caos: o jogo de tabuleiro seria substituido por um videogame! Heresia, certo?
Bom, nem um pouco. Jumanji: Bem-Vindo à Selva é uma aventura melhor resolvida que seu predecessor. É um filme divertido (e pode caprichar na hipérbole!) e extremamente bem realizado. Para o período de férias que se inicia, não há programa melhor para juntar uma turma e ir ao cinema. O elenco é charmoso e funciona, a trama é bobinha e de compreesão facílima, o subtexto do "seja sempre você mesmo" vai na mosca. Para a geração smartphone, então, é uma cutucada esperta que em nenhum momento soa como uma crítica ácida. Não espere, claro, que este novo filme exija horrores da massa cinzenta. Dirigido por Jake Kasdan, é o que a rapaziada chama de "sessão da tarde", na melhor definição do termo. Você provavelmente vai esquecer da coisa toda com a mesma velocidade que o sabor da pipoca abandona seu paladar. Mas quando ela está quentinha, salgada e com manteiga na medida certa, é uma delícia!
Jumanji versão século 21 começa onde o original terminou: com o tabuleiro abandonado em uma praia. Ele termina nas mãos de um garoto mais preocupado com videogames do que com dados e pecinhas. O jogo "entende" a mudança de foco, transforma-se num cartucho e, quando é ligado, suga o moleque para seu mundo. Corta para décadas depois, quando um quarteto de adolescentes que não poderiam ter personalidades mais diferentes fica de castigo após a aula. A tarefa é arrumar um porão da escola. Mas o destino faz com que eles encontrem o jogo, liguem em uma TV jurássica e a magia entra em ação. A diferença do novo filme para o original de 1995 é que os elementos do jogo não vem para o nosso mundo – são os jogadores que se encontram em uma dimensão paralela, abraçando diferentes avatares como jogadores de Jumanji. Assim, o atleta grandalhão se vê transformado em Kevin Hart, a menina esquisita vira a diva Karen Gillan, a patricinha prepotente chega com o corpo de Jack Black (!) e o nerd que sofre bullying ganha o papel do "líder" da turma, Dwayne Johnson.
O roteiro é bem didático ao explicar as regras do jogo para o quarteto, mas Kasdan não abre espaço para verborragia, mostrando já no meio da ação conceitos como vidas extra, habilidades e fraquezas e o papel dos outros participantes da aventura. A trama gira em torno de um explorador corrupto (Bobby Cannavale) que roubou a jóia de uma estátua sagrada em meio à selva. O objetivo do jogo é, portanto, recuperar o artefato, derrotar o "chefão da fase" e voltar ao mundo real. Essa simplicidade dramática é compensada por puro charme e pela ótima química do quarteto principal – que precisam dar o mínimo de profundidade a personagens que, no mundo real, eram uma coleção de estereótipos. Nick Jonas, no papel do moleque preso ao jogo há décadas sem se dar conta, é o ponto fora da curva, já que ele não está à altura do talento de seus colegas de cena (embora seja com ele que o filme traga uma homenagem bacana a Robin Williams e uma conexão com o filme de 1995). Por outro lado, escalar Jack Black para interpretar uma adolescente mimada é uma decisão criativa para aplaudir de pé.
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