Topo

Criador de Jogos Mortais reinventa o terror O Homem Invisível; veja trailer

Roberto Sadovski

07/11/2019 13h19

"Quando a Universal me falou sobre O Homem Invisível, a ideia era que ele fosse o mocinho da história", lembra Leigh Whannell sobre sua primeira conversa com o estúdio para recriar um de seus personagens clássicos. "Mas eu tinha, claro, de buscar uma forma de fazê-lo assustador." O diretor conta que olhou para os executivos na sala de reunião e imediatamente deu a real: "Bom, está bem claro que ele não é o mocinho da história, e sim o vilão!". Whannell está na Austrália, finalizando a pós-produção de seu O Homem Invisível, e solta uma gargalhada do outro lado do telefone. "Eu tinha acabado de dirigir (a ficção científica) Upgrade para a BlumHouse e o projeto surgiu na conversa", continua. "A Universal tem estes monstros clássicos em seu acervo, como Drácula e Frankenstein, e estavam tentando descobrir exatamente o que fazer com eles." E foi aí que ele entrou na história.

Neste ponto vale voltar ligeiramente no tempo. Com o sucesso da Marvel e seu universo compartilhado, todo estúdio foi atrás de uma maneira de conectar seus personagens. A Universal já tinha o mapa da mina em mãos, com seus monstros clássicos que se tornaram a cara do estúdio. Foi assim que surgiu o Dark Universe, projeto que pretendia reinventar personagens conhecidos do público há décadas, reconfigurados como heróis em um mesmo universo. O ensaio foi Drácula: A História Nunca Contada, de 2014, que mostrava o Príncipe das Trevas como um anti-herói trágico. Mas o pontapé da coisa toda seria A Múmia, com Tom Cruise à frente de uma série de filmes já no gatilho, como A Noiva de Frankenstein (em que Bill Condon dirigiria Angelina Jolie) e O Homem Invisível, com Johnny Depp. Daí a realidade bateu forte. A Múmia, lançado em 2017, foi um fracasso tão devastador que o Dark Universe inteiro voltou para o estaleiro. E de lá não saiu.

Elisabeth Moss enfrenta um perseguidor que ela não consegue ver

"O Dark Universe colocaria Drácula e Frankenstein como heróis, como o Capitão América ou Thor", continua Whannell. "Eu lembrei que Drácula é historicamente um vilão. Não tem como Drácula ser um herói! Acho que essa abordagem tirava o que fazia destes personagens tão especiais." O Homem Invisível, lembra, sempre foi um personagem secundário, sempre ficava em segundo plano enquanto outros visualmente mais icônicos ganhavam destaque. "O desafio de tornar um personagem assim genuinamente assustador me deixou intrigado", diz o diretor. "Então, se o Homem invisível é um vilão, eu imaginei que a história tinha de ser contada do ponto de vista da vítima." Tanto o livro de H.G. Wells quanto o filme que James Whale dirigiu em 1933 abordam a jornada do personagem-título, mas Whannell não queria contar a história de um sujeito enlouquecendo: "Para fazer com que a história fosse realmente assustadora, minha ideia era mostrar alguém ameaçado e torturado pelo Homem Invisivel".

Se é nos ombros desse personagem que repousa todo o peso narrativo de O Homem Invisível, Leigh Whannell encontrou em Elisabeth Moss a protagonista perfeita para conduzir a trama. "Eu já era fã de seu trabalho desde Mad Men, e o que ela fez em The Handmaid´s Tale é um absurdo", derrete-se o diretor. A atriz, que este ano já encarou um terror moderno em Nós, de Jason Peele, é Cecilia Kass, uma mulher presa a um relacionamento abusivo. Assim como em Dormindo Com o Inimigo, que Julia Roberts rodou em 1991, Cecilia foge de seu algoz (papel de Oliver Jackson-Cohen, de A Maldição da Residência Hill), só para ser surpreendida com a notícia de seu suicídio. Ela se vê herdeira de milhões de dólares, mas aos poucos percebe que não está sozinha, e que seu perseguidor é alguém invisível. A paranóia aos poucos dá lugar ao mais completo terror, com um predador que não pode ser visto libertando sua fúria assassina.

O diretor Leigh Whannell, felizão no último dia de filmagens

Esse recomeço, claro, joga uma pá de cal no Dark Universe, que deixa como lembrança um filme ruim com Tom Cruise e uma foto reunindo o elenco de filmes que jamais sairão da gaveta. "Meu O Homem Invisível é algo totalmente diferente", ressalta Whannell. "O estúdio, até onde eu sei, abandonou a ideia do universo compartilhado e decidiu dar a cineastas diferentes a oportunidade de reinterpretar seus monstros." Ou seja, melhor nem esperar a sugestão de outras criaturas aparecendo em filmes alheios. "O que os produtores buscam agora são criadores que tenham paixão pelos personagens, por Drácula, pelo Lobisomem, e tragam uma visão única para eles", empolga-se. "Eles me deram total liberdade para tocar minhas ideias e confesso que estou empolgado em ser o primeiro a ser considerado nessa nova fase dos Monstros da Universal."

Vale lembrar que Leigh Whannell não é um estranho quando o assunto é reinventar o terror. Em 2003 ele escreveu e protagonizou o curta metragem Saw, que no ano seguinte foi expandido como o clássico moderno Jogos Mortais. Na primeira década do novo milênio, o estilo de terror de Whannell, materializado com a direção do parceiro James Wan, deu o norte para o gênero, combinando tortura física e psicológica com um roteiro inteligente, culminando em uma das reviravoltas mais fantásticas do gênero no cinema moderno. Como "bônus", a série Jogos Mortais deu aos fãs do gênero um novo ícone, o serial killer perturbado e engenhoso Jigsaw. Com O Homem Invisível, Leigh Whannell tem a chance de deixar sua marca em uma das criaturas mais icônicas da história – e a Universal espera, finalmente, honrar seu legado.

Sobre o autor

Roberto Sadovski é jornalista e crítico de cinema. Por mais de uma década, comandou a revista sobre cinema "SET". Colaborou com a revista inglesa "Empire", além das nacionais "Playboy", "GQ", "Monet", "VIP", "BillBoard", "Lola" e "Contigo". Também dirigiu a redação da revista "Sexy" e escreveu o eBook "Cem Filmes Para Ver e Rever... Sempre".

Sobre o blog

Cinema, entretenimento, cultura pop e bom humor dão o tom deste blog, que traz lançamentos, entrevistas e notícias sob um ponto de vista muito particular.