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Os 10 melhores filmes de 2018

Roberto Sadovski

14/01/2019 03h10

Que ano, senhoras e senhores. Que ano! Se às vezes a comédia e o drama do lado de cá da tela teimavam tomar a dianteira como a ficção mais assustadora de 2018, o cinema cumpriu incessantemente seu papel em lembrar que a arte ainda é o melhor refúgio – e a melhor arma – contra as trevas. Afinal, essa diversão torta da vida real tem data de validade, e é certo que seus protagonistas preparam um futuro na obsolescência. O cinema, assim como toda expressão artística, é eterno, e continuará inspirando, refletindo, emocionando e entretendo. Para sempre.

E 2018 foi um senhor ano! Foi a culminação de uma década do universo cinematográfico mais ambicioso do entretenimento moderno. Foi a volta do cinema como fenômeno social e cultural. Foi a vitória da diversidade, não importa o quanto os ignorantes insistam em manter seu status quo. Foi um ano de triunfo para o terror moderno – e também para o terror clássico. E foi, em especial, o momento em que o streaming tomou seu lugar de fato, para o bem e para o mal, como concorrente da experiência coletiva em uma sala de cinema.

E eu assisti a uma tonelada de filmes, muitos excelentes, que ficaram de fora do proverbial Top 10. Como o reboot esperto de Halloween, que honrou o original e abriu um novo caminho. Ou Um Lugar Silencioso, original e assustador, revelando um diretor inesperado e talentoso em John Krasinski. Joaquin Phoenix dando sua versão para o "vigilante solitário" no violento Você Nunca Esteve Realmente Aqui. A Netflix finalmente criando filmes de verdade com a ficção científica Aniquilação e o espetacular (que quase entrou no listão) The Ballad of Buster Scruggs. E o espetáculo sensorial que foi Vingadores: Guerra Infinita.

E é isso. Agora, vamos a eles, os dez melhores filmes que eu conferi em 2018. Ano que vem, claro, tem mais!

10. SE A RUA BEALE FALASSE
(If Beale Street Could Talk, Barry Jenkins)

KiKi Layne as Tish and Stephan James as Fonny star in Barry Jenkins' IF BEALE STREET COULD TALK, an Annapurna Pictures release.

Não dei a menor bola para Moonlight quando ele chegou aos cinemas, mesmo depois de arrancar o Oscar de melhor filme de La La Land. Ainda assim, havia algo por trás da mão pesada de Barry Jenkins ao traçar a história de um jovem, negro e gay, descobrindo seu lugar no mundo em três momentos de sua vida. Em Se a Rua Beale Falasse, Jenkins suaviza sua condução, mas não tira o dedo da ferida do cinema racial inflamado. A adaptação do livro de James Baldwin, publicado em 1974, traduz em beleza e fluidez narrativa uma história de amor ambientada no Harlem dos anos 70, em que o laço que une Fonny (Stephan James) e Tish (a estreante Kiki Layne) precisa enfrentar primeiro o drama familiar que acompanha uma gravidez adolescente, mas também uma acusação que coloca o jovem atrás das grades, um sonho emperrado pelo peso do racismo. Se a Rua Beale Falasse é muito bonito e muito atual. O que o deixa ainda mais triste. Ah, e qualquer filme com o monumento que é Regina King merece aplausos de pé!

9. MANDY
(Panos Cosmatos)

Nicolas Cage, nunca duvidei. Se existe um ator que adora trabalhar, é ele, com meia dúzia de novos filmes por ano. Muita coisa indigna de seu talento, claro. Mas não Mandy. Aqui, o diretor Panos Cosmatos cria um filme violento, psicodélico, pop e absurdamente estranho – ambiente em que Cage obviamente se sente em casa. E o astro não decepciona. Ele conduz essa história de vingança sem desacelerar em todos os exageros que alimentam sua fama, mas também injeta uma dose inesperada de ternura e emoção genuína. Não poderia ser diferente, já que seu personagem parte em uma jornada de vingança contra um culto religioso que tomou sua mulher, um caminho que descamba para a ultraviolência gore, montada em um cenário que parece retirado de uma alucinação de mescalina. Nicolas Cage, nunca duvidei.

8. MISSÃO: IMPOSSÍVEL – EFEITO FALLOUT
(Mission: Impossible: Fallout, Christopher McQuarrie)

Quem diria que a sexta aventura de Tom Cruise como o espião Ethan Hunt seria sua melhor até então! Fluindo como uma flecha, e conduzida com paixão explosiva por Christopher McQuarrie, Fallout é um triunfo total, como eu escrevi aqui.

7. O PRIMEIRO HOMEM
(First Man, Damien Chazelle)

Esse é um filme que merecia ser mais visto e mais celebrado no ano que terminou. Então, faça um favor a si mesmo e corra para conferir o trabalho extraordinário de Damien Chazelle ao biografar Neil Armstrong e a chegada do homem à Lua. Mas O Primeiro Homem é muito, muito mais do que a jornada de um homem: é como ele carregou o planeta em um sonho, sem nunca sentir a mesma emoção. Eu falei bastante sobre esse filmaço aqui.

