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Do Batman aos executivos, muda tudo (de novo) na DC. Será que agora vai?

Roberto Sadovski

12/06/2018 19h19

O "universo estendido DC" acabou. Não vai deixar saudades, e sim um legado de cinco filmes – três desastres (Batman vs Superman, Esquadrão Suicida e Liga da Justiça), um eficiente (O Homem de Aço) e outro realmente bom (Mulher-Maravilha). Não foi o bastante para a Warner ter fé nas forças criativas que tinham como uma das atribuições rivalizar o sucesso da Marvel no cinema. Depois do fracasso retumbante de Liga, e da mudança de liderança na estrutura da Warner/DC, agora a nova arquitetura das aventuras dos heróis em carne e osso aos poucos é revelada. Na prática, é uma dança das cadeiras nervosa revela uma certa ousadia para o futuro, com gente dos quadrinhos colocando as mãos nos filmes da DC (o que atende a um desejo antigo dos fãs), velhos conhecidos deixando cargos executivos para se concentrar no âmbito criativo, e um futuro para a joia da coroa, o Batman, desprovido de Ben Affleck.

Vamos, então, tirar isso da frente. Embora ninguém do estúdio confirme que venceu a validade do Homem-Morcego nas mãos de Ben Affleck (depois de Batman vs Superman e Liga da Justiça), sua aposentadoria era questão de tempo. Affleck começou a desenvolver The Batman, filme-solo do herói, como roteirista, diretor e protagonista. Foi colocado de lado no roteiro e também deixou a cadeira de diretor, ocupada há cerca de um ano por Matt Reeves (Planeta dos Macacos: A Guerra). No anúncio das mudanças na DC, adiantado pelo Deadline, o destino de Batfleck surge escondido em uma frase simples: "Matt Reeves vai recriar o Batman para uma nova série-solo, provavelmente com um novo ator no papel do Cavaleiro das Trevas". Bang! Embora fosse um caminho óbvio depois da performance pífia do UEDC, confesso que o trabalho de Affleck era um dos poucos pontos positivos de toda a empreitada, mas o ator deve sair fora sem um filme bacana para chamar de seu.

Geoff Johns e Jim Lee na dança das cadeiras da DC

Quando o UEDC (ok, é "universo estendido DC", mas, preguiça) foi desenhado anos atrás, o estúdio apostou numa visão sem humor conduzida por Zack Snyder. Ele terminou dirigindo três dos cinco filmes dentro do projeto (O Homem de Aço, BvS e Liga), mas sua visão indecisa entre a fantasia dos super-heróis e o realismo forçado que só funcionou na trilogia O Cavaleiro das Trevas de Christopher Nolan deixou fãs a ver navios – e os números miaram. As fichas dos engravatados foram apostadas então em Geoff Johns, roteirista de mão cheia e habilidoso na corda bamba entre os quadrinhos e o cinema. Johns ocupava a presidência criativa da DC Entertainment, braço da Warner responsável pelos filmes dos heróis da editora desde 2016, e foi removido pela nova chefia, encabeçada pelo executivo Walter Hamada, dono da bola há seis meses. As mudanças podem ser benéficas à Johns, que assinou um contrato de produção com a Warner para desenvolver projetos ligados aos super-heróis com o selo Mad Ghost Productions: além de assinar a produção de Aquaman, Mulher-Maravilha 2 e Shazam!, os próximos filmes da DC a chegar no cinema, ele também vai roteirizar e produzir Tropa dos Lanternas Verdes, que segundo o próprio site da Mad Ghost mostrará dois humanos, Hal Jordan e John Stewart, unindo-se à "força policial" estelar.

Aí a coisa começa a ficar…. esquisita. No lugar de Geoff Johns como presidente criativo da DC Entertainment, o estúdio apontou Jim Lee, desenhista gigante dos anos 90, um dos criadores da Image Comics e, hoje, publisher da editora ao lado de Dan DiDio. Colocar Lee no cargo é arriscado, deixando Hollywood fervendo as ideias sobre como um editor de quadrinhos e executivo de estratégia digital (basicamente suas funções na DC, além de ainda desenhar alguns títulos) vai se sair como responsável pela criação e desenvolvimento de candidatos a blockbuster. Claro que o artista tem amparo de uma corporação sólida, mas são muitas peças movidas em um tabuleiro armado sobre água: a DC anunciou meia dúzia de novos projetos (dois com o Coringa, a continuação de Esquadrão Suicida, Aves de Rapina com a Arlequina) que eu duvido que saiam do papel, além de a empresa ter sua fusão com o gigante da telecomunicação AT&T aprovada literalmente horas atrás, depois de meses de espera, o que pode bagunçar mais uma vez toda sua estrutura interna.

Tropa dos Lanternas Verdes está mais perto de sair do papel

Do lado de cá, porém, fica o temor de tantas mudanças não passarem de mais do mesmo. A busca por um centro criativo assombrou a DC desde que a Marvel, comprada pela Disney, transformou seu universo cinematográfico na propriedade intelectual mais poderosa de Hollywood. As comparações são inevitáveis, principalmente depois que o presidente da concorrência, Kevin Feige, emplacou sucesso atrás de sucesso, com Vingadores: Guerra Infinita quebrando a barreira dos 2 bilhões de dólares nas bilheterias mundiais, dividindo espaço com Avatar, Titanic e Star Wars: O Despertar da Força. O caminho pós-UEDC ainda parece atribulado, mas se mostra extremamente promissor. Duvido que Aquaman ou Mulher-Maravilha 2 tenham qualquer conexão com filmes que a gente viu nos últimos anos, e aposto que Shazam! será uma aventura isolada, sem depender de conexões ou continuações. Se Ben Affleck for confirmado fora de The Batman, será a chance definitiva de os heróis mais poderosos da Terra pararem de se preocupar com o triunfo da concorrência e traçar seu próprio caminho nos cinemas. Como, aliás, sempre foi.

Sobre o autor

Roberto Sadovski é jornalista e crítico de cinema. Por mais de uma década, comandou a revista sobre cinema "SET". Colaborou com a revista inglesa "Empire", além das nacionais "Playboy", "GQ", "Monet", "VIP", "BillBoard", "Lola" e "Contigo". Também dirigiu a redação da revista "Sexy" e escreveu o eBook "Cem Filmes Para Ver e Rever... Sempre".

Sobre o blog

Cinema, entretenimento, cultura pop e bom humor dão o tom deste blog, que traz lançamentos, entrevistas e notícias sob um ponto de vista muito particular.