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Faxina na DC: Henry Cavill só tem a ganhar ao deixar o Superman para trás

Roberto Sadovski

13/09/2018 17h57

Henry Cavill não é mais o Superman. Claro, o estúdio ainda precisa fazer uma declaração oficial além do "adoramos trabalhar com fulano". O ator, por sua vez, foi misterioso em seu único post em redes sociais, publicando um "Hoje foi empolgante" e um vídeo segurando um boneco do Homem de Aço. O bafafá nos bastidores revela a vontade do estúdio em ter Cavill em uma ponta em Shazam!, e que a coisa congelou por uma divergência salarial. Faz sentido. Depois de Missão: Impossível – Efeito Fallout o cachê do astro certamente disparou, e com ele tomando a frente da adaptação do game The Witcher para o Netflix, longe do drama envolvendo os filmes da DC, voltar a vestir o traje colorido do Homem de Aço pode custar alguns milhões de dólares a mais.

Toda essa movimentação, entretanto, esquiva-se do óbvio: o Universo Estendido DC morreu há meses, no momento em que a receita de Liga da Justiça contabilizou seus pálidos últimos centavos. O estúdio obviamente não vai a público escancarar seu fracasso, mas lentamente se distancia do desastre. Aquaman, que estreia em novembro, não tem referências aos outros filmes ou heróis da DC. Mulher-Maravilha 1984 mete um reboot esperto já no título, ignorando parte do arco da personagem em Batman vs Superman e em Liga da Justiça. Shazam! promete distância saudável de todo esse universo bolado por Zack Snyder, que é um sujeito bacana e um diretor talentoso, mas que definitivamente nunca entendeu o conceito do Batman ou do Superman. Com The Batman, de Matt Reeves, ainda no limbo do desenvolvimento (e provavelmente sem Ben Affleck), e com as filmagens de O Coringa com Joaquim Phoenix prestes a começar, fica óbvio que o plano do estúdio, a essa altura, já é outro. Nesse plano, não há mais espaço para o Superman de Henry Cavill.

Não é dessa vez que veremos essa cena no cinema…

Por outro lado, talvez a DC nunca tenha lhe dado espaço algum. O Homem de Aço, de 2013, foi o ponto de partida para os planos de criar um universo concorrendo com a Marvel no cinema. Mas o herói jamais foi retratado como o símbolo de esperança que ele mesmo sugere ao explicar o significado do "s" em seu peito a uma incrédula Lois Lane. Ele deixou seu pai morrer, executou um vilão e tornou-se um sujeito amargurado, quase arrependido em assumir seu papel como guardião do planeta. Por fim, foi morto de forma canhestra e apressada, e trazido de volta de maneira totalmente desrespeitosa. Em Liga da Justica, de todos os lugares, o público teve um ou outro vislumbre do herói que o Superman de Henry Cavill poderia ser. E nunca foi problema do ator, como vimos em seu papel arrasador em Efeito Fallout. Ele deu o seu melhor mesmo sem nunca ter um roteiro a altura. E tentou retratar o maior de todos os heróis com a dignidade que o papel pedia. Em uma sucessão absurda de erros, por fim, a DC conseguiu perder um de seus grandes ases na manga.

A paisagem atual parece o cinema de super-heróis dos anos 90, com vários personagens de segunda linha ganhando vulto, deixando os protagonistas para trás. O foco da DC é desenvolver Supergirl para o cinema. E não uma versão da bem sucedida série de TV com Melissa Benoist, mas um novo conceito começando do zero, mostrando a heroína em Krypton ainda adolescente, antes da explosão do planeta. O roteiro está sendo escrito por Oren Uziel (Anjos da Lei 2) e supostamente faria parte do mesmo universo de Esquadrão Suicida e Liga da Justiça. Com isso, Superman iria para o banco de reservas, esperando o momento certo para reaparecer depois que o estúdio deixar a fracassada experiência de seu Universo Estendido para trás – Michael B. Jordan foi um dos nomes ventilados para assumir o papel do Homem de Aço no futuro. No fim, quem sai ganhando é Henry Cavill, que se liberta de uma bagunça em forma de filmes e pode tocar sua carreira sem ter de se preocupar com um bigode apagado digitalmente. The Witcher é só o começo. E quanto tempo leva até a Marvel aparecer do outro lado da linha com uma oferta bacana?

Sobre o autor

Roberto Sadovski é jornalista e crítico de cinema. Por mais de uma década, comandou a revista sobre cinema "SET". Colaborou com a revista inglesa "Empire", além das nacionais "Playboy", "GQ", "Monet", "VIP", "BillBoard", "Lola" e "Contigo". Também dirigiu a redação da revista "Sexy" e escreveu o eBook "Cem Filmes Para Ver e Rever... Sempre".

Sobre o blog

Cinema, entretenimento, cultura pop e bom humor dão o tom deste blog, que traz lançamentos, entrevistas e notícias sob um ponto de vista muito particular.