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Batman Day: Como aproveitar ao máximo o dia internacional do Homem-Morcego

Roberto Sadovski

21/09/2019 05h53

O Batman Day não é um feriado. Sequer cai na mesma data todos os anos. Mas foi o modo de a DC Comics, que edita dos gibis do Cavaleiro das Trevas nos Estados Unidos, encontrou para comemorar os 75 anos do herói em 2014. Como quase tudo na cultura pop/geek/nerd, a data pegou, e hoje diversas cidades pelo mundo acenderam o bat-sinal para celebrar o herói criado por Bob Kane e Bill Finger. Nada mais justo. É inegável que o Batman é um dos personagens de ficção mais conhecidos em todo o mundo, o que faz com que cada fã tenha sua versão favorita. E versões não faltam! Desde sua criação, o Homem-Morcego já foi para o espaço, combateu alienígenas, protagonizou uma série cômica na TV dos anos 60, foi reinventado como um vigilante noturno na década seguinte, e tornou-se um dos grandes íconos dos quadrinhos em todo o planeta quando Tim Burton o levou para o cinema em 1989.

Mesmo hoje, o Batman continua sendo aperfeiçoado, reimaginado e consumido maciçamente em dúzias de mídias e diferentes versões. O Cavaleiro das Trevas retratado nos quadrinhos não é exatamente o mesmo mostrado nos videogames, como no mais recente, Arkham Knight. Suas versões no cinema são radicalmente distintas, do herói atormentado interpretado por Michael Keaton ao playboy em busca de redenção abraçado por Christian Bale, chegando ao vigilante violento nas mãos de Ben Affleck – e não resta dúvidas que a versão de Robert Pattinson será mais uma vez estranhamente familiar e radicalmente diferente. Das animações mais infantis (como a versão Lego e os encontros com a turma do Scooby-Doo) ao desenho já clássico dos anos 90, é bacana ver seu universo adaptado para todos os públicos, todas as idades, todos os fãs. Com um oceano de coisas bacanas para fazer neste Batman Day, espremi as ideias e separei cinco! Mas não se apegue a elas: busque sua versão favorita e mergulhe você também!

1. Antes de mais nada, HQs!

São 80 anos de histórias, oito décadas dos mais diversos criadores emprestando seu talento para tecer a trajetória do Cavaleiro das Trevas. Sei que muita gente já é iniciada, mas é sempre bom começar a leitura com três histórias básicas, disponíveis nas livrarias e lojas especializadas (como a Comix). São elas Batman: Ano Um (Frank Miller e David Mazzuccheli), Batman: O Cavaleiro das Trevas (Frank Miller) e Asilo Arkham (Grant Morrisson e Dave McKean). Emende com A Piada Mortal (Alan Moore e Brian Bolland) pra dar mais peso. Depois dá para variar, como as divertidas graphic novels da série Batman '66 (que trazem histórias dentro do universo da série de TV com Adam West) e a pequena obra prima Batman: Louco Amor (Paul Dini e Bruce Timm), que conta a origem da vilã Arlequina no traço da série animada dos anos 90. O Messias (Jim Starlin e Bernie Wrightson) é uma história absurdamente violenta sobre um culto que domina Gotham, e O Filho do Demônio (Mike W. Barr e Jerry Bingham) traz a complicada relação do Homem-Morcego com o vilão Ra´s Al Ghul e sua filha, Talia. Para completar, arrisque O Longo Dia das Bruxas (Jeph Loeb e Tim Sale) e a surpreendente e autobiográfica Noite de Trevas: Uma História Real do Batman (Paul Dini e Eduardo Risso).

2. Agora já pode maratonar no sofazão…

O Homem-Morcego já foi retratado diversas vezes no cinema, às vezes de forma brilhante, outras absurdamente patética. Embora os filmes de Tim Burton sejam experiências sensacionais (Batman – O Retorno, de 1992, ainda é o melhor retrato do herói no cinema), talvez a melhor imersão em seu mundo seja a trilogia criada por Christopher Nolan (Batman Begins, de 2005; Batman – O Cavaleiro das Trevas, de 2008; Batman – O Cavaleiro das Trevas Ressurge, de 2012). É a maior prova de que é possível reinventar o personagem do zero, usando fragmentos de sua trajetória nos quadrinhos para tecer uma história original que funciona sem que o público precise de uma enciclopédia para acompanhar a trama. O primeiro filme reinventou o Homem-Morcego ao lhe dar uma origem e um ponto de partida sólidos, mas foi a segunda incursão de Nolan no comando de suas aventuras que o conceito foi além. O Cavaleiro das Trevas não bebeu dos quadrinhos, e sim de thrillers policiais como Fogo Contra Fogo de Michael Mann, além de trazer em Heath Ledger um Coringa icônico, um antagonista menos preocupado com dinheiro e poder e mais focado em embaralhar os conceitos de bem e mal da população de Gotham. O terceiro filme, apesar do começo promissor, escorrega no segundo ato e desemboca em um clímax bobão e apressado. Mas não atrapalhou o trabalho de Christian Bale em construir um dos retratos mais memoráveis do Batman no cinema.

