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De James Bond a Jack Ryan, os 15 maiores espiões da cultura pop

Roberto Sadovski

28/08/2018 05h10

Jack Ryan está de volta. O agente da CIA bolado pelo escritor Tom Clancy em 1984 no explosivo A Caçada ao Outubro Vermelho assegurou seu lugar de direito entre os grandes espiões da cultura pop ao protagonizar cinco filmes com quatro atores diferentes – Alec Baldwin, Harrison Ford, Ben Affleck e Chris Pine. Sua jornada agora deixa o cinema e vai para a TV, em uma série que estreia dia 31 no serviço de streaming da Amazon com John Krasinski no papel principal. Talvez a divisão da aventura em oito episódios sirva para injetar relevância e personalidade ao personagem, que aqui defende basicamente uma história de origem. É um bom ponto de partida para descobrir quem é Ryan, e um palco perfeito para Krasinski, em alta depois do terror Um Lugar Silencioso, firmar-se como herói de ação.

Aproveitando a chegada de Tom Clancy´s Jack Ryan (o nome inteiro da série), aproveitei para lembrar os grandes espiões da cultura pop, personagens fantásticos que brotaram no cinema, na TV, na literatura e nos quadrinhos. Alguns estão firmemente solidificados no mundo real. Outros, não se furtam em explorar realidades mais fantasiosas. Em comum, todos surgem como espelhos para um momento sócio-político, quase sempre traduzidos em uma grande aventura. Muitos ficaram de fora (sinto muito, Austin Powers), outros bateram na trave para entrar na lista (Sterling Archer, você ainda é o cara!). Mas o listão a seguir é um compilado honesto de como a ficção retratou a figura sempre exuberante do agente secreto. Aproveite e deixe seu comentário com seu espião favorito e por que ele merecia estar na lista! Vamos a eles….

15. Joe Turner
(Robert Redford em Os Três Dias do Condor, 1975)

Sydney Pollack dirigiu com gosto esse thriller político que coloca Robert Redford como um pesquisador da CIA que, após encontrar seus colegas de trabalho mortos, coloca-se no centro de uma conspiração envolvendo o alto escalão da agência, a tomada de campos de petróleo no Oriente Médio e uma queima de arquivo equivocada. Redford capricha no charme e abraça o papel do herói relutante, que mostra suas habilidades quando sua missão mais importante é revelada: manter-se vivo.

14. Nikita
(Anne Parillaud em Nikita – Criada Para Matar, 1990)

Criação de Luc Besson, a delinquente Nikita teve vida longa além do filme dos anos 90, em que ganhou o corpo de Anne Parillaud. A refilmagem A Assassina (1993), com Bridget Fonda, e a série La Femme Nikita (1997/2001), com Peta Wilson, não fizeram muito esforço para dar mais dimensão à personagem. Quando Maggie Q reassumiu o papel na TV, entre 2010 e 2013, foi uma bem vinda evolução à trama original. Mas Parillaud, sob direção de Besson, acertou em cheio quando interpretou a assassina treinada por uma agência governamental para agir nas sombras.

13. Sydney Bristow
(Jennifer Garner em Alias, 2001/2006)

Uma das criações mais intrigantes da TV do novo século, a protagonista de Alias é uma espiã, que assume dezenas de disfarces para conduzir suas missões, obrigada a conciliar a "carreira" com a ilusão de uma vida normal ao lado da família e amigos. Embora flertasse com a ficção científica em alguns arcos de histórias, Alias manteve-se firme na realidade, graças ao trabalho brilhante de construção de personagem por J.J. Abrams, e pela interpretação equilibrada entre a intensidade e a fragilidade de Jennifer Garner.

12. Peggy Carter
(Hayley Atwell em Agente Carter, 2015/2016)

Surgida na aventura Capitão América: O Primeiro Vingador, de 2011, a agente Peggy Carter protagonizou um curta produzido pela Marvel em 2013, que logo levou à série exibida pela ABC. Seu potencial, explícito em O Primeiro Vingador, logo foi alcançado quando Hayley Atwell abraçou a personagem na TV, equilibrando a luta de uma mulher na sociedade dos EUA no pós-Guerra, com a criação da SSR, agência que se transformaria na S.H.I.E.L.D. do Universo Marvel. A atriz aproveitou a produção esmerada e a mitologia de seu universo para criar uma das personagens mais poderosas da TV contemporânea.

