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Do pior ao melhor, um ranking com todos os filmes de Guillermo Del Toro

Roberto Sadovski

07/02/2018 02h37

Em um mês eu espero celebrar o fato de que já tomei uma cerveja com um vencedor do Oscar. Guillermo Del Toro, pelo andar da carruagem, irá para casa com uma estatueta dourada por seu trabalho em A Forma da Água, um filme espetacular que coroa uma carreira de superlativos. Embora seu trabalho como diretor ainda seja curto (e é ele que eu vou abordar aqui), Del Toro tem sua mão em uma dúzia de outros filmes, ora como produtor, ora como roteirista, ora como mentor: ele "descobriu" J.A. Bayona em O Orfanato e ajudou Andy Muschietti a dar forma a seu Mama. Sem falar que é um dos sujeitos mais entusiasmados e apaixonados por cinema que eu já conheci! Vale maratona de Guillermo Del Toro no Carnaval? Ô se vale! E não esqueça de comentar sobre seus filmes favoritos deste mexicano que ajuda a encontrar a humanidade nos monstros do cinema.

10. A COLINA ESCARLATE (Crimson Peak, 2015)

Guillermo perdeu a mão neste drama equilibrado entre o romance gótico e o terror vitoriano. Embora traga um design belíssimo em uma locação com tantos detalhes que precisa de várias espiadas para ser apreciada, a história dos irmãos (Tom Hiddleston e Jessica Chastain) que atraem uma jovem incauta (Mia Wasikowska) para sua mansão assombrada nunca dá liga. Um desperdício de talento, que traz o diretor repetindo alguns de seus truques em um filme inchado que falha em encantar ou empolgar. Ainda assim, é seu único escorregão!

9. MUTAÇÃO (Mimic, 1997)

Em sua primeira produção hollywoodiana, Del Toro foi vítima da interferência violenta do produtor Harvey Weinstein, que retalhou seu terror urbano em busca de sustos ligeiros. A versão do diretor, lançada há poucos anos na gringa, recuperou parte da intenção original de Guillermo, que coloca Mira Sorvino como uma cientista enfrentando as consequências de sua própria criação: insetos geneticamente alterados que buscam imitar os seres humanos. Apesar do final vulgar (na versão de Weinstein), foi a primeira pista para o mundo da paixão do mexicano pelos monstros.

8. BLADE II (2002)

O primeiro filme moderno da Marvel foi justamente Blade, que Stephen Norrington dirigiu em 1998. Quando Guillermo assumiu a sequência, porém, elevou o Caçador de Vampiros interpretado por Wesley Snipes a outro nível. Aqui, o diretor teve mais liberdade para ir fundo na mitologia das criaturas da noite, bolando uma ameaça aos próprios sanguessugas que os forçam a se aliar a Blade. Aproveitando a classificação "proibida para menores", Blade II não hesita em caprichar na violência, com Guillermo criando personagens e situações de grande intensidade – muito antes de Deadpool e Logan revisitarem os "super-heróis dos gibis para adultos".

7. CRONOS (1993)

Sua estreia em um longa é um filme elegante e apaixonado, mostrando de cara os maiores atributos de Guillermo como diretor: cuidado com a caracterização dos personagens e respeito pela ambientação e pelo gênero. Cronos acompanha um dispositivo criado por um alquimista durante a Inquisição (yes!) que confere vida eterna a seu dono. Quatro séculos depois, o aparelho ressurge, causando uma corrida sangrenta pelos interessados em seu poder. Filmado no México, o filme correu o mundo no circuito de festivais e mostrou o talento de Guillermo, além de começar sua parceria com Ron Perlman – que não sabia uma palavra em espanhol!

6. CÍRCULO DE FOGO (Pacific Rim, 2013)

Talvez o maior e mais ambicioso projeto de Guillermo, Pacific Rim leva sua paixão pelos monstros a extremos, colocando criaturas gigantes destruindo o planeta, e os robôs gigantes criados pela defesa da humanidade para enfrentá-los. É um conceito absurdo e fantasioso, que Del Toro entrega com verdade e uma pitada de humor, concentrando a trama não nas batalhas, mas no protagonista (Charlie Hunnam) atormentado por decisões do passado. Mas nem esquente: as batalhas são ainda mais insanas do que podem soar, com monstros gigantes e robôs colossais pilotados por humanos estraçalhando cidades inteiras.