3. Assistiu e leu Batman? Então é a hora de SER o Batman!

Desde os anos 80 o Cavaleiro das Trevas é protagonista de uma infinidade de jogos em uma infinidade de plataformas. Os resultados variam do brilhante (Batman: The Game, que adaptou o filme de Tim Burton em 1989 para o NES de 8 bits) ao absolutamente medíocre (a versão para games do filme Batman Forever tem jogabilidade impossível). Foi só em 2009 que Batman: Arkham Asylum (PS3, Xbox, entre outras plataformas) elevou um jogo com o Homem-Morcego à categoria de obra de arte. E o projeto foi além, criando um novo universo para o herói, recriando seu elenco de aliados e inimigos e transformando Gotham City em uma cidade assustadora como um trem fantasma decadente. O game teve duas continuações (a superior Arkham City e a inferior Arkham Origins) para atingir a perfeição em 2015 com Arkham Knight, o primeiro criado para consoles mais poderosos, o PS4 e o Xbox One. E é um absurdo, com a cidade inteira servindo de tabuleiro para uma trama em que o Espantalho toma Gotham, que tem seus moradores evacuados de suas fronteiras, tornando-se receptáculo para os piores criminosos e terroristas imagináveis. Com a polícia em menor número, cabe a Batman retomar a cidade, conquistar seus demônios interiores (ele tem nome: Coringa) e emergir triunfante. É um jogo brilhante, complexo e em constante evolução – regularmente seu desenvolvedor libera novas fases e personagens que poder ser carregados online. O mundo já clama por um novo capítulo!

4. Ok, é hora de sair de casa e ver o Batman como obra de arte!

Dez, vinte anos atrás seria difícil acreditar que a cultura pop atingisse o mainstream de forma tão contundente. Mas agora nada é mais popular que super-heróis, e nenhum deles é tão festejado como o Batman. Em São Paulo duas exposições atualmente entregam ao público experiências totalmente diferentes e absolutamente satisfatórias para entender o fascínio exercido pelo Homem-Morcego. No Memorial da América Latina segue a surpreendente Batman 80 – A Exposição, em que os visitantes passam por ambientes imersivos e interativos como a Mansão Wayne, a Bat-Caverna e o Asilo Arkham, que além do deleite visual trazem um passeio pela história do herói com peças que vão de quadrinhos raríssimos a colecionáveis de cair o queixo – cortesia do curador Ivan Freitas e do bat-colecionador Marcio Escoteiro. É uma experiência fantástica feita por fãs raiz, para todo mundo interessado em saber mais sobre o personagem.

Na Oca do Parque Ibirapuera, por outro lado, imersão e interatividade dão lugar a arte e inspiração na espetacular The Art of the Brick: DC Super Heroes, em que o artista plástico Nathan Sawaya recria o Cavaleiro das Trevas, seus companheiros da Liga da Justiça e alguns dos vilões mais ameaçadores dos quadrinhos usando peças de LEGO. Não existe uma sala em toda extensão da Oca que não tenha uma peça surpreendente, uma nova visão artística para personagens tão icônicos. Eu conversei com Sawaya, que é advogado de formação, sobre seu trabalho e sua inspiração. "Lembro de vibrar com o desenho animado dos Superamigos, e de encontrar inspiração na história dos super-heróis para expressão minha criatividade", explica. "Acredito que todo mundo pode ser tão heroico como os personagens, e usar peças de LEGO, que era meu brinquedo favorito quando criança, me pareceu a maneira lógica de transmitir o que estes personagens um dia passaram para mim."

The Art of the Brick, portanto, não é sobre estátuas feitas com LEGO, e sim peças de significado além do que o olhar alcança. Não só com as estátuas de diversos heróis que abrem a exposição, passando por salas que recriam ícones como Superman, Mulher-Maravilha e Lanterna Verde seguindo a visão peculiar de Sawya, até momentos divertidos em que ele reinterpreta os personagens de forma inusitada e a reprodução de capas históricas de histórias em quadrinhos clássicas. É um deleite visual, por vezes lúdicos (como Aquaman numa banheira), outras de beleza de tirar o fôlego (nunca vi algo tão espetacular como a versão para o avião invisível da princesa amazona). É um mundo que lamentamos quando chega ao fim, culminando com a representação dos símbolos do Batman. O bat-sinal é imponente, assim como a representação mais sombria do Cavaleiro das Trevas, culminando com um batmóvel em escala natural, pronto para arrebentar as paredes e ganhar o mundo. Aqui, ao menos, o que ele estimula é a imaginação.

Sobre o autor

Roberto Sadovski é jornalista e crítico de cinema. Por mais de uma década, comandou a revista sobre cinema "SET". Colaborou com a revista inglesa "Empire", além das nacionais "Playboy", "GQ", "Monet", "VIP", "BillBoard", "Lola" e "Contigo". Também dirigiu a redação da revista "Sexy" e escreveu o eBook "Cem Filmes Para Ver e Rever... Sempre".

Sobre o blog

Cinema, entretenimento, cultura pop e bom humor dão o tom deste blog, que traz lançamentos, entrevistas e notícias sob um ponto de vista muito particular.