11. Derek Flint
(James Coburn em Flint Contra o Gênio do Mal, 1966)

Criado como uma paródia de James Bond, o mestre espião Derek Flint, já aposentado, é reconvocado para a agência Z.O.W.I.E. (sério) para lidar com a ameaça da Galaxy, uma organização comandada por três cientistas loucos que planejam forçar os governos das superpotências a trabalhar para eles e abandonar seus programas nucleares (eram os anos 60, afinal). Coburn tem um charme canalha perfeito para seu anti-Bond, que voltou dois anos depois em Flint: Perigo Supremo. Em 2011, That Man Flint tentou reacender a chama nostálgica do personagem nos quadrinhos.

10. Jack Bauer
(Kiefer Sutherland em 24, 2001/2010, 2014)

Ás vezes basta uma boa ideia e um personagem incrível para criar uma série de sucesso. 24 é o melhor exemplo, com sua primeira temporada entregando o tipo de narrativa que só a TV é capaz de criar. Jack Bauer, na interpretação de Kiefer Sutherland, é o herói perfeito, principalmente por ser uma coleção de defeitos que destroem sua vida pessoal, ao mesmo tempo em que o tornam a pessoa ideal para missões de alto risco. Seu apelo foi diluído nas temporadas e filmes para a TV seguintes, mas a estreia do programa foi perfeita: como diretor da Unidade de Contra-terrorismo (CTU) em Los Angeles, Bauer precisa impedir em um dia o assassinato de um candidato à presidência americana, ao mesmo tempo em que corre para manter sua família longe da linha de fogo.

9. Harry Tasker
(Arnold Schwarzenegger em True Lies, 1994)

James Cameron, depois de mudar o cinema com O Exterminador do Futuro 2, pegou leve em uma comédia de ação que adapta o francês La Totale! com Schwarzenegger como um espião que leva uma vida dupla: sua família não faz ideia que ele desarma conspirações terroristas no café da manhã. Schwarza mostra senso de humor e traz química perfeita com Jamie Lee Curtis, a esposa que entra inadvertidamente na vida de aventuras do marido. True Lies é um filme visualmente acachapante, mas o melhor dele é trazer o astro dançando tango – e mandando bem! Uma continuação foi devidamente engavetada depois dos ataques do 11 de setembro.

8. Carrie Mathison
(Claire Danes em Homeland, 2011/presente)

Os melhores personagens são aqueles que trazem conflitos e imperfeições. Nesse quesito, a agente da CIA Carrie Mathison é o pacote completo. Designada para o Iraque, ela descobre que um prisioneiro de guerra americano pode ter desertado para a al-Qaeda, e sua investigação é dificultada por seu distúrbio bipolar e sua subsequente obsessão pelo soldado. Ao longo de cada temporada, Claire injetou humanidade e mais camadas à Carrie, construindo uma personagem fascinante que tem em sua humanidade seu maior escudo – e sua maior fraqueza.

7. Jack Ryan
(Alec Baldwin em A Caçada ao Outubro Vermelho, 1990)

Apesar de Harrison Ford ter interpretado Ryan em dois filmes (estou deixando Affleck e Pine de lado), foi Alec Baldwin quem melhor entendeu a natureza do analista da CIA. O motivo é simples: ele não era o protagonista do filme, papel que coube a Sean Connery, como comandante de um submarino russo que deserta para os Estados Unidos – mesmo que as duas potências não saibam de suas intenções, que podem despertar uma nova guerra. Ryan, na pele de Baldwin, não é mostrado como herói de ação, mas como protagonista cerebral, que entende a mente do comandante russo e se coloca na linha de fogo para evitar um conflito global.

6. Harry Palmer
(Michael Caine em Ipcress: Arquivo Confidencial, 1965)

Criado após o sucesso de 007 Contra o Satânico Dr. No, Harry Palmer surgiu primeiro nos livros de Len Deighton, depois nos filmes produzidos pelo mesmo Harry Saltzman dos primeiros James Bond. A ideia seria trilhar um caminho longe das gadgets e pirotecnias de 007, seguindo um estilo mais realista, perfeito para a caracterização de Michael Caine. Como Harry Palmer, o ator criou um espião de passado militar e nem sempre do lado correto da lei, resultando em um personagem mais amoral e violento, que Caine revisitou outras quatro vezes (Funeral em Berlim e O Cérebro de Um Bilhão de Dólares nos anos 60, Expresso Para Pequim e Meia-Noite em Moscou já nos anos 90).

5. Jason Bourne
(Matt Damon em O Ultimato Bourne, 2007)

Quando Matt Damon deu vida ao espião sem memória Jason Bourne em A Identidade Bourne, que Doug Liman dirigiu em 2002, ele estava também recriando a noção de filme de espionagem em Hollywood. A coisa engrenou de vez quando o comando da série passou para Paul Greengrass, lapidando o estilo do personagem em A Supremacia Bourne (2004) e, principalmente, em O Ultimato Bourne, que em teoria fechava o arco dramático do espião. Damon deu tudo de si, criando um anti-herói pragmático, que basicamente age por querer ser deixado em paz. Jason Bourne tentou, sem sucesso, reacender a série em 2016.

