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Aranhaverso aponta o melhor caminho para o Homem-Aranha fora da Marvel

Roberto Sadovski

07/06/2018 03h47

O universo do Homem-Aranha no cinema é um bicho complicado. O herói, Peter Parker, teve duas séries live action – três filmes do Sam Raimi, dois de Mark Webb – e desde Capitão América: Guerra Civil está incorporado ao Universo Cinematográfico Marvel, na pele de Tom Holland, protagonizando seu próprio filme (De Volta ao Lar) e lutando ao lado dos heróis mais poderosos da Terra em Vingadores: Guerra Infinita. Já todos os outros personagens presentes em suas histórias em quadrinhos podem ser usados pela Sony em outros projetos, como Venom (aquele do trailer terrível), que estréia em outubro, além de Silver & Black, Morbius: O Vampiro Vivo e, não tô zoando, Tia May – todos nos planos do estúdio, todos causando bocejos por uma pergunta simples: como ter uma aventura no universo do Homem-Aranha… sem o Homem-Aranha?

Homem-Aranha no Aranhaverso sugere uma terceira via… e, pelo que o novo trailer indica, é um caminho absolutamente incrível! Como a Sony detém os direitos para lançar uma animação com o herói, eles convocaram a dupla Phil Lord e Chris Miller (Uma Aventura Lego, Anjos da Lei, Han So…. opa, risca esse último) para escrever e produzir justamente isso. A pegadinha? O protagonista de Aranhaverso não é Peter Parker, e sim Miles Morales, o Aranha teenager de um universo alternativo que também tem poderes aracnídeos (alguns levemente diferentes) e também percebe que grandes poderes trazem… ah, você sabe o resto. A criação de Miles nas HQs aconteceu justamente no chamado "universo ultimate", em que os maiores heróis da Marvel foram reimaginados em novas séries no começo do século, histórias independentes da cronologia tradicional datando desde os anos 60. Em tramas que precisam de trinta blogs para ser explicadas, o universo ultimate foi extinto e seus heróis apagados – à exceção de Miles, incorporado ao único mundo de heróis remanescente. Sim, hoje os gibis tem dois Homem-Aranha.

Miles Morales, o novíssimo Homem-Aranha!

A pergunta de como levar esse trelelê todo ao cinema foi vagamente respondida neste novo trailer, que mistura elementos da Marvel tradicional nas HQs com o universo ultimate, salpicando o conceito do Aranhaverso para amarrar tudo. Veja bem, Peter Parker foi picado por uma aranha radioativa, mas neste mundo (que não tem absolutamente nenhuma relação nem com o MCU nem com onde quer que Venom seja situado) outros personagens compartilham as mesmas habilidades. E Peter surge no trailer mais velho e como uma espécie de mentor para Miles, que tem de aprender a lidar com seus poderes, equilibrando sua vida adolescente com o trampo de esconder o segredo de seus pais. É uma nova dinâmica que abre um conceito absolutamente sensacional para as aventuras do Cabeça de Teia no cinema. Os vilões, ao menos os que dão as caras no trailer, são o Duende Verde (na versão monstruosa do universo ultimate), o Rei do Crime (inimigo do Demolidor mas que, nos quadrinhos, foi originalmente concebido para o gibi do Aranha) e até o Gatuno (que, na versão ultimate, é o tio de Miles, personagem vislumbrado rapidamente em De Volta ao Lar na pele de Donald Glover).

O grande chamariz de Homem-Aranha no Aranhaverso, além desse leque de novas histórias feito possível, é a animação. Eu nunca vi nada parecido com o show de luzes e tons e técnica mostrado aqui pelos diretores Bob Persichetti, Peter Ramsey e Rodney Rothman. O efeito, que parece mesclar animação tradicional e digital, por vezes parece imitar uma página de quadrinhos. Mas nunca de forma tosca, e sim integrada na ação, com onomatopeias surgindo por frações de segundos e as linhas da paisagem substituídas, em um único frame, por desenhos em que a gente enxerga hachuras e retículas (as linhas e pontos que indicam sombra ou movimento) e até pontilhismo em seu estado pop mais puro, como se fosse um desenho de Roy Lichtenstein. Ver o "sentido de aranha" disparando com as linhas desenhadas em torno da cabeça dos heróis, exatamente como nas HQs, é coisa linda! A escolha de um caminho em animação radicalmente diferente do que produz a Pixar ou mesmo a própria Sony Animation mostra que os criadores de Aranhaverso investiram não só em aproveitar uma das propriedades intelectuais mais valiosas do planeta, mas também em arriscar para completar uma visão única. E nada mais único em um filme do Homem-Aranha do que ver Gwen Stacy, viva e bem, usando seu traje de… Spider-Gwen!

E eu deixo vocês com a beleza de Spider-Gwen!

Sobre o autor

Roberto Sadovski é jornalista e crítico de cinema. Por mais de uma década, comandou a revista sobre cinema "SET". Colaborou com a revista inglesa "Empire", além das nacionais "Playboy", "GQ", "Monet", "VIP", "BillBoard", "Lola" e "Contigo". Também dirigiu a redação da revista "Sexy" e escreveu o eBook "Cem Filmes Para Ver e Rever... Sempre".

Sobre o blog

Cinema, entretenimento, cultura pop e bom humor dão o tom deste blog, que traz lançamentos, entrevistas e notícias sob um ponto de vista muito particular.