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Cobra Kai promete a continuação de Karatê Kid que o mundo precisava!

Roberto Sadovski

20/02/2018 03h58

A essa altura, todo mundo sabe que Karatê Kid – A Hora da Verdade trouxe a batalha suprema de um forasteiro (no caso, o adolescente magrelo Daniel LaRusso) derrotando seu bully (Johnny Lawrence) em um duelo de artes marciais. O ano era 1984, e o diretor John G. Avildsen sabia uma ou outra coisa sobre contar a história de um perdedor triunfando em um combate desproporcional – ele dirigiu Rocky, Um Lutador, menos de uma década antes. Ralph Macchio, que interpretou Daniel, nunca teve a carreira estelar sugerida pelo filme…. mas tudo bem! Seu nêmesis, papel de William Zabka, teve sorte pior, tornando-se a imagem do estereótipo do vilão briguento que Hollywood adora odiar. A única vez que seu Johnny Lawrence foi visto como o herói da aventura foi em um episódio antológico de How I Met Your Mother, em que Barney Stinson (Neil Patrick Harris) deseja conhecer o "karatê kid" em seu bar mitzvah – para ele, LaRusso, provador e agressivo, seria o verdadeiro vilão da história.

Mas por que, você se pergunta, eu estaria divagando sobre Karatê Kid? O filme teve três continuações (uma sem Daniel-San e com Hilary Swank como a nova encrenqueira), um remake até ok com Jackie Chan e Jaden Smith, uma marca bacana na cultura pop (DUVIDO encontrar alguém que não saiba quem é o Sr. Miyagi e seu treinamento com o "coloca cêra, tira a cêra") e…. só. Até agora. Eis que passei os olhos pelo primeiro teaser de Cobra Kai, que promete retomar a rivalidade de Lawrence e LaRusso, com Zabka e Macchio reprisando seus papéis. Foi uma revelação. A princípio pensei ser uma piada, algum comercial esperto puxando pela nostalgia, como a recente propaganda do governo australiano usando Crocodilo Dundee e um punhado de astros contemporâneos. Estava errado. A série é pra valer, terá dez episódios, será exibida online no YouTube Red e parece ser um negócio super sério. Dá uma espiada e volta aqui.

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Sentiu o arrepio? Cobra Kai, segundo a Entertainment Weekly, coloca Johnny na pior. Aparentemente a derrota para LaRusso quando eles eram adolescentes o deixou marcado como um derrotado, incapaz de derrubar o novato que veio do nada. A coisa fica tão feia que ele é confundido, a certa altura, com um morador de rua. Seu filho quer distância, temendo ser remotamente parecido com seu pai. Como último esforço para recolocar a vida nos trilhos, Johnny reabre o dojo Cobra Kai, mantendo sua "filosofia" de violência sem misericórdia, e começa a treinar um adolescente que sofre bullying como forma de compensar seus próprios erros. Até agora, na verdade, eu só consigo ver Johnny como alguém que quer melhorar, alguém que aprendeu com os erros do passado. Talvez Cobra Kai seja mesmo a saga da redenção de Johnny Lawrence.

Pena que Daniel LaRusso, agora dono de uma revenda de carros, feliz com sua mulher e filha, veja na reabertura do dojo um ato de extrema provocação por parte de Johnny. "Não entendo por que você quer reabrir o Cobra Kai", grita Daniel, punhos cerrados, encarando seu antigo valentão do colégio. Já se passaram trinta e quatro anos, cara! Bom, talvez ele querer tirar alguma satisfação mostre que sua vida não é lá tão perfeita quanto ele quer mostrar. Talvez a nova série seja como um filme de super-heróis, em que os protagonistas precisem se enfrentar primeiro antes de encarar a verdadeira ameaça – no caso, um lutador que compete em disputas estilo UFC que entra em cena e acha que karatê é uma piada. Talvez eu esteja pensando demais sobre o que Cobra Kai pode ser, em vez de ficar feliz pelo simples fato de a série existir!

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A Hora da Verdade fez parte de meus anos de formação como fã de cinema – os anos 80 foram celeiro de dezenas de filmes que, no Brasil, ganharam um "A Hora de…" no título, tradição que seria muito bem vinda no cinemão atual. De qualquer forma, o filme de Avildsen trouxe a eterna batalha entre o bem e o mal para uma ambientação familiar para um moleque como eu, e com certeza isso está refletido na equipe responsável por Cobra Kai, com Josh Heald (A Ressaca) dividindo o texto com a dupla Jon Hurwitz e Hayden Schlossberg (da série Harold & Kumar), que assinam a direção de boa parte da nova série. Will Smith é um dos produtores executivos, dando um link moderno com o clássico oitentista. Uma vez, conversando com Seann William Scott, o papo desviou justamente para Johnny Lawrence, e como William Zabka merecia uma segunda chance. Agora é a hora. De algum lugar, tenho certeza que Pat Morita está sorrindo.

Sobre o autor

Roberto Sadovski é jornalista e crítico de cinema. Por mais de uma década, comandou a revista sobre cinema "SET". Colaborou com a revista inglesa "Empire", além das nacionais "Playboy", "GQ", "Monet", "VIP", "BillBoard", "Lola" e "Contigo". Também dirigiu a redação da revista "Sexy" e escreveu o eBook "Cem Filmes Para Ver e Rever... Sempre".

Sobre o blog

Cinema, entretenimento, cultura pop e bom humor dão o tom deste blog, que traz lançamentos, entrevistas e notícias sob um ponto de vista muito particular.