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Oscar 2015: quem deve ganhar, quem merece ganhar, que entrou de gaiato...

Roberto Sadovski

22/02/2015 05h18

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O Oscar 2015 acontece nessa noite de domingo, 22 de fevereiro. Muito filme bom, muita caca, você acompanha a festa aqui no UOL com comentários deste que vos escreve + o grande Oscar Filho! Tudo certo? Então tudo certo. Para fechar os preparativos, jogo aqui meus dois centavos nas principais categorias. Não sou oráculo, Oscar é uma mistura de qualidade e política e zeitgeist – tudo pode acontecer! O que você lê a seguir, portanto, é um pouco de pensamento positivo, um pouco de estatística, um pouco de torcida elegante. Contanto que A Teoria de Tudo não ganhe nenhuma estatueta, tá valendo…

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Roteiro original

Estranho ver Foxcatcher nesse meio, já que o livro autobiográfico de Mark Schultz sobre sua vida com o bilionário John du Pont entrou na mistura do texto de E. Max Frye e Dan Futterman. Mas a fábula de guerra desenhada por Wes Anderson e Hugo Guiness em O Grande Hotel Budapeste é mais simpática para a Academia. Ainda assim, nenhum indicado chega perto da tensão e surpresa de O Abutre, escrito por Dan Gilroy

Quem deve levar: O Grande Hotel Budapeste

Quem merece: O Abutre

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Roteiro adaptado

Sniper Americano chega com a força de mais de 300 milhões de dólares nas bilheterias, mas o trabalho de Jason Hall em adaptar o livro do soldado Chris Kyle se perde em meio à polêmica da veracidade da biografia. Paul Thomas Anderson merece aplausos pelo trabalho de deixar o livro de Thomas Pynchon, Vício Inerente, coerente em sua adaptação – mas parece que o amor da Academia por Anderson diminuiu. Seria lindo ver Damien Chazelle levar o careca por Whiplash, que ele adaptou do próprio curta metragem. Mas tudo indica que será o Oscar de consolação para o produtor Harvey Weinstein, maior defensor de O Jogo da Imitação. A Teoria de Tudo? Roteiro quadradão e ginasial? Nam!

Quem deve levar: O Jogo da Imitação

Quem merece: Whiplash

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Filme estrangeiro

Com ao menos três concorrentes de peso, a categoria tem uma leve vantagem em Ida, drama polonês que cobre um período difícil da história: a Europa logo após a Segunda Guerra Mundial, em que culpados ainda eram apontados e as feridas estavam longe de cicatrizar. O russo Leviatã, por sua vez, aponta um "estado das coisas" muito atual no país de Putin, com políticos corruptos em um jogo de poder que esmaga quem é pequeno. Mas não descarte o delicioso Relatos Selvagens, da Argentina, que oferece uma alternativa ao "mundo sombrio" da concorrência e pode surpreender – com mérito.

Quem deve levar: Leviatã

Quem mereceRelatos Selvagens

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Longa de animação

Vai entender, mas o melhor longa de animação do ano não está nem no páreo. É Uma Aventura Lego, que consegue ser divertido, surpreendente e empolgante, mesmo usando como base bloquinhos coloridos que, teoricamente, jamais renderiam um filme. Enfim. A votação parece pender para Como Treinar o Seu Dragão 2, filme simpático e de forma alguma merecedor de um Oscar. Nesse cenário, seria bacana a Academia apostar longe do mainstream: ou em Song of The Sea, ou no belíssimo O Conto da Princesa Kaguya.

Quem deve levar: Como Treinar o Seu Dragão 2

Quem merece: O Conto da Princesa Kaguya

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Atriz coadjuvante

Ver Meryl Streep mais uma vez indicada parece piada, já que nada justifica sua indicação por Caminhos da Floresta. Keira Knightley está cada vez melhor, assim como Emma Stone, mas certamente não é o momento delas. Não seria difícil a Academia laurear Laura Dern, fenomenal em Livre. Mas definitivamente é a vez de Patricia Arquette, que surge como a espinha dorsal de Boyhood e responde pelos melhores momentos de um longa já cheio de grandes momentos.

Quem deve levar: Patricia Arquette, por Boyhood

Quem merece: Patricia Arquette, por Boyhood

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Ator coadjuvante

Obrigado Robert Duvall, Ethan Hawke, Mark Ruffalo e Edward Norton por aparecer na festa – fiquem aí, vai ter bolo! Embora Norton pudesse ter uma lasca de chance em um universo paralelo, esse Oscar é de J.K. Simmons desde sempre.

Quem deve levar: J.K. Simmons, por Whiplash

Quem merece: J.K. Simmons, por Whiplash

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Atriz

Felicity Jones é uma das únicas alegrias em A Teoria de Tudo. Rosamund Pike fez de um papel potencialmente ingrato um daqueles trabalhos que redefine uma carreira em Garota Exemplar. E bem vinda de volta, Reese (Witherspoon, incrível em Livre). Mas o fôlego foi mesmo embora com Julianne Moore, muito além do "filme de doença" em Para Sempre Alice, e com Marion Cotillard, sublime em sua humanidade no incrível Dois Dias, Uma Noite.