5. HELLBOY (2004)

Talvez não exista casamento mais perfeito de personagem com diretor do que Hellboy e Guillermo. A série de quadrinhos criada por Mike Mignola parece feita sob encomenta para a sensibilidade do mexicano, que escalou Perlman para dar vida à "cria do inferno" que, convocada para a Terra durante a Segunda Guerra, torna-se peça-chave de um departamento governamental obscuro, dedicado a rechaçar ameaças sobrenaturais. Tem ação, tem humor, tem personagens bem desenhados e traz Guillermo pela primeira vez à vontade em meio às engrenagens do cinemão americano.

4. A ESPINHA DO DIABO (El Espinazo del Diablo, 2001)

Depois da frustração com Mutação, Guillermo foi à Espanha rodar este filme de terror apavorante e cheio de simbolismo. Ambientado em um orfanato no meio do deserto, em plena guerra civil espanhola, o filme acompanha um garoto recém-chegado ao lugar que precisa entender seus dois "fantasmas": uma bomba que caiu no pátio e nunca explodiu, lembrança constante do horror da guerra, e um menino que surge como uma aparição, assassinado, que precisa de ajuda para encontrar paz e vingança no além. A Espinha do Diabo é, ao mesmo tempo, doce e assustador, uma pérola pouco vista que merece ser redescoberta.

3. HELLBOY II: O EXÉRCITO DOURADO (Hellboy II: The Golden Army, 2008)

Para a continuação de Hellboy, Del Toro extrapolou cada elemento do filme original. Agora, o demônio que curte charutos e uma boa piada tem de enfrentar um exército de conto de fadas, personificado em um príncipe exilado por seu pai, agora em busca de vingança contra a humanidade. O Exército Dourado é uma produção de tamanha beleza que ameaça, por vezes, deixar a forma atropelar o conteúdo. Mas Guillermo mantém o foco firme em seus protagonistas, encerrando a história com um gancho para uma sequência que, infelizmente, nunca vai acontecer.

2. O LABIRINTO DO FAUNO (El Laberinto del Fauno, 2006)

Ambiguidade, beleza e violência caminham juntos em mais uma história ambientada na sombra da guerra civil espanhola. Desta vez, é uma menina que se vê isolada em uma base militar decadente, com o mundo implodindo a seu redor. Neste lugar, ela descobre ser herdeira de um reino subterrâneo, e é conduzida por um fauno para salvar sua mãe e cumprir seu destino. Guillermo deixa a linha entre realidade e fantasia, entre uma descoberta fantástica e uma fuga da realidade, propositadamente nublada. O Labirinto do Fauno é uma obra de arte, uma fábula poderosa e um dos filmes mais incríveis do cinema moderno.

1. A FORMA DA ÁGUA (The Shape of Water, 2017)

Parece que toda a carreira de Guillermo Del Toro o conduziu a este A Forma da Água. Parte conto de fadas, parte alegoria da Guerra Fria, parte história de amor, o filme condensa suas paixões em uma obra universal, enxuta e apaixonante. É um filme de surpresas, de paixão escancarada pelo estranho, e que estranhamente ressoa forte no mundo do novo século, em que a tolerância e a civilidade parecem encolher ante o avanço do obscurantismo. A Forma da Água combate esse crescendo de trevas com absoluta beleza. E é assim que o mundo deve ser.

 

Sobre o autor

Roberto Sadovski é jornalista e crítico de cinema. Por mais de uma década, comandou a revista sobre cinema "SET". Colaborou com a revista inglesa "Empire", além das nacionais "Playboy", "GQ", "Monet", "VIP", "BillBoard", "Lola" e "Contigo". Também dirigiu a redação da revista "Sexy" e escreveu o eBook "Cem Filmes Para Ver e Rever... Sempre".

Sobre o blog

Cinema, entretenimento, cultura pop e bom humor dão o tom deste blog, que traz lançamentos, entrevistas e notícias sob um ponto de vista muito particular.