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8 grandes filmes sobre futebol pra você curtir na estreia do Brasil na Copa

Roberto Sadovski

17/06/2018 03h39

Melhor confessar agora: eu não dou a mínima para a Copa do Mundo. No dia do fatídico 7 x 1 que o Brasil engoliu da Alemanha quatro anos atrás, quando o campeonato foi em nosso quintal, eu provavelmente estava fazendo algo mais produtivo do que ver a partida, como levar meu cachorro para passear. Futebol, por outro lado, pode ser um instrumento narrativo fantástico para criar boas histórias. Assim como filmes sobre/com música, usar um esporte como pano de fundo é meio caminho andado para acertar na mosca. Afinal, se parte da empreitada já está carregada de paixão, é só não deixar a coisa nas mãos de um realizador capenga para fazer a rede balançar. Aproveitando que o Brasil hoje entra em campo pela primeira vez nessa Copa da Rússia, organizei uma lista com oito filmes bacanas – sete gringos e um brasileiro solitário – para embalar os intervalos entre as partidas . Deixei de fora documentários por motivos de falta de paciência com produções invariavelmente chapa-branca (só ver as "belezas" produzidas pelos clubes brasileiros) e me concentrei em obras emocionantes, irremediavelmente cafonas, ligeiras com o próprio esporte. Se eu deixei algum que você ache indispensável de fora, coloca nos cometários e contribua com o listão! E é isso: bons filmes, boa Copa e boa torcida! Eu provavelmente estarei com a TV desligada…. o cachorro ainda precisa passear!

GOL! – O SONHO IMPOSSÍVEL
(Goal! The Dream Begins, 2005)

O diretor Danny Cannon consegue traduzir em filme o sonho de todo moleque na várzea em um dia ser notado por um olheiro e terminar jogando profissionalmente em um time de primeira. É o que acontece com Santiago Munez (Kuno Becker), imigrante ilegal que foi levado com sua família do México para Los Angeles. Trabalhando com seu pai em uma firma de jardinagem, ele é avistado por um ex jogador inglês e tem a chance de uma nova vida na Inglaterra, jogando pelo Newscastle. Cannon às vezes pesa a mão, e o filme ameaça abraçar todos os clichês dos filmes sobre esportes, mas Gol! termina como um drama honesto sobre não desistir de seus sonhos. Foi o primeiro de uma trilogia, mas os dois filmes seguintes merecem um cartão vermelho.

FUGA PARA A VITÓRIA
(Victory, 1981)

Cafona ao cubo, esse filme de guerra do imortal John Huston colocou Sylvester Stallone, Michael Caine e Pelé como jogadores em um campo de prisioneiros nazista durante a Segunda Guerra Mundial. Eles são recrutados por seus algozes para uma partida contra um time all star alemão como instrumento de propaganda, mas planejam uma fuga audaciosa durante a partida. Malhado à exaustão desde seu lançamento, Fuga Para a Vitória ganhou status cult com o tempo e hoje pode ser apreciado como o filme absurdo e divertido que ele é – bom para os amantes de filmes de guerra, melhor ainda para quem curte futebol, já que os produtores recrutaram uma turma de respeito para preencher o campo no filme. E, sério, Sylvester Stallone como um goleiro? É para isso que o cinema foi inventado, senhores!

MALDITO FUTEBOL CLUBE
(The Damned United, 2009)

Michael Sheen brilha como Brian Clough, que foi técnico do time britânico Leeds United por 44 dias em 1974. Em uma época sem internet para dar voz aos fãs de todas as cores do futebol, e sem a interferência de proprietários milionários de times que hoje parecem empresas, Maldito Futebol Clube usa a história de Clough para mostrar os bastidores mergulhados em rivalidade, ego, inveja, arrogância e puro talento do futebol da época. Para isso, o diretor Tom Hooper (O Discurso do Rei), trabalhando com um roteiro de Peter Morgan (criador da série The Crown), mostram as raízes do desprezo de Clough pelo time que assumiu, as engrenagens de bastidores que o colocaram lá e a politicagem que encerrou sua carreira no Leeds – mas não no futebol inglês, onde ele é reverenciado como o melhor técnico que a seleção inglesa nunca teve.