Quem deve levar: Julianne Moore, por Para Sempre Alice

Quem merece: Marion Cotillard, por Dois Dias, Uma Noite

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Ator

Vamos combinar uma coisa: o "favorito", Eddie Redmayne, que interpreta Stephen Hawking em A Teoria de Tudo, é um ótimo careteiro. Ele é todo técnica, zero alma, e em nenhum momento do filme deixa transparecer alguma emoção genuína. Mas é o tipo de papel que a Academia gosta de aplaudir vez por outra. Se as estrelas estiverem alinhadas, porém, o moço fica na geladeira até aprender a chorar sem uma deixa. Na real, sua vaga deveria ter sido de David Oyelowo, este sim um grande ator, injetando humanidade a Martin Luther King em Selma. Steve Carrell pode estar assustador em Foxcatcher; Benedict Cumberbatch pode estar emocionante em O Jogo da Imitação; Bradley Cooper com certeza está Bradley Cooper em Sniper Americano (brincadeira, ele é um grande ator em um papel complicado). Mas não tem como o Oscar não ir para as mãos de Michael Keaton. Em Birdman ele faz de  um sujeito complexo, que esconde sua verdadeira natureza atrás de camadas de autopiedade, ego ferido e um desejo incontrolável de provar a si mesmo e ao mundo que ele não é um idiota em um traje de látex. Já disseram por aí que Keaton está interpretando Keaton – uma tremenda bobagem e mais uma prova do quanto seu trabalho em Birdman é invisível e espetacular.

Quem deve levar: Michael Keaton, por Birdman

Quem merece: Michael Keaton, por Birdman

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Diretor

Seria pra lá de estranho Bennett Miller ganhar por Foxcatcher, já que o filme sequer está indicado na categoria principal. E seria uma bela surpresa Wes Anderson ser premiado pr construir um mundo tão delicioso como o de O Grande Hotel Budapeste. Mas aqui a corrida está praticamente definida. Alejandro Iñárritu finalmente fez um filme sem os cacoetes que ele carrega desde Amores Brutos (filme reprisado de forma cada vez pior em 21 Gramas, Babel e Biutiful), e mostra em Birdman um domínio técnico invejável, ao lado de uma habilidade até então insuspeita para contar uma história. A noite, porém, será de Richard Linklater e dos doze anos em que teceu seu Boyhood, sem perder o fio narrativo, com controle total de tom, de interpretações, de texto. O Oscar é dele – ao menos o de melhor direção…

Quem deve levar: Richard Linklater, por Boyhood

Quem merece: Richard Linklater, por Boyhood

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Filme

Eu não entendo por que a Academia insiste em indicar "entre cinco e dez" para seu prêmio máximo. A teoria seria incluir filmes que, embora não tivessem "cara de Oscar", pudessem ganham não só uma chance, mas também o prestígio que a estatueta traz (como aconteceu com Distrito 9, A Origem e Django Livre). Neste ano, porém, os oito indicados são exatamente o tipo de filme que qualquer um esperaria encontrar na festa da Academia. As biografias ainda dominam a cena, com quatro no páreo (A Teoria de Tudo, O Jogo da Imitação, Sniper Americano e Selma). Whiplash, O Grande Hotel Budapeste, Boyhood e Birdman completam o quadro. Em meu mundo perfeito, estes quatro estariam indicados, com O Jogo da Imitação no quinto slot, e pronto. Jamais um filme careta e burocrático como A Teoria de Tudo chegaria perto da lista – mas é um mundo em que O Discurso do Rei, filme do mesmo gabarito, já levou o Oscar. Sniper Americano tem a força das bilheterias, mas a ausência de seu diretor, Clint Eastwood, entre os indicados, mina seu poder de fogo. Selma é a polêmica do ano, um filme de fato relevante (embora historicamente atravessado), que conseguiu uma única outra indicação, em melhor canção ("Glory", que deve levar a estatueta). A briga, portanto, está entre Boyhood e Birdman – o primeiro parece ter perdido seu momento, e o segundo está abocanhando todos os prêmios pela frente. Claro, é mesmo o melhor filme do ano passado. E deve levar o ouro.

Quem deve levar: Birdman

Quem merece: Birdman

E é isso. Esse post perde a validade a partir das 11 da noite de hoje, quando começa o Oscar 2015. Mas a brincadeira é divertida!

Sobre o autor

Roberto Sadovski é jornalista e crítico de cinema. Por mais de uma década, comandou a revista sobre cinema "SET". Colaborou com a revista inglesa "Empire", além das nacionais "Playboy", "GQ", "Monet", "VIP", "BillBoard", "Lola" e "Contigo". Também dirigiu a redação da revista "Sexy" e escreveu o eBook "Cem Filmes Para Ver e Rever... Sempre".

Sobre o blog

Cinema, entretenimento, cultura pop e bom humor dão o tom deste blog, que traz lançamentos, entrevistas e notícias sob um ponto de vista muito particular.