Topo

Tom Cruise volta para o futuro em Oblivion

Roberto Sadovski

11/04/2013 06h19

Tom Cruise está fazendo o que Tom Cruise faz melhor. É noite no Rio de Janeiro, a multidão se espreme para ver o astro na pré-estréia da ficção científica Oblivion. E Tom fala com todo mundo. Devagar, distribui autógrafos e sorrisos. Fala com a imprensa. Diz que adora a cidade (e adora mesmo, é sua quarta visita ao Rio, esticada em alguns dias de trabalho tranquilo de frente ao mar de Copacabana). Esquiva-se de programas de TV maletas. E trabalha. Ninguém melhor que Tom Cruise para vender… Tom Cruise!

tom cruise oblivion

Jack Harper (Tom Cruise) admira a paisagem árida da Terra devastada em Oblivion

Mas eu estou me adiantando. Eu já estava escalado para um bate-papo com Tom Cruise no tapete vermelho do filme, longe dos fãs e dos flashes, quando assisti a Oblivion. Em uma palavra? Filmaço! Ficção científica hardcore, cabeçuda, mergulhada em ação. Em seu segundo filme, o diretor Joseph Kosinski (também autor do roteiro, baseado em sua própria graphic novel) repete os acertos e os erros de sua estréia, Tron – O Legado (que melhora a cada revisão). O mundo criado por ele em Oblivion é tão real que assusta – a "bolha aérea" pilotada por Cruise é um triunfo de design. Em Imax a imersão é total. Mas Joe, como seu astro o chama, insiste em um distanciamento desse mundo perfeito com os humanos que o habitam. Estes tentam replicar a perfeição. Mas falta calor. Sobra teoria. Kosinski parece gostar mais do cenário do que das pessoas.

O que, em Oblivion (ou "esquecimento"), é mérito. É o futuro, o mundo lutou contra invasores alienígenas – e perdeu. O que restou da humanidade orbita o planeta em uma gigantesca estação espacial. A Terra, pilhada e coberta dos restos da civilização, está sendo convertido em energia para alimentar a viagem até o novo lar da raça – Titã, uma das luas de Júpiter. Um casal de "zeladores" mantém-se na Terra para proteger as sondas que convertem a energia do oceano dos remanescentes da esquadra invasora. Jack (Cruise) e Victoria (Andrea Riseborough). Eles são um casal. Apaixonados. Eficientes em seu trabalho. Mas tudo parece plástico demais, certinho demais. Daí vem a grande questão de Oblivion: e se tudo que você passou a vida inteira acreditando for mentira? Qual seria, então, o propósito deste mundo? O distanciamento, a desumanização, ajuda a criar empatia pelo mundo tecido por Kosinski em Oblivion. O que torna o impacto das revelações, que começam a surgir quando Morgan Freeman surge e prova que o planeta não está tão abandonado assim, mais acachapante.

freeman oblivion

Ih, Morgan Freeman acendeu o charuto, a coisa agora ficou feia!

"O futuro criado por Joe me deixou intrigado", diz Cruise, com o "sorriso Cruise" estampando o rosto. Para quem já esteve no futuro antes – e pelas mãos seguras de Steven Spielberg em Minority Report, só para ficar em um exemplo -, "intrigado" é uma escolha de palavra interessante. "O futuro que ele construiu é completamete funcional", continua. "As coisas que você em cena tem função prática. É um exercício de futurologia genial, era como se o set fosse um lugar real, onde pessoas comem, dormem, vivem." Essa é, claro, a parte "funcional" do mundo de Oblivion, a torre no céu onde vivem Jack e Victoria. No chão a coisa é diferente, com o planeta destruído por uma guerra secular. "Joe escolheu não usar muitos efeitos digitais", explica Tom, empolgado. "Filmamos na Islândia, então as paisagens devastadas foram construídas em imensas pradarias no meio do nada, pedaços de um passado jogados em meio a um futuro apocalíptico."

Este futuro é ameaçado pelo acaso. Uma nave cai na Terra, nas fronteiras com o naco do planeta contaminado por radiação, e Jack vai em seu encalço. O que ele descobre são humanos congelados criogenicamente – um deles a mulher que assombra seus sonhos. Quando seus próprios drones de defesa explodem as pessoas adormecidas, cade a Jack salvar a sobrevivente (Olga Kurylenko) e abraçar o mistério que corta a Terra devastada. "É um futuro sombrio habitado por um homem comum", ressalta Cruise. "Apesar da tecnologia e da premissa fantástica, Jack ainda é um sujeito comum, um trabalhador não muito diferente do sujeito que eu interpretei em Guerra dos Mundos. Eu gosto desse ponto de vista."

olga oblivion

Olga Kurylenko chega ao futuro para bagunçar o status quo

Curiosamente, Tom Cruise não é o único. Este ano o cinemão traz seus grandes astros arriscando-se mais uma vez no terreno da ficção científica – com uma intensidade há muito não vista. Além de Oblivion, com Cruise, 2013 apresenta Depois da Terra (Will Smith e filho numa Terra futurista devastada), Elysium (Matt Damon e Wagner Moura numa Terra futurista devastada), Guerra Mundial Z (Brad Pitt numa Terra futurista devastada… por zumbis) e Gravity (Sandra Bullock e George Clooney… bom, ainda não sei se a Terra está devastada aí). "O gênero é ótimo para refletir sobre nosso mundo hoje, quem somos e o que queremos como um povo", teoriza o astro. "Mas este ano em particular é como os filmes de John Ford… Uma grande vastidão para ser conquistada. Parece que o cinema está reconquistando esse território fantástico, e é ótimo fazer parte disso."

Mas chega de papo. Os convidados estão no cinema e falta o mestre de cerimônias subir ao palco, preparar a platéia e soltar as rédeas de seu filme. E Tom Cruise, sendo Tom Cruise, faz isso com habilidade de veterano. Genuinamente satisfeito em estar mais uma vez no Brasil (que, por sinal, pode ser palco de um quinto Missão Impossível, já em gestação), o astro faz sua reverência e, num piscar de olhos, some de vista. O futuro, devastado mas esperançoso, está ali, ao alcance da mão.

tom 2 oblivion

Tom Cruise acaba de avistar o sujeito na segunda fila atendendo o telefone celular…

 

Sobre o autor

Roberto Sadovski é jornalista e crítico de cinema. Por mais de uma década, comandou a revista sobre cinema "SET". Colaborou com a revista inglesa "Empire", além das nacionais "Playboy", "GQ", "Monet", "VIP", "BillBoard", "Lola" e "Contigo". Também dirigiu a redação da revista "Sexy" e escreveu o eBook "Cem Filmes Para Ver e Rever... Sempre".

Sobre o blog

Cinema, entretenimento, cultura pop e bom humor dão o tom deste blog, que traz lançamentos, entrevistas e notícias sob um ponto de vista muito particular.