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A batalha que a DC parece estar perdendo para criar seu universo no cinema

Roberto Sadovski

30/04/2015 15h46

BvS posters

Data estelar, 30 de abril de 2015. Bilheteria de Vingadores: Era de Ultron com menos de uma semana em cartaz: 201 milhões de dólares – com a estreia nos States agendada para amanhã. Total embolsado pelo Universo Cinematográfico Marvel até hoje: 7 bilhões de dólares – mais que Harry Potter, Star Wars e James Bond. Não é preciso ser gênio para ver que números assim deixam a concorrência salivando. Em especial a Warner/DC, empresa que tem personagens e mitologia com potencial para rivalizar/ultrapassar a máquina da Marvel. Depois de algumas tentativas frustradas de fazer o carro embalar (Superman – O Retorno, Lanterna Verde), a coisa pegou no tranco com O Homem de Aço, que faturou respeitáveis 670 milhões de dólares em 2013. O próximo na linha de montagem é Batman vs. Superman: A Origem da Justiça, agendado para março do ano que vem. Esquadrão Suicida, Liga da Justiça e uma pá de aventuras-solo de outros heróis vem a seguir. Por que, então, a impressão geral é que a coisa não está suave como deveria ser?

Um artigo no Hollywood Reporter joga luz na estratégia da Warner/DC para fazer seu "universo" funcionar. E o plano parece, para dizer o mínimo, confuso. Um dos pontos é o processo para escolher os roteiristas de Mulher-Maravilha (agendado para junho de 2017) e Aquaman (lançado no ano seguinte). Em vez de entregar o texto a um escritor depois de definir os caminhos e as amarras de personagens diferentes habitando o mesmo universo, o estúdio está chamando de três a cinco roteiristas, pedindo a cada um para desenhar o primeiro ato do filme, escolhendo depois o mais "filmável". É uma competição, não um processo em equipe, e sugere uma falta de visão clara do que o estúdio pretende com seus personagens em um universo unificado. O problema, aparentemente, é a quantidade de cozinheiros na cozinha e a ausência de um chef para controlar o fluxo.

Joker Wonder Woman Aquaman

Na Marvel, quem guia os filmes é o produtor Kevin Feige. Com uma visão cristalina sobre o rumo tanto da narrativa em conjunto, quanto de cada produção individual, Feige apostou em talentos não testados em filmes de grande escala (Joss Whedon, os irmãos Russo, James Gunn) e, após passar o plano de voo, deixou que cada um traçasse seu projeto da melhor maneira. O resultado, crítico e financeiro, é positivo. Não existe na concorrência, porém, quem segure a tocha. O produtor Charles Roven encabeça uma equipe de executivos, de VPs de desenvolvimento da Warner a pessoas-chave da DC Comics – mas ninguém com a palavra final sobre o que é o que. Christopher Nolan, que assinou a trilogia Cavaleiro das Trevas (e assegurou um par de bilhões de dólares aos cofres do estúdio), não tem mais nenhuma relação com seu universo de super-heróis. Zack Snyder, que poderia exercer este papel, está meio que ocupado dirigindo seu Batman vs. Superman para dar um passo atrás e enxergar todo o quadro.

O presidente da Warner, Kevin Tsujihara, ressaltou na última CinemaCon, encontro dos estúdios com exibidores, ocorrido há algumas semanas, que o futuro do estúdio está sendo construido em torno de produtos associado ao ótimo Uma Aventura Lego; à trilogia Fantastic Beasts, da autora de Harry Potter, J.K. Rowling; e aos heróis do Universo DC. Falta, porém, alocar o talento necessário para transformar os personagens na franquia coerente que a Warner (e Wall Street, e a própria Hollywood, apreensiva quando cada estúdio constrói um universo para chamar de seu) espera erguer. Não inspira confiança a dança das cadeiras em Mulher-Maravilha, por exemplo, em que as notórias "diferenças criativas" ejetaram a diretora Michelle MacLaren (Game of Thrones, Breaking Bad), já substituida por Patty Jenkins (Monster). Por outro lado, Esquadrão Suicida, de David Ayer (Corações de Ferro) parece tão absurdo que, no fim, pode funcionar. Claro que é cedo para julgar as decisões da empresa (mesmo com a recepção morna ao teaser de Batman vs. Superman): ao fim, com filmes incríveis e bem sucedidos, o plano pode funcionar. Mas é preciso, em primeiro lugar, que exista um plano.

Sobre o autor

Roberto Sadovski é jornalista e crítico de cinema. Por mais de uma década, comandou a revista sobre cinema "SET". Colaborou com a revista inglesa "Empire", além das nacionais "Playboy", "GQ", "Monet", "VIP", "BillBoard", "Lola" e "Contigo". Também dirigiu a redação da revista "Sexy" e escreveu o eBook "Cem Filmes Para Ver e Rever... Sempre".

Sobre o blog

Cinema, entretenimento, cultura pop e bom humor dão o tom deste blog, que traz lançamentos, entrevistas e notícias sob um ponto de vista muito particular.