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O Retorno de Jedi faz 30 anos – e merece ser redescoberto

Roberto Sadovski

25/05/2013 03h40

Fãs de Star Wars podem ser muito, mas muito chatos. Veja O Retorno de Jedi, por exemplo. Tanta coisa incrível acontecendo em cena e os "guardiões da Força" encanaram justamente com os Ewoks.. Ok, ok. Trinta anos depois e ainda é um mistério como o Império Galáctico é derrotado com a ajuda de basicamente Ursinhos Carinhosos ripongas. Mas os Ewoks (é para as crianças, ora pois…) nem arranham a reputação desta sólida fantasia espacial que, para todos os efeitos, encerrava a exploração da "galáxia muito distante" tecida por George Lucas. Tudo isso trinta anos antes de o Império – o do lado de cá das telas, é bom ressaltar –, já poderoso, tornar-se este colosso, parte de um conglomerado ainda maior, a Disney. E três décadas antes de seu iminente retorno aos cinemas agendado para 2015.

O Retorno de Jedi teve sabor de despedida. Nos bastidores, porém, o clima era ambíguo, com a celebração de mãos dadas com decisões apressadas, mudanças em cima da hora, birra de astros e uma quase guinada ao cinema de arte… Afinal, David Lynch e David Cronenberg foram considerados para dirigir o fim da saga antes de Lucas escolher Richard Marquand. Habilidoso em lidar com suspense – evidente em seu filme de estréia, o thriller de guerra O Buraco da Agulha, de 1981 –, Marquand uma sensibilidade diferente a Jedi, equilibrando sua visão dramática com o senso de aventura juvenil do chefe (foi do diretor a sugestão de resgatar Yoda para o filme, para deixar clara a verdade na bombástica declaração de Darth Vader na aventura anterior). Lawrence Kasdan, que havia escrito O Império Contra-Ataca e Os Caçadores da Arca Perdida, assumiu o lápis e fez o roteiro. E Han Solo, interpretado pelo maior astro que a saga criou, se sacrificaria no final…

A Milleniun Falcon no centro da batalha climática de O Retorno de Jedi

Pois é, Harrison Ford, que nunca enxergou profundidade em Solo, queria que ele pudesse ter uma morte gloriosa, que salvasse a todos da segunda Estrela da Morte. Mas Lucas achou a idéia péssima – menos pelo personagem em si; mais pelos brinquedos que deixaria de vender do "herói morto". Ford, o único que não tinha contrato para aparecer em uma segunda sequência de Star Wars, quase conseguiu o que queria… Mas, no fim, foi vencido por algum truque mental Jedi.

Quando O Retorno de Jedi estreou nos Estados Unidos em 25 de maior de 1983, a dominação mundial de Star Wars já era completa. Ao contrário do universo sombrio tecido em O Império Contra-Ataca, Jedi foi um filme voltado para a luz. Era onde todo o plot seria amarrado; todos os segredos, revelados. E o Bem triunfaria sobre o Mal. Agora um Jedi completo, Luke Skywalker parte ao resgate de seu amigo Han Solo já na primeira parte do filme. Ele volta a Tatooine, seu planeta natal, e penetra o palácio do horrendo gângster Jabba. Muitas criaturas estranhas enfeitam a cena, como uma versão anabolizada da cantina de Star Wars. Mas o exagero vale a pena, e o resgate termina numa sequência de ação brilhante que dá o tom para o resto do filme.

Ah, e essa parte inicial de Jedi também rendeu esse ícone aí embaixo…

Leia fazendo a festa da molecada de toda uma geração…

Assistindo a Jedi no cinema, eu lembro de já ter esquecido o queixo no chão logo no começo. Minha mente infantil processava vorazmente tudo que veio a seguir. Veja o Imperador na segunda Estrela da Morte! Veja a Aliança Rebelde na lua florestal de Endor! Veja os Ewoks, que adoram C-3PO como a um deus! Veja sequências de efeitos especiais tão avassaladoras que o cinema teve de acelerar mais ainda para alcançar o ritmo cinético do espetáculo criado por Lucas (que dirigiu a segunda unidade do filme e estava sempre no set) e Marquand.

