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O novo O Rei Leão é várias coisas.... menos uma refilmagem live action

Roberto Sadovski

24/11/2018 01h26

A Disney arrebentou na escala de fofura ao divulgar o primeiro teaser de O Rei Leão, que tem direção de Jon Favreau e acerta em cheio na memória afetiva coletiva do planeta. As primeiras imagens são uma recriação da abertura da animação de 1994, com a apresentação do filhote Simba, herdeiro da coroa de seu pai, Mufasa, a uma coleção de súditos em uma planície. Não tem como não arrepiar com a narração de James Earl Jones (que empresta mais uma vez sua voz a Mufasa), e não tem como evitar a empolgação quando o tema do filme, "Circle of Life", explode em cena. Tudo é muito bonito. Tudo é muito emocionante. Absolutamente nada é real.

Por isso é frustrante perceber a repetição do termo "remake live action", ou seja, rodado em cenários naturais com pessoas (no caso, animais) de verdade. Nada em O Rei Leão versão 2018 é real: o que vemos no teaser é uma recriação absurdamente fotorrealista da savana africana e de seus habitantes, executada com a tecnologia cinematográfica mais avançada disponível. É uma evolução da caixa de brinquedos que o mesmo Favreau usou ao dirigir seu Mogli – O Menino Lobo. A diferença é que ali existia um elemento humano – o ator mirim Neel Sethi, hoje um adolescente de 15 anos – interagindo com um cenário virtual.

O elenco do novo O Rei Leão basicamente interpretou com sua voz. Eles não usaram os trajes de captura de movimento para dar vida a seus personagens – embora a tecnologia tenha sido uma das ferramentas à disposição do diretor. "Eu não considero que O Rei Leão seja uma animação", disse em junho o supervisor de efeitos visuais, Rob Legato. "Usamos diversas ferramentas de realidade virtual, então é possível enxergar uma locação realista ao entrar no set usando um headset VR." A ideia era fazer com que Favreau sentisse que estava dirigindo um filme, como se fosse live-action, com toda a tecnologia sendo um passo além do que ele usou em Mogli.

Definir "o que é" O Rei Leão, a essa altura, é uma bobagem. O filme traz o melhor formato para contar essa história para a platéia moderna, que busca essa mistura tão complicada de emoção e espetáculo. Claro que Jon Favreau entrou no jogo com os dois pés na porta, escalando um elenco irrepreensível (de Donald Glover a Seth Rogen a Beyoncé) para recontar um dos filmes mais festejados de todo o catálogo de animação Disney. Lançado em pleno renascimento dos desenhos animados do estúdio, ele foi seu último fenômeno pop irrepreensível até o recente Frozen. Ao ser transformado em musical na Broadway, a produção manteve suas canções no zeitgeist e garantiu maior longevidade que contemporâneos como Pocahontas, Hércules ou Tarzan.

Eu já escrevi sobre como as versões em live action de seu catálogo de clássicos viraram prioridade na Disney desde que Alice no País das Maravilhas, de Tim Burton, bateu em 1 bilhão de dólares nas bilheterias mundiais em 2010. Malévola, Cinderela, Mogli e A Bela e a Fera (outro que entrou no clube do bilhão) provaram que nostalgia não só vende, como existe poder criativo real por trás de uma releitura. Obviamente não parece que a máquina vai desacelerar tão cedo. E não há a menor dúvida que Dumbo (também de Tim Burton, estreando em março) e Aladdin (de Guy Ritchie, este chegando aos cinemas em maio) são fortes candidatos a faturar mais de dez dígitos ano que vem. Mas é difícil, muito difícil, que qualquer candidato a blockbuster de 2019 tenha o mesmo impacto emocional que O Rei Leão. Duvida? Então imagine toda a sequência que acaba nessa imagem aí embaixo na versão de Jon Favreau…

Sobre o autor

Roberto Sadovski é jornalista e crítico de cinema. Por mais de uma década, comandou a revista sobre cinema "SET". Colaborou com a revista inglesa "Empire", além das nacionais "Playboy", "GQ", "Monet", "VIP", "BillBoard", "Lola" e "Contigo". Também dirigiu a redação da revista "Sexy" e escreveu o eBook "Cem Filmes Para Ver e Rever... Sempre".

Sobre o blog

Cinema, entretenimento, cultura pop e bom humor dão o tom deste blog, que traz lançamentos, entrevistas e notícias sob um ponto de vista muito particular.