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Como A Ascensão Skywalker encerra uma era e aponta o futuro de Star Wars

Roberto Sadovski

27/08/2019 02h52

Rey no Lado Negro da Força. Batalhas épicas. Despedidas emocionantes. A volta do Imperador Palpatine! O diretor J.J. Abrams colocou tudo e a pia da cozinha em seu Star Wars: A Ascensão Skywalker, que encerra a saga mais festejada do cinema. Ou, pelo menos, parte dela. O promo exibido na última edição da D23, convenção de fãs da Disney para festejar a si própria, é parte nostalgia, parte surpresas. É uma lembrança de tudo que fez o planeta transformar um filme modesto lançado em 1977 em fenômeno pop global, uma passagem supersônica nos elementos que construíram seu universo. Um fragmento que sugere como este pedaço de Star Wars está chegando ao fim. Ao mesmo tempo que é um respiro para a saga decolar mais uma vez, em outros formatos, em direção ao futuro. Como não poderia deixar de ser, porém, é também motivo para alguns fãs começarem a reclamar.

Afinal, precisamos ser honestos. Uma parcela significativa, mais velha e mais "tradicional" de Star Wars detesta tudo relacionado ao universo que tenha sido lançado pós-1983. Não importa a lógica de que uma boa história é aquela que surpreende: o que essa turma quer é um revival eterno de Luke, Han e Leia, um loop infinito em que os protagonistas da trilogia original continuam a ser o foco da história. O primeiro "pecado" foi a nova trilogia, dirigida no começo do século pelo próprio George Lucas. Mas A Ameaça Fantasma, Ataque dos Clones e A Vingança dos Sith não foram concebidos exatamente para agradar a uma horda de entusiastas, e sim para que Lucas contasse o seu dramalhão operístico em torno da ascensão, queda e redenção de Anakin Skywalker, maior esperança do universo, o "escolhido" capaz de trazer equilíbrio à Força, mas que tornou-se o vilão mais festejado da história ao se deixar seduzir pelo "Lado Negro" dessa energia vital como o poderoso Darth Vader. Seis filmes, história redondinha, ponto final.

Será que Rey sucumbiu ao Lado Negro da Força?

Isso é, até a Disney investir um punhado de bilhões para comprar a LucasFilm e toda propriedade intelectual de George Lucas. A saga continuaria, e O Despertar da Força, dirigido por J.J. Abrams, não decepcionou, trazendo de volta Han Solo e Leia Organa, apresentando novos personagens (uma nova trinca, Rey, Finn e Poe) e transformando o recomeço em uma montanha russa cinematográfica, igualmente emocionante, implausível, cafona e espetacular. Os fãs, aqueles mais espumantes, apontaram um trilhão de defeitos – o maior deles sendo um filme diferente do que havia em sua cabeça. Essa pegada continuou quando Rian Johnson assumiu as rédeas em Os Últimos Jedi, que virou ao avesso as convenções do que seria "Star Wars", recuperou o herói Luke Skywalker e o humanizou, trazendo um guerreiro derrotado, carregado em culpa, hesitante em treinar a jovem Rey nos caminhos da Força e ver, mais uma vez, uma alma pura ser corrompida pelo Lado Negro. O clímax do filme, com Luke projetando um reflexo seu galáxias de distância, é um dos grandes momentos do cinema pop moderno.

A Ascensão Skywalker tem a tarefa de amarrar toda essa narrativa, com J.J. Abrams de volta ao leme e um caminhão de surpresas, levemente sugeridas no novo teaser. A maior delas é Rey empunhando um sabre de luz duplo, vermelho, indicação que ela pode ter escorregado para o abismo. Foi o que bastou para aqueles fãs (isso, os que acreditam ser mais proprietários da saga que os cineastas atrás das câmeras) decretarem o fracasso artístico de um filme que ninguém sequer sabe o argumento. O poder da internet é assustador, e só imagino a dor de cabeça que Lucas e cia. teriam em 1980, quando revelaram o parentesco entre Luke e Vader ("Um absurdo, como pode o vilão ser pai do herói!!!"), e mais ainda em 1983, quando Luke e Leia descobriram ser irmãos gêmeos ("É o fim da picada, Lucas não tem nenhum respeito pela mitologia de Star Wars!!!"). O que é curioso, porque volta ao princípio de qualquer boa história: surpreender. Os novos protagonistas não possuem, por motivos até nostálgicos, o carisma do trio original (liderado pelo trator Harrison Ford), mas é injusto cravar que sua história não experimentou uma evolução narrativa coesa, que aponta para um final inusitado. Eu mesmo quero saber como J.J. vai colocar o Imperador Palpatine na mistura sem entornar o caldo!

O fim da saga da família Skywalker, claro, não é o fim de Star Wars. Na própria D23 alguns novos rumos já foram escancarados. O primeiro é The Mandalorian, série em streaming para a plataforma Disney+, que traz um western na galáxia muito, muito distante, protagonizado por um mercenário com as mesmas origens do favorito dos fãs Bobba Fett (que, convenhamos, nunca fez muitas coisas nos filmes). Com direção de Jon Favreau, a série é ambientada cronologicamente depois de O Retorno de Jedi e lida com um universo caótico logo após da queda do Império. Outro anúncio que esquentou os ânimos foi a série centrada no cavaleiro Jedi Obi-Wan Kenobi, mais uma vez interpretado por Ewan McGregor. Todos os episódios, já escritos e prontos para ser rodados ano que vem, mostram Kenobi em seu exílio em Tatooine, após os acontecimentos trágicos de A Vingança dos Sith, mesma linha cronológica do pouco visto Han Solo – Uma História Star Wars. Curiosamente, McGregor foi recebido com aplausos entusiasmados e uma devoção fervorosa por parte dos fãs…. Mas sua versão de Obi-Wan não é justamente a da nova trilogia, que os fãs (é, aqueles mesmo…) tanto desprezam? Essa turma decididamente é muito estranha…

Sobre o autor

Roberto Sadovski é jornalista e crítico de cinema. Por mais de uma década, comandou a revista sobre cinema "SET". Colaborou com a revista inglesa "Empire", além das nacionais "Playboy", "GQ", "Monet", "VIP", "BillBoard", "Lola" e "Contigo". Também dirigiu a redação da revista "Sexy" e escreveu o eBook "Cem Filmes Para Ver e Rever... Sempre".

Sobre o blog

Cinema, entretenimento, cultura pop e bom humor dão o tom deste blog, que traz lançamentos, entrevistas e notícias sob um ponto de vista muito particular.