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O Predador: a volta do maior monstro do cinema merecia um trailer melhor

Roberto Sadovski

14/05/2018 02h03

O primeiro trailer de O Predador foi revelado ao mundo semana passada e… bom, e não impressionou. Claro, ainda é muito cedo para sequer imaginar qual é a do filme. E Shane Black merece o benefício da dúvida eterno. Como roteirista, ele ajudou a criar o cinema de ação moderno com Máquina Mortífera, além de escrever os acima da média O Último Boyscout (que Tony Scott dirigiu em 1991) e O Despertar de um Pesadelo (com Geena Davis chutando traseiros em 1996). Ao passar para a cadeira de diretor, Black fez o excepcional Beijos e Tiros, surpreendeu geral quando fez de Homem de Ferro 3 um dos melhores filmes da Marvel e fez uma comédia de ação pra lá de bacana com Dois Caras Legais. Para fechar o círculo, ele fazia parte da equipe liderada por Arnold Schwarzenegger no Predador de 1987, e foi um dos primeiros a empacotar nas mãos do maior monstro do cinema. Primeiro, o novo trailer:

Ah, e você não leu errado: o caçador alienígena é, sem dúvida, a criatura mais interessante que o cinemão já criou. Depois de três décadas, cinco filmes e um punhados de videogames e HQs, o Predador se mantém como uma propriedade intelectual curiosa o bastante para que o estúdio continue a tentar reinventá-lo. E talvez o problema esteja aí. Quando Schwarzenegger se embrenhou na selva sob direção de John McTiernan em 1987, ele estava a caminho de se tornar o maior astro do cinema de ação mundial, uma montanha de músculos e carisma que parecia invencível. Predador mudou a música, fazendo que Schwarza passasse de caçador à presa. E foi um filme que acertou em tudo: na dose de violência, na explosão de testosterona quase homoerótica, no roteiro esperto (assinado por Jim e John Thomas) que revela apenas o necessário sobre o assassino espacial. E na própria criatura, que primeiro foi imaginada como um réptil gigante (Jean-Claude Van Damme vestia essa primeira roupa, mas seu tamanho não parecia amedrontador antes os outros atores e ele foi substituído por Kevin Peter Hall), depois redesenhada pelo mestre Stan Winston, ganhando seu visual icônico.

Predador foi um sucesso pelo equilíbrio exato de tantos elementos, com inspiração que ia de Rambo II – A Missão a Aliens – O Resgate. Ao contrário do xenomorfo imortalizado nos filmes de Ridley Scott e James Cameron, o caçador com cabelos rastafari (uma inspiração real de Winston) era uma criatura inteligente com um senso de honra só alcançado por sua ferocidade ao eliminar suas presas. A premissa do filme é simples. Schwarza lidera um grupo de mercenários contratado pelo governo americano (e pela CIA) para desestabilizar um grupo de guerrilheiros nas selvas da América Central. Uma vez em campo, eles percebem que estão sendo caçados por uma entidade de tecnologia avançada e código de conduta tribal. Um a um, o time de Arnold é eliminado, deixando o combate final entre ele e a criatura definindo não quem é o mais forte, e sim quem seria o mais capaz na selva. Uma explosão "limpa" a área, deixando Schwarzenegger lambendo as feridas, mas vivo para contar a história.

Schwarzenegger pronto pra guerra em Predador, de 1987

O filme faturou 100 milhões de dólares (com um orçamento de 15 milhões) e uma continuação passou a ser planejada. Schwarzenegger saiu fora, e Predador 2, embora tivesse Danny Glover à frente, era centrado no caçador alienígena, agora fazendo de Los Angeles seu campo da morte. Foi a primeira reinvenção, que já resultou em uma aventura capenga dirigida por Stephen Hopkins (que tem se dedicado basicamente à TV neste século). Embora a bilheteria não fosse animadora, o Predador havia se tornado uma marca poderosa, mantida viva em outras mídias – seu encontro com o Batman resultou numa HQ espetacular, que renderia um filme brilhante. O que aconteceu, entretanto, foi o personagem parar nas mãos de Paul W.S. Anderson (Resident Evil), que o misturou com o outro monstro célebre em Alien vs. Predador, de 2004. O resultado foi catastrófico, um filme frouxo que rendeu uma sequência ainda pior três anos depois). O canto do cisne da criatura foi Predadores, de 2010, que quase conseguiu Schwarzenegger de volta (seu papel foi reescrito, piorado e colocado nas mãos de Laurence Fishburne). O diretor Nimród Antal colocou um grupo de assassinos num planeta criado pelos predadores como campo de caça e quase – quase! – conseguiu o clima de terror de sobrevivência do filme original.

Agora é a vez de Shane Black. O Predador traz os caçadores de volta à Terra. Mas não em uma selva, nem em uma metrópole. O cenário agora são os subúrbios tipicamente ianques, em que um garoto (Jacob Tremblay) acidentalmente dispara um sinal que atrai os aliens para nosso planeta. Um grupo de ex-soldados e assassinos entra na caçada, que vai de ginásios à florestas, como se o Stallone de Rambo – Programado Para Matar fosse um caçador alienígena e os policiais em seu encalço fossem alvos para suas armas avançadas. O Predador precisa desse clima de guerrilha urbana e natureza selvagem se quiser espelhar os acertos do primeiro filme e dar continuidade à série de forma digna. Shane Black pode ser o sujeito certo para o trabalho. E os fãs cruzam os dedos…. e esperam por um trailer melhor.

O Predador é a volta do guerreiro rastafari do espaço

Sobre o autor

Roberto Sadovski é jornalista e crítico de cinema. Por mais de uma década, comandou a revista sobre cinema "SET". Colaborou com a revista inglesa "Empire", além das nacionais "Playboy", "GQ", "Monet", "VIP", "BillBoard", "Lola" e "Contigo". Também dirigiu a redação da revista "Sexy" e escreveu o eBook "Cem Filmes Para Ver e Rever... Sempre".

Sobre o blog

Cinema, entretenimento, cultura pop e bom humor dão o tom deste blog, que traz lançamentos, entrevistas e notícias sob um ponto de vista muito particular.