4. Ethan Hunt
(Tom Cruise em Missão: Impossível – Efeito Fallout, 2018)

Em 1996, Tom Cruise protagonizou o que seria sua primeira série para o cinema, uma aventura mais cerebral do que física dirigida por Brian De Palma. De lá para cá, o espião Ethan Hunt reuniu algumas equipes a serviço da IMF (invariavelmente contra o mundo), alcançando a perfeição no sexto filme, dirigido por Christopher McQuarrie. Se você correr, ainda dá tempo de assistir no cinema: é o melhor filme da carreira de Cruise.

3. George Smiley
(Gary Oldman em O Espião Que Sabia Demais, 2011)

Provavelmente o personagem mais fantástico criado por John le Carré, George Smiley é um oficial de carreira no Circo, coração do serviço de inteligência internacional britânico. Sua criação é resultado da insatisfação do autor com o retrato feito dos espiões na ficção, em especial James Bond. Smiley é, portanto, o mais próximo que a cultura pop chega da coisa real. Parte de nove romances do autor, o personagem foi para o cinema nos anos 60, protagonizou duas séries da BBC no fim dos anos 70 (com Alec Guiness no papel principal), além de séries de rádio e pontas em HQs. Mas o filme de Tomas Alfredson talvez seja sua versão mais visceral e completa, com Gary Oldman no centro de um complexo jogo de espiões que termina em violência e morte durante a caça de um agente duplo russo. O elenco é de cair o queixo (Colin Firth, Tom Hardy, Benedict Cumberbatch, John Hurt, Mark Strong), mas a cola que une todas as partes é Oldman, perfeito como um mestre espião de verdade.

2. Nick Fury
(Strange Tales e Nick Fury: Agent of S.H.I.E.L.D., por Jim Steranko)

Samuel L. Jackson criou a versão mais popular do espião supremo da Marvel, conectando as partes de seu Universo Cinematográfico de Homem de Ferro (2008) a Vingadores: Guerra Infinita (2018). É fácil arriscar que ele terá muita importância tanto em Capitã Marvel quanto no quarto Vingadores ano que vem. É um retrato incrível do personagem. Mas não é o melhor. A versão mais sensacional de Fury data do fim dos anos 60, quando a Marvel entregou o personagem para o roteirista e desenhista Jim Steranko. O resultado, previsto para surfar na onda de popularidade de James Bond, foi além, redefinindo o conceito da arte sequencial e do quadrinho de autor para a HQ moderna. O trabalho de Steranko mistura ação vertiginosa, conceitos de ficção científica e design inigualável, em uma sequência que mudou o modo de ver e fazer gibis para sempre.

1. James Bond
(Sean Connery em 007 Contra Goldfinger, 1964)

Eu escolhi a terceira aventura de Bond no cinema como a definitiva porque foi minha porta de entrada para o universo de 007. Nos anos seguintes, Roger Moore, Pierce Brosnan e, principalmente, Daniel Craig, redefiniram o agente secreto para várias gerações, em uma história que já vai além de cinco décadas. A influência de Bond na cultura pop é esmagadora, e provavelmente essa lista não existiria se Ian Fleming não tivesse soprado vida no espião nas páginas de Casino Royale, em 1953, e principalmente nas série de filmes que redefiniram múltiplas vezes o conceito do cinema de aventura moderno. Goldfinger é a matéria-prima suprema do personagem, com um vilão maior que a vida, bondgirls estonteantes – e, não raro, páreo para o espião -, locações deslumbrantes e uma conclusão bombástica. Risca isso: é a matéria-prima para todo o cinema de ação das últimas décadas, e o espelho no qual outros agentes secretos da cultura pop são medidos. Muitos são espetaculares. Nenhum deles é Bond.

Sobre o autor

Roberto Sadovski é jornalista e crítico de cinema. Por mais de uma década, comandou a revista sobre cinema "SET". Colaborou com a revista inglesa "Empire", além das nacionais "Playboy", "GQ", "Monet", "VIP", "BillBoard", "Lola" e "Contigo". Também dirigiu a redação da revista "Sexy" e escreveu o eBook "Cem Filmes Para Ver e Rever... Sempre".

Sobre o blog

Cinema, entretenimento, cultura pop e bom humor dão o tom deste blog, que traz lançamentos, entrevistas e notícias sob um ponto de vista muito particular.