DRIBLANDO O DESTINO
(Bend It Like Beckham, 2002)

Essa comédia que revelou Keira Knightley ao mundo usa o futebol como pano de fundo para uma história sobre o rompimento de tradições e como nunca desistir de um sonho. A protagonista é Jess (Parminder Nagra), filha de indianos que proíbem a filha de jogar por ela ser mulher. Mesmo assim, ela é incentivada pela amiga Jules (Keira) a entrar no mesmo clube que ela, que escala aos poucos a liga européia. Amores impossíveis, amizades abaladas e laços familiares estremecidos dão a tônica desse filme saboroso que usa o esporte como celebração e o caminho para um final feliz. David Beckham? Ah, o astro inglês surge em uma única cena, como sinal de que as coisas só podem melhorar para as duas jovens. Enquanto isso, no mundo real, a Inglaterra, berço do futebol, busca por um novo título há mais de cinco décadas…

KUNG-FU FUTEBOL CLUBE
(Shaolin Soccer, 2001)

Imagine se uma partida de futebol fosse disputada pelos personagens de Dragon Ball, e você terá uma ínfima ideia da insanidade que é este Kung-Fu Futebol Clube. Fruto da mente do roteirista, produtor, diretor e astro Stephen Chow, o filme segue um jogador de futebol, Fung, que viu sua carreira descer pelo ralo após ser traído por um ex-colega de time, hoje um empresário multimilionário. Ele conhece um mestre shaolin de artes marciais, Sing (Chow), que pretende difundir os benefícios de sua prática pelo mundo, e juntos misturam a disciplina do kung fu com a habilidade do futebol. Fung e Sing formam um time com outros monges shaolin que se mostra imbatível, até enfrentar uma equipe maligna, turbinada por uma droga americana (claro), na final do campeonato. Alguém disse "kame rame rá"?

FEBRE DE BOLA
(Fever Pitch, 1997)

Talvez este filme baseado no romance autobiográfico de Nick Hornby (que também escreveu o roteiro) seja o que os fãs do futebol mais vão se identificar. Mas não o torcedor eventual, e sim o sujeito que vive e respira as cores do seu time 24/7, capaz de fazer os maiores sacrifícios em sua vida pessoal para honrar a camisa que defende. Esse é o professor Paul Ashworth (Colin Firth), que idolatra o chão por onde passam os jogadores do Arsenal – paixão que arde mesmo com longas temporadas sem uma vitória sequer. Paul se apaixona, porém, pela professora novata Sarah (Ruth Gemmell), justamente quando o Arsenal vislumbra a possibilidade de vencer o todo-poderoso Liverpool na final do campeonato – que é onde ficção encontra realidade, já que estamos falando da mítica partida disputada em 26 de maio de 1989. Qual amor, afinal, é o mais forte?

HOOLIGANS
(Green Street Hooligans, 2005)

Impossível falar de futebol sem lembrar também do lado mais sombrio dos esporte. Não no campo, mas fora dele, representado por torcedores que transformam o fanatismo em violência extrema. Hooligans é uma viagem por essa espiral descendente de ódio, representada por Matt (Elijah Wood), estudante expulso injustamente de Harvard que vai morar com parentes na Inglaterra. Ele é apresentado ao mundo dos torcedores violentos por Pete (Charlie Hunnam), irmão mais novo de seu cunhado, e lentamente vai sendo arrastado para uma série de brigas mais e mais violentas entre torcedores rivais, em que o futebol torna-se mera desculpa para adversários reduzirem-se a bárbaros. A cena hooligan dominou os anos 80 e 90 e, se hoje parece uma lembrança, sua sombra ecoa sempre que, mesmo no Brasil, pretensos torcedores apelam para a violência em nome de uma paixão torta.

BOLEIROS: ERA UMA VEZ O FUTEBOL…
(1998)

É uma vergonha a "pátria do futebol" jamais ter produzido um grande filmes sobre o esporte. Se transbordam documentários chapa-branca destinados a louvar um ou outro time, o cinema brasileiro ainda não traduziu sua paixão em um filme emocionante e inesquecível. Já tivemos bobagens vergonhosas (O Casamento de Romeu e Julieta), biografias sóbrias (Heleno), dramas políticos (O Ano Em Que Meus Pais Saíram de Férias), pastelão infantil (Os Trapalhões e o Rei do Futebol) e dramas muito, mas muito ruins (Asa Branca – Um Sonho Brasileiro). Nada, porém, que trouxesse um momento memorável, uma cena épica, uma história envolvente. Bom, quase nada. Boleiros, que o grande Ugo Giorgetti cometeu há duas décadas, é um tributo apaixonado ao futebol brasileiro. A trama é simples: ex-grandes jogadores se reúnem em um bar e dividem suas histórias, ora trágicas, quase sempre cômicas, todas honestas e saborosas. É pouco: já passou da hora de nosso cinema sair desse 7 x 1!

Sobre o autor

Roberto Sadovski é jornalista e crítico de cinema. Por mais de uma década, comandou a revista sobre cinema "SET". Colaborou com a revista inglesa "Empire", além das nacionais "Playboy", "GQ", "Monet", "VIP", "BillBoard", "Lola" e "Contigo". Também dirigiu a redação da revista "Sexy" e escreveu o eBook "Cem Filmes Para Ver e Rever... Sempre".

Sobre o blog

Cinema, entretenimento, cultura pop e bom humor dão o tom deste blog, que traz lançamentos, entrevistas e notícias sob um ponto de vista muito particular.