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Mike Nichols, diretor de A Primeira Noite de Um Homem, morre aos 83 anos

Roberto Sadovski

20/11/2014 20h03

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Quando cobri a junket de Closer, em 2004, conversar com Mike Nichols era mais importante que um papo com Julia Roberts ou Clive Owen. Falar com atores é bacana, mas não é sempre que surge a oportunidade de papear com uma das grandes mentes criativas contemporâneas. E Nichols não desapontou: foi cortês, bem humorado, afiado e generoso. Certamente foi um dos melhores momentos em minha carreira como jornalista de entretenimento. Closer, que completa uma década, tornou-se um clássico moderno, citado em diferentes mídias e relevante na vida que quem foi tocado por sua história.

Mike Nichols foi, acima de tudo, um grande diretor de atores – e um grande cronista do homem comum. Ele tinha a capacidade de enxergar as minúcias que alicerçam um relacionamento, e as fissuras que terminam por alterá-lo. Em suas mãos, o cotidiano se tornava poesia, palavras comuns ganhavam uma melodia diferente. Listar as frases de maior impacto em seus filmes seria um exercício bobo: o melhor é celebrar seu talento e rever a arte que lhe tornou famoso. A começar por Quem Tem Medo de Virginia Woolf?, sua estreia, aos 35 anos, quando teve de comandar Elizabeth Taylor e Richard Burton em cena – e lidar com seu ego gigante atrás das câmeras.

O que veio depois foi uma coleção de grandes filmes, contos e performances. Dustin Hoffman fazendo história em A Primeira Noite de Um Homem. Alan Arkin no complexo Ardil-22. Harrison Ford, Melanie Griffith e Sigourney Weaver em um de seus melhores momentos em Uma Secretária de Futuro. A sensacional refilmagem de A Gaiola das Loucas, com Robin Williams e Gene Hackman. John Travolta fazendo Bill Clinton em Segredos do Poder. Warren Beatty, Jack Nicholson, Christopher Walken, Matthew Broderick, Meryl Streep, Michelle Pfeiffer, Tom Hanks, Philip Seymour Hoffman – grandes atuações em grandes filmes conduzidos por Nichols.

Mike Nichols nasceu em Berlim em 1931 e imigrou para os Estados Unidos aos 7 anos quando sua família fugiu da sombra nazista que tomava a Europa. A predileção pelas artes surgiu ainda quando cursava a Universidade de Chicago, tendo seu início ao se unir a um grupo teatral nos anos 50. Ao lado de Elaine May, lançou três álbuns entre 1959 e 1962 – o de 1960, An Evening With Mike Nichols and Elaine May, ganhou o Grammy de melhor performance em comédia. Sua estante ainda comporta nove Tonys, seis por direção: em 1964 pela montagem de Descalços no Parque, no ano seguinte por The Odd Couple, Plaza Suite (1968), O Prisioneiro da Segunda Avenida (1972), The Real Thing (1984) e A Morte do Caixeiro Viajante em 2012. O Oscar por A Primeira Noite de Um Homem. E dois Emmys, por Uma Lição de Vida (2001) e pela excepcional minissérie Anjos na América (2004). Ele é um entre doze artistas a ser premiado com o troféu mais importante do cinema, teatro, música e televisão.

Casado quatro vezes, Nichols encontrou na apresentadora, jornalista e empresária Diane Sawyer sua alma gêmea, a quem se referia como o grande amor de sua vida. E foi o amor que guiou cada passo de sua careira, que determinou suas escolhas, que é refletido em sua vida. "Não há nada melhor do que descobrir, para seu próprio espanto, o que você nasceu para fazer. É como se apaixonar", disse, certa vez, Nichols. Neste novembro de 2014, aos 83 anos, seu coração decidiu que era hora de repousar. E o cinema se torna um pouco mais cinza.

Sobre o autor

Roberto Sadovski é jornalista e crítico de cinema. Por mais de uma década, comandou a revista sobre cinema "SET". Colaborou com a revista inglesa "Empire", além das nacionais "Playboy", "GQ", "Monet", "VIP", "BillBoard", "Lola" e "Contigo". Também dirigiu a redação da revista "Sexy" e escreveu o eBook "Cem Filmes Para Ver e Rever... Sempre".

Sobre o blog

Cinema, entretenimento, cultura pop e bom humor dão o tom deste blog, que traz lançamentos, entrevistas e notícias sob um ponto de vista muito particular.