6. HEREDITÁRIO
(Hereditary, Ari Aster)

Quando o cinema de terror ameaça ancorar-se na mesmice temática, escorado em sucessos muitas vezes breves, é bom testemunhar a chegada de um novo talento como Ari Aster, capaz de devolver a sensação sufocante de pânico aos cinemas. Hereditário é uma experiência para bagunçar os sentidos, como eu falei um pouco mais aqui.

5. PANTERA NEGRA
(Black Panther, Ryan Coogler)

Um filme como um evento. A evolução de um universo cinematográfico. A celebração da diversidade. O entretenimento como reflexo político e social do mundo. Um triunfo! Wakanda forever!

4. INFILTRADO NA KLAN
(BlacKkKlansman, Spike Lee)

Spike Lee podia ter pesado muito na adaptação da biografia de Ron Stallworth, que nos anos 70 tornou-se o único policial negro a ser aceito na Ku Klux Klan, organização racista americana que prega uma supremacia racial que só existe em seus delírios. Podia, mas optou por outro caminho. Com John David Washington no papel de Stallworth, ao lado de um Adam Driver perfeito como seu parceiro, Flip Zimmerman, Lee criou uma verdadeira tragicomédia, que provavelmente é a melhor maneira de retratar patetas como a KKK, ludibriados por um policial esperto. Mas o diretor não perde sua verve social, e aos poucos usa a história real para comentar a história contemporânea, um "agora" em que a ferida do racismo ameaça escancarar quando os EUA (e, bom, outras partes do mundo) estão nas mãos de ignorantes extremistas travistidos de salvadores. O final é uma paulada, mas deixa claro o recado: a luta precisa, mais do que nunca, ser constante. Porque teimamos em não aprender com a história.

3. ROMA
(Alfonso Cuarón)

Alfonso Cuarón realizou o que pode ser descrito como o primeiro filme de verdade da Netflix. O primeiro que poderia ser exibido no cinema sem o ranço de "ah, foi feito para a TV" – e de fato foi! Cuarón, que tem arrebatado todos os prêmios de direção da temporada, tem toda razão quando diz que a Netfilx ajudou que seu filme, um drama em preto e branco, sem atores conhecidos, sem uma narrativa tradicional e não falado em inglês, encontrasse uma plateia global. Esqueça bobagens como Bird Box ou Bright: se o gigante de streaming quer de fato caminhar ombro a ombro com cinema com "C" maiúsculo, o caminho é deixar com que autores de verdade como Alfonso Cuarón criem sua arte. Se o resultado forem filme tão fabulosos, melancólicos, emocionais e tecnicamente perfeitos como Roma, o público agradece. Eu falei um pouco mais sobre Roma e seu impacto no cinema aqui.

2. A FAVORITA
(The Favourite, Yorgos Lanthimos)

A Favorita pode ser um drama de época – e eu uso a palavra "drama" sem absolutamente nenhuma conotação de gênero –, mas é também o trabalho mais contemporâneo e arrasador do diretor Yorgos Lanthimos. Se em O Lagosta e O Sacrifício do Cervo Sagrado ele já mostrou criatividade e personalidade como poucos realizadores, aqui ele injeta um senso de humor ácido, traduzido em um roteiro tão hilariante quanto devastador. O cenário é a corte da rainha Anne (Olivia Colman, dona do filme de ponta a ponta), regente do Reino Unido no começo do século 18. Imatura e insegura, ela tem na duquesa Sarah Churchill (Rachel Weisz) uma confidente travestida de melhor amiga – e alguém disposta a, digamos, administrar a coisa toda. A chegada de Abgail Masham (Emma Stone), dama cuja família há muito caiu em desgraça, desestabiliza o equilíbrio da corte com a disputa pela afeição da rainha. A Favorita é uma farsa brilhante, que dramatiza os bastidores do poder ao mostrar que a recompensa pela servitude não pode ser outra a não ser a lenta decadência.

1. HOMEM-ARANHA NO ARANHAVERSO
(Spider-Man Into the Spider-Verse, Bob Persichetti, Peter Ramsey e Rodney Rothman)

O melhor dos super-heróis em seu melhor filme, uma aventura que transcende gêneros e mostra exatamente por que o cinema foi inventado. Aranhaverso é divertido, emocionante, dinâmico e inventivo. Seu roteiro é uma engrenagem pop perfeita, que surpreende a cada nova cena, a cada novo personagem. Um triunfo total, o tipo de filme que pode ser experimentado sem precisar de bula por todo mundo que gosta de cinema. O melhor do ano, em um ano de superlativos! Eu escrevi sobre Homem-Aranha no Aranhaverso aqui, praticamente anteontem! Está em cartaz – corra ao cinema!

E já que você chegou até aqui, dá uma espiada nos melhores de 2017, 2016, 2015, 2014 e 2013, além dos melhores de 2007, aqui e aqui.

Sobre o autor

Roberto Sadovski é jornalista e crítico de cinema. Por mais de uma década, comandou a revista sobre cinema "SET". Colaborou com a revista inglesa "Empire", além das nacionais "Playboy", "GQ", "Monet", "VIP", "BillBoard", "Lola" e "Contigo". Também dirigiu a redação da revista "Sexy" e escreveu o eBook "Cem Filmes Para Ver e Rever... Sempre".

Sobre o blog

Cinema, entretenimento, cultura pop e bom humor dão o tom deste blog, que traz lançamentos, entrevistas e notícias sob um ponto de vista muito particular.