Uma destas cenas em particular é um prodígio que, três décadas depois, não envelheceu nem um segundo. Quando Luke e Leia são obrigados a perseguir soldados do Império em Speeders em meio a uma densa floresta, não precisávamos nem de Imax e nem de 3D para experimentar imersão total. O gênio que bolou parte da cena foi Garrett Brown, inventor da steady cam (aparelho que mantém a estabilidade da câmera mesmo presa a seu operador), que caminhou pelo Parque Nacional Jebediah Smith, na Califórnia, filmando tudo em menos de um frame por segundo. Em operação normal, de 24 frames por segundo, o efeito de velocidade é devastador!

Leia e Luke não aceitam concorrentes…

O Retorno de Jedi (que começou a ser produzido como A Vingança do Jedi, título mudado depois por Lucas sob a alegação que "um Jedi jamais se vinga"), também mostrou a redenção de Anakin Skywalker. Mutilado e corrompido pelo Lado Negro da Força, Anakin, então Darth Vader, é o grande responsável pelo fim do Imperador – ele o mata para salvar seu filho, Luke, que ainda acredita na nobreza do velho cavaleiro. Foi o encerramente da grande ópera de George Lucas, que manteria um legado irretocável até 1999, quando A Ameaça Fantasma deu o pontapé inicial à "nova trilogia" e, de certa forma, deu um tropeção no que até então era uma série espetacular.

Depois de Jedi, o mundo da Força ficou um pouco menos inocente. Richard Marquand morreu aos 49 anos, em 1987, vítima de um derrame e um ataque cardíaco. Com outro grande filme no currículo (o suspense de tribunal O Fio da Suspeita), o diretor viu em Jedi seu maior sucesso. Produzido por então nababescos 32,5 milhões de dólares, O Retorno de Jedi faturou 252,6 milhões só em seu lançamento inicial, liderando as bilheterias em 1983 – e seguido, bem de longe, por Laços de Ternura, Flashdance e Trocando as Bolas. Com relançamentos e a bilheteria mundial, a soma chega a 475,1 milhões. Em 1997, com o lançamento das Edições Especiais da trilogia original, alguns retoques digitais (o Sarlakk que habita o fosso no deserto agora tem bico, o horror, o horror…) e adições na trilha sonora (a música no Palácio de Jabba honestamente não precisava de alterações nem de coreografias…) deixaram os fãs (é, aqueles chatos) em alerta vermelho contra Lucas. Ainda assim, nada que abalasse o coração do filme.

Pai e filho no duelo final de O Retorno de Jedi

A nova trilogia, lançada entre 1999 e 2005, narrou os três primeiros episódios da saga. O Retorno de Jedi, o sexto, seria o final da história – ampliada em livros, games e histórias em quadrinhos como o Universo Expandido de Star Wars. Mas não é o fim. Em 2015, trinta e dois anos depois de Luke Skywalker, Han Solo, a Princesa Leia e a Aliança Rebelde explodirem a segunda Estrela da Morte e decretarem o fim do Império Galáctico, Star Wars: Episódio VII continua a saga de onde ela parou. Com o elenco original em cena. E J.J. Abrams (Star Trek, Lost, Super 8) na direção. E lá estarei eu na fila, exatamente como aquele garoto que só conseguiu assistir a O Retorno de Jedi no cinema em uma matinê de 14 de fevereiro de 1984. Esperando para ser levado de volta àquela galáxia muito distante. Algo me diz que não estarei sozinho…

Sobre o autor

Roberto Sadovski é jornalista e crítico de cinema. Por mais de uma década, comandou a revista sobre cinema "SET". Colaborou com a revista inglesa "Empire", além das nacionais "Playboy", "GQ", "Monet", "VIP", "BillBoard", "Lola" e "Contigo". Também dirigiu a redação da revista "Sexy" e escreveu o eBook "Cem Filmes Para Ver e Rever... Sempre".

Sobre o blog

Cinema, entretenimento, cultura pop e bom humor dão o tom deste blog, que traz lançamentos, entrevistas e notícias sob um ponto de vista muito particular.