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Com mais humor e visual colorido, trailer de Aquaman parece filme da Marvel

Roberto Sadovski

06/10/2018 04h36

Em um dos (muitos) acertos do novo trailer estendido de Aquaman, os realizadores da aventura finalmente acertaram seu traje clássico dos quadrinhos. Jason Momoa surge, ao fim de cinco minutos, com a gloriosa roupa/armadura laranja e verde, tão ridicularizada por gerações de fanboys, aqui apresentada quando o protagonista assume o papel duplo de rei e herói. Na reta final antes de seu lançamento em dezembro, o filme acelera em sua campanha promocional que busca, pelo que o novo preview revela, dois objetivos bem claros: distanciar Aquaman do malfadado Universo Estendido DC, sepultado depois do fracasso histórico de Liga da Justiça, e trazer um clima leve, colorido, bem humorado e empolgante, exatamente como a Marvel tem conduzido seus próprios lançamentos pela última década.

E já não era sem tempo. Não existe como não comparar a Marvel e a DC, as duas maiores editoras de quadrinhos de super-herói do planeta, que competem igualmente em outras mídias. Nos últimos dez anos, a casa do Batman e do Superman tem levado surra após surra dos donos do Homem-Aranha e Capitão América. Não por coincidência, a DC se viu morro abaixo exatamente nesse mesmo período, logo depois de Christopher Nolan encerrar sua trilogia O Cavaleiro das Trevas e reescrever as regras de como levar um personagem fantástico dos gibis para o cinema.  O triunfo de Nolan terminou por ser uma âncora incômoda para tudo que veio em seguida, já que o estilo sombrio e realista das aventuras do Batman interpretado por Christopher Nolan funciona única e exclusivamente com o Homem-Morcego. Ao tentar repetir a fórmula em um universo compartilhado, na tentativa de repetir o sucesso da concorrência, o estúdio meteu os pés pelas mãos.

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Não é coincidência que justamente o filme que se desviou mais desse estilo dark foi o mais bem sucedido do Universo Estendido DC: Mulher-Maravilha jogou para o escanteio a construção ensaiada por O Homem de Aço e, principalmente, por Batman vs. Superman, e resultou em uma aventura de época memorável, que devolveu a heroína ao lugar de destaque de onde ela jamais devia ter saido. O clímax do filme de Patty Jenkins, uma bagunça de explosões e histeria, foi o que mais aproximou a obra do resto do UEDC, e foi o que impediu que Mulher-Maravilha fosse uma verdadeira obra-prima. Em Hollywood, não é segredo que o balde de água fria chamado Liga da Justiça tirou um pouco do momento de Mulher-Maravilha, e talvez tenha sido o motivo pelo qual o filme foi ignorado na temporada de premiações do começo deste ano, em especial o Oscar, que sequer registrou o triunfo de Jenkens e da atriz Gal Gadot em categorias técnicas.

Assim, foi uma decisão estratégica esperta por parte do diretor James Wan e de sua equipe programar Aquaman para dezembro, deixando os cinemas um ano inteiro sem um filme da DC. Além de não bater de frente com a Marvel, que emplacou seus dois maiores sucessos justamente esse ano (Pantera Negra e Vingadores: Guerra Infinita), a aventura com Jason Momoa ganha distância saudável de todo o movimento para conectar os filmes da DC em um universo compartilhado e tem a chance de brilhar sozinho. O novo trailer confirma o que já era sabido: Aquaman não tem absolutamente nenhum elo com filmes da DC lançados anteriormente, ignora sem pudor a participação do herói em Liga da Justiça e entrega um "filme de origem" exatamente nos moldes que a concorrência se especializou em fazer. Arthur Curry (Momoa) se apresenta como herói relutante, levemente arrogante, que precisa abraçar seu destino para salvar seu povo e, como consequência, o mundo todo.

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Aquaman, por fim, parece uma mistura de Tony Stark com o rei T´Challa, em personalidade – e o filme não se furta em mimetizar essa estrutura narrativa. O uso de cores, que saltam na tela ao desenhar o reino fantástico e submerso da Atlântida, apresenta um espetáculo visual que não poderia ser mais distante das cores dessaturadas visualizadas nos filmes de Zack Snyder – e misturadas a serviço da confusão visual em Esquadrão Suicida. A estratégia de lançar um trailer de 5 minutos é esperta, já que toma seu tempo para apresentar aos fãs um mundo com a assinatura da DC diferente de tudo que foi mostrado antes. O longo ataque a Arthur e Mera (Amber Heard) pelas forças do Arraia Negra (Yahya Abdul-Mateen II) é um espetáculo de técnica e fluidez narrativa, mostrando o crescimento de James Wan como diretor, que opera em uma escala muito maior que Invocação do Mal ou até Velozes & Furiosos 7. E o senso de humor, principalmente quando parte de Jason Momoa, quebra a tensão, humaniza seu personagem e mostra que, afinal, o filme não é para ser levado tão a sério assim. Confesso estar incrédulo, mas agora Aquaman finalmente despertou meu interesse. Mesmo que, para isso, tenha ido buscar lições básicas no quintal do vizinho. Antes tarde….

Sobre o autor

Roberto Sadovski é jornalista e crítico de cinema. Por mais de uma década, comandou a revista sobre cinema "SET". Colaborou com a revista inglesa "Empire", além das nacionais "Playboy", "GQ", "Monet", "VIP", "BillBoard", "Lola" e "Contigo". Também dirigiu a redação da revista "Sexy" e escreveu o eBook "Cem Filmes Para Ver e Rever... Sempre".

Sobre o blog

Cinema, entretenimento, cultura pop e bom humor dão o tom deste blog, que traz lançamentos, entrevistas e notícias sob um ponto de vista muito particular.