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Danilo Gentili mergulha no trash dos anos 80 com Exterminadores do Além

Roberto Sadovski

29/11/2018 04h29

Não é errado afirmar que Danilo Gentili e o diretor Fabrício Bittar tiveram uma infância/adolescência feliz. Se Exterminadores do Além contra a Loira do Banheiro oferece alguma evidência, é que a dupla foi criada em uma dieta caprichada do melhor do cinema trash dos anos 80, de A Morte do Demônio de Sam Raimi à Fome Animal de Peter Jackson. Em seu segundo filme, seguindo o irregular Como se Tornar o Pior Aluno da Escola (gente, vamos bolar uns títulos mais curtinhos?), a dupla deixa a comédia ligeira de lado e abraça o gore escatológico, o banho de sangue nonsense, em um perfeito exemplar do que o diretor Ivan Cardoso batizou de "terrir" nos anos 80 – como não podia deixar de ser.

A premissa é simples. Jackson (Gentili), Carolina (Dani Calabresa), Fred (Léo Lins) e Túlio (Murilo Couto) são quatro picaretas que tentam bombar um canal no youtube em que eles caçam assombrações. Na verdade, é tudo armado pelo quarteto, que estão preocupados mais com audiência e menos em ajudar quem precisa. Eles pensam ter tirado a sorte grande quando são chamados pelo diretor de uma escola (Sikêra Jr.) para dar cabo da notória Loira do Banheiro, que aparentemente tem atacados os alunos. Ninguém acredita na veracidade da coisa, e o time é chamado mais como uma desculpa para pais e estudantes surtados. Mas as coisas mudam quando a Loira (Pietra Quintela, em maquiagem bacana) se mostra muito real e encontra um caminho para nosso mundo. Em uma noite, os Exterminadores precisam encarar a ameaça e despachar a aparição.

Murilo Couto, Danilo Gentili, Leo Lins e Dani Calabresa caçam… fantasmas

Tudo, claro, é desculpa para uma hora e meia do cinemão trash mais sangrento que Bittar e cia. puderam bolar. A primeira metade do filme, por sinal, se dá muito bem em armar a trama e dar um mínimo de personalidade a seus jogadores – mesmo que eles sejam versões em carne e osso de estereótipos do gênero. Mas a ideia aqui não é reinventar a roda, e sim abraçar os clichês em piadas que com certeza vão ofender os de estômago mais fraco – sejamos honestos, ninguém de estômago fraco vai encarar uma comédia de terror mega trash com Danilo Gentili como protagonista. O humorista entende exatamente quem é seu público, e não tem o menor pudor em pisar fundo no acelerador nas cenas mais absurdas, que incluem um feto possuído, um cocô (eca) assombrado e uma cena de sexo com ecos de O Exorcista. Só coisa fina.

O trem só ameaça descarrilar no terceiro ato. É quando o mistério começa a ser resolvido e as intervenções da Loira do Banheiro abandonam o sobrenatural escatológico para se concentrar em combates físicos bastante confusos. O texto também parece voar pela janela, com diálogos soando mais como improviso do que como um roteiro bem trabalhado. Não é problema quando a bola está com Gentili, Lins e Couto, veteranos do stand up. Mas o filme sofre quando esse caos termina nas mãos do elenco menos calejado. Ainda assim, a turma compensa com um final inspirado, que aponta não só um novo rumo para o gênero no Brasil – e olha que décadas separam o filme de As Sete Vampiras, por exemplo -, como o começo de uma série que pode abrasileirar de vez o cinemão trash. Fica a pergunta: depois de Como Se Tornar o Pior Aluno da Escola, e desse Exterminadores do Além contra a Loira do Banheiro, qual será a próxima maneira que Danilo Gentili vai arrumar para fazer as pazes com seus tempos de estudante?

Sobre o autor

Roberto Sadovski é jornalista e crítico de cinema. Por mais de uma década, comandou a revista sobre cinema "SET". Colaborou com a revista inglesa "Empire", além das nacionais "Playboy", "GQ", "Monet", "VIP", "BillBoard", "Lola" e "Contigo". Também dirigiu a redação da revista "Sexy" e escreveu o eBook "Cem Filmes Para Ver e Rever... Sempre".

Sobre o blog

Cinema, entretenimento, cultura pop e bom humor dão o tom deste blog, que traz lançamentos, entrevistas e notícias sob um ponto de vista